Por José Vicente Tavares-dos-Santos (UFRGS)
Tom Dwyer (Thomas Patrick Dwyer) nasceu em 1952, em Wellington, Nova Zelândia, de pai irlandês nascido na Nova Zelândia e mãe irlandesa; uma família de seis irmãos, quatro homens e duas irmãs, de classe média, católica. Tinham sofrido discriminação religiosa pois a Irlanda era dividida entre católicos e protestantes, The Troubles. Seu pai trabalhava em uma empresa que recuperava empresas falidas e a mãe era farmacêutica. Wellington era uma cidade pacata, cheia de montanhas, de pleno emprego; o país exportava commodities agrícolas para a Inglaterra, mas quando esta entra no Mercado Comum Europeu há uma crise econômica.
Começou em escola católica aos cinco anos, mas havia estímulo para ler: a mãe lia dicionários e deu-lhe o primeiro livro, de lendas irlandesas. Depois, na escola dos maristas, desde os 12 anos, estudou latim, inglês, francês, e outras matérias. Jogava rugby e surfava. Frequentava a Biblioteca pública lendo jornais, enciclopédias, literatura norte-americana (Hemingway, Herman Melville: Moby Dick). O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien (A Sociedade do Anel, As Duas Torres e O Retorno do Rei) que muito o impressionou. A Irlanda vive a literatura, com Prêmios Nobel de Literatura (Yeats, Samuel Beckett, Bernard Shaw e Seamus Heaney) além de escritores consagrados com Oscar Wilde e James Joyce.
Começou a trabalhar com o pai aos 12 anos. Nas férias, pesquisava informações sobre empresas. Com a família espalhada pelo mundo, começou a viajar: aos três anos foi conhecer a Irlanda, passou pelos Estados Unidos e, em New York, visitou o tio frade.
Na Faculdade, entrou em Administração de Empresas. Nas férias, foi trabalhar na Fábrica da Ford, tinha então 18 anos e participou de uma greve selvagem. Porém, a Administração de Empresas não correspondia ao que estava vivendo, nada na faculdade falava disto! Tinha decidido estudar Sociologia, com professores que considerava maravilhosos: um tinha estudado com Charles Tilly, nos USA, e estudava a China; outro, um inglês, ensinava o interacionismo simbólico. Decidiu fazer Antropologia escrevendo um paper sobre a fábrica e o conflito. Voltou a trabalhar em fábricas, foi lixeiro, trabalhou na construção civil e quase teve um acidente: estava em andaimes suspensos, o chefe pagava mais se enfrentassem o perigo e o vento quase o levou!
Viajou durante três meses, em 1971-1972, trabalhando na Califórnia (EUA), quebrou o braço, mas tinha seguro, foi de carona, encontrou o movimento hippie em Berkeley. Voltou à Califórnia, em 1973, mas muitos tinham se tornado conservadores. Na Irlanda, visitou os familiares foi conhecer a Suécia, depois a União Soviética, Polônia, Alemanha Oriental, o muro de Berlim e a Alemanha Ocidental. Na Universidade, não participava do grêmio estudantil, participou em manifestações contra a guerra no Vietnã, e Apartheid.
Depois que viajou, decidiu que precisava estudar mais. Lia Maurice Godelier, o estruturalismo francês, Levi Strauss, Berger & Luckmann, Alfred Schultz, Daniel Bell, Alain Touraine (La Société post-industrielle); e sobre a China, Japão e os estudos asiáticos na Nova Zelândia. Finalizou a graduação na Victoria University of Wellington, Nova Zelândia, em 1973. Fez a Pós-graduação na Nova Zelândia: um paper sobre a construção civil, adaptando Maurice Godelier. O mestrado foi na Victoria University of Wellington, Nova Zelândia, com Allan Levett, em 1975. Foi a um congresso de Sociologia na Austrália, conheceu R. Connell. Por que não vai para a França, perguntou uma feminista australiana?
Ganhou uma bolsa no Consulado da França: escreveu a Maurice Godelier e a Alain Touraine; este o aceitou para o D.E.A., e o colocou em contato com a CFDT, a central operária. Concluiu o doutorado em 1978, com Alain Touraine, na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris.
Conheceu uma brasileira, na volta para a Nova Zelândia, passou pelo Brasil, em 1978, visitando várias cidades. Touraine lhe indicou Vinicius Caldeira Brandt, Leôncio Martins Rodrigues, Décio Saes, Francisco Weffort, Fernando Henrique Cardoso. Era a época da reconstrução democrática, o início do movimento operário no ABC.
Voltou para Nova Zelândia, conseguiu um emprego na University of Auckland, mas houve o congelamento de contratações nas universidades. Conseguiu emprego como consultor: fundou uma Associação de Pesquisadores em Ciências Sociais, em 1979. Realizou um pós-doutorado na University of Canterbury. Naquela época, a Nova Zelândia era um país sem futuro, muitos jovens indo embora; estava escrevendo sobre desemprego, com muita exposição nos meios de comunicação.
Em 1982, voltou a passar pelo Brasil, indo para a França. Fernando Henrique Cardoso o estimulou, e Tom se deu conta de que poderia trabalhar aqui. Voltou ao Brasil, chegando no final de 1983: um colega de Paris, Armando Boito Junior, disse que havia uma vaga por dois meses na UNICAMP; depois, abriu uma vaga para professor efetivo, em 1984, e foi aprovado. Deu aula com Juarez Brandão Lopes e depois o substituiu, no PPG de Ciências Sociais, aprendeu sobre a Sociologia Industrial e brasileira com Leôncio M. Rodrigues..
Vinicius Caldeira Brandt o convidou para estudar o ABC paulista, 1991. Em 1992, Antônio Luiz Paixão o chamou: queriam que fosse para a UFMG. Foi professor convidado no Conservatoire National des Arts et Métiers, CNAM, França, em 1987; e na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, CEMS/EHESS, França, 2007. Fez pós-doutorado pela Cornell University (1990)
Casou-se em Ouro Preto, em 1996, com uma brasileira, empresária de sucesso. Porém pensou que seria melhor ficar em São Paulo.
Após uma primeira viagem à China, com vários sociólogos brasileiros, em 2004, começou a pesquisar as relações entre a China e o Brasil e trabalhar sobre os países BRICS. Criou o Centro de Estudos Chineses, na UNICAMP e, desde maio de 2019, é diretor brasileiro do CASS-Unicamp Centro de Estudos sobre a China.
Começou sua participação na Sociedade Brasileira de Sociologia, em Brasília, em 1999. Foi Tesoureiro (2001-2003), Vice-presidente (2004-2005) e Presidente (2006-2007; 2008-2009). Enquanto presidente da SBS, teve importante papel na reintrodução da Sociologia no Ensino Médio, tendo idealizado, buscado recursos e realizado o 1° ENESEB (Encontro Nacional de Ensino de Sociologia na Educação Básica) que aconteceu no Rio de Janeiro -antes do congresso da SBS, em 2009.
Tom Dwyer trabalhou sobre várias linhas de pesquisa: sociologia do trabalho e dos acidentes de trabalho; sociedade da informação; e estudos sociológicos das relações Brasil – China.
Em sociologia do trabalho e dos acidentes de trabalho, argumenta que os acidentes de trabalho no mundo contemporâneo ameaçam não apenas trabalhadores, mas também populações e o meio ambiente; e tratou das medidas adotadas, envolvendo legislação e fiscalização, como tentativa de controlar e limitar as consequências de acidentes no trabalho. Sua teoria de prevenção de acidentes de trabalho integra a reflexão sociológica e os resultados de pesquisas sobre acidentes.
Sobre a sociedade da informação, estudou as tecnologias da sociedade de informação, e contribuiu ao desenvolvimento de métodos e técnicas de pesquisa; também estuda como esta sociedade se articula com a vida das pessoas no dia a dia; e o uso das metodologias informacionais.
Nas Investigações sociológicas das relações entre o Brasil e a China, propõe uma sociologia de alcance mundial, para que o Brasil se capacite a enfrentar os desafios de um novo lugar no mundo. As relações com a China passaram a ocupar um lugar central, estudando o papel dos jovens em ambos os países, contribuindo à compreensão de conflitos e oportunidades. O objetivo geral é mobilizar ferramentas teóricas e metodológicas para a compreensão de: a sociologia chinesa no Brasil; a transformação das complexas relações entre o Brasil e a China; os desafios para a comunicação entre as duas culturas; e a compreensão mútua da sociologia da juventude.
A perspectiva sociológica de Tom Dwyer é teoricamente rigorosa, poliglota, empírica, criativa e interdisciplinar: uma sociologia capaz de enfrentar os desafios da compreensão do mundo contemporâneo. Em síntese, a trajetória de Tom Dwyer é a de um sociólogo cosmopolita.
Sugestões de obras do autor:
DWYER, Tom; GORSHKOV, M. K.; MODI, I.; LI, Chunling; MAPAMEDING, S. (Orgs.). Handbook of the Sociology of Youth in BRICS Countries. Cingapura: World Scientific, 2018.
DWYER, Tom; ZEN, E. L.; WELLER, W.; JIU, S.; GUO, K. (Orgs.). Jovens Universitários em um mundo em transformação: uma pesquisa sino-brasileira. Brasília: IPEA, 2016 (Pequim, Social Sciences Academic Press, 2016)
RIBEIRO, G. L.; DWYER, Tom; BORGES, A.; VIOLA, E. (Orgs.). Desafios Sociais, Políticos e Culturais dos BRICS. 1São Paulo: ANPOCS, 2014.
DWYER, Tom. Vida e Morte no Trabalho: acidentes do trabalho e a produção social do erro. Campinas: Editora da UNICAMP, 2006; 2a. ed. 2010.
RUBEM, G.; WAINER, J. e DWYER, T. (Orgs.). Informática, Organizações e Sociedade no Brasil. São Paulo, Cortez. 2003; 2a. edição 2008.