Vinícius Caldeira Brant

Por Danilo Lucena Mendes (UFSCar)

Vinícius Caldeira Brant nasceu na cidade de Belo Horizonte (MG) em 23 de março de 1941. Na segunda metade da década de 1950, ingressou na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Minas Gerais. Nessa instituição formou-se em Sociologia e Política. Sua formação também foi atravessada pelas mudanças sociais e pelas movimentações políticas que marcaram o Regime Democrático iniciado em 1945.

Em 1961, Vinícius Caldeira Brant integrou o Movimento Revolucionário Tiradentes vinculado às Ligas Camponesas, a principal associação dos/as trabalhadores/as rurais nessa época. Também foi membro da Juventude Universitária Católica (JUC) por meio da qual integrou o grupo que, em junho de 1962, fundou a Ação Popular (AP), organização vinculada à ala progressista da Igreja Católica no Brasil. Ainda em 1962, tornou-se presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Durante sua presidência, a UNE movimentou-se a favor da Reforma Universitária, das Reformas de Base e, a partir de 1963, integrou a Frente de Mobilização Popular que atuou em defesa do governo do Presidente João Goulart.

Por força do golpe de Estado de 1964, Vinícius Caldeira Brant exilou-se na França. Entre 1964 e 1967, esteve na École Pratique des Hautes Études sob a orientação do sociólogo francês Alain Touraine. No segundo semestre de 1967, Vinícius Caldeira Brant contribuiu com o texto “Bibliographie commentée: Ouvriers et syndicats au Brésil” para a publicação “Classes sociales et pouvoir politique en Amérique latine” da revista Sociologie du Travail. Nesse mesmo ano, retornou para o Brasil e voltou a contribuir com organizações políticas vinculadas à AP. Em 1970, foi preso e torturado por agentes da ditadura. Três anos depois, saiu da prisão e, no ano seguinte, passou a compor a equipe de pesquisadores/as do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

Com a equipe de pesquisadores/as do Cebrap, Vinícius Caldeira Brant coordenou estudos encomendados pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo liderada pelo arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016). Entre 1976 e 1989, foram publicados os seguintes livros: “São Paulo 1975, crescimento e pobreza”, que abordou o tema da desigualdade social como efeito do processo de acumulação capitalista; no segundo estudo, “São Paulo, o povo em movimento”, o objeto de análise são os movimentos sociais pensados em relação ao clássico problema sociológico da mudança social; a derradeira pesquisa da parceira com a Arquidiocese, “São Paulo, trabalhar e viver”, analisou as condições de vida e o cotidiano dos/as trabalhadores/as da metrópole com destaque para a precariedade das relações sociais de produção e reprodução social.

O desenvolvimento do capitalismo agrário foi também um tema dileto de Vinícius Caldeira Brant na sua primeira fase como pesquisador do Cebrap. Nos cadernos e revistas desse centro, publicou um estudo sobre a força de trabalho na agricultura, “Desenvolvimento agrícola e excedentes populacionais na América Latina: notas teóricas” (1975); refletiu sobre a relação entre o exército industrial de reserva e o desenvolvimento capitalista na agricultura, “Do colono ao bóia-fria: transformações na agricultura e constituição do mercado de trabalho na Alta Sorocabana de Assis.” (1976); e, em parceria com seu colega de profissão, o sociólogo Juarez Rubens Brandão Lopes, produziu “Extrativismo e Decadência: Cidade e Campo em Parnaíba.” (1978). Ainda pelo Cebrap, publicou o trabalho “Estrutura agrária e democracia na América Latina” (1978); e o ensaio “Notas sobre as interpretações burocráticas da burocracia ou as artes da tesoura” (1976).

Vinícius Caldeira Brant também integrou o grupo de cientistas sociais reunidos no Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec), criado em 1976. No ano de 1980, participou dos esforços que culminaram com a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). Três anos depois, contribuiu para a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Ainda em 1983, tornou-se presidente da Associação Profissional dos Sociólogos do Estado de São Paulo. Além disso, coordenou uma pesquisa sobre os/as trabalhadores/as da indústria de petróleo da cidade de Paulínia (SP). Esse estudo resultou no livro “Paulínia: petróleo e política.” (1990).

Em 1991, foi aprovado no concurso para professor titular do departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com uma pesquisa que, mais tarde, foi publicada como livro: “O trabalho encarcerado” (1994). Na UFMG, orientou pesquisas na área de sociologia do trabalho. Vinícius Caldeira Brant faleceu no dia 25 de maio de 1999.

Sugestões de obras do autor:

BRANT, V. C. A questão agrária e o momento atual: diferenças de concepção ou de estratégia, Reforma Agrária, jul./ago., Campinas, 1980.

BRANT, V. C. Desenvolvimento agrícola e excedentes populacionais na América Latina: notas teóricas, Estudos CEBRAP, n. 14, São Paulo, 1975.

BRANT, V. C. Do colono ao bóia-fria: transformações na agricultura e constituição do mercado de trabalho na Alta Sorocabana de Assis. Estudos CEBRAP, n. 19, São Paulo, 1976.

BRANT, V. C. Estrutura agrária e democracia na América Latina. Estudos CEBRAP, n. 27, São Paulo, 1978.

BRANT, V. C. Notas sobre as interpretações burocráticas da burocracia ou as artes da tesoura Estudos CEBRAP, n. 17, São Paulo, 1976.

BRANT, V. C. et. al. Paulínia, petróleo e política. Campinas: Sindicato dos Petroleiros de Paulínia e Campinas, Cebrap, 1990.

BRANT, V. C.; LOPES, J. R. B. Extrativismo e Decadência: Cidade e Campo em Parnaíba. CEBRAP: São Paulo, 1978, 176 p.

Sobre o autor:

OLIVEIRA, Francisco de. Inovação, rigor e ascese: entre a vida e a obra de Vinícius Caldeira Brant. Tempo Social, v. 13, n. 1, p. 1-8. https://doi.org/10.1590/S0103-20702001000100001