Por Tarcísio Augusto Alves da Silva (UFRPE)
A Sociologia brasileira possui diversas feituras. É um projeto intelectual e político que se desenha pelas contribuições de um número expressivo de homens e mulheres no trabalho daquilo que tem se chamado de pilares do ensino superior no Brasil: ensino, pesquisa e extensão. Nas Universidades públicas uma dimensão pouco expressa destas contribuições está situada nas atividades de gestão e articulação institucional, capazes de promover a manutenção de cursos e da proposição de outros, seja na graduação ou na pós-graduação.
A professora Selma Rodrigues de Oliveira insere-se neste conjunto de iniciativas tendo contribuído, posteriormente, para o trabalho já realizado pelo professor Heraldo Souto Maior, seu antigo professor, de tornar a Sociologia em Pernambuco um projeto possível. Nascida em Garanhuns, Pernambuco, em 1938, deparou-se com as primeiras inquietações sociais, pelo recorte de classe, ao se perceber como oriunda de família produtora de café e dos privilégios daí decorrentes.
O desejo de sua mãe de que se tornasse professora foi retardado o quando pôde. Bacharelou-se em Direito, em 1964, pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), e em Ciências Sociais em 1966, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Já em 1970, foi bolsista, pela Sudene – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, no curso de Especialização em Teoria Sociológica, na mesma universidade onde graduou-se em Ciências Sociais. Concluiu o mestrado em 1978, no Institut de Sciences Politiques de Paris, orientada por Michel Crozier, onde defendeu o estudo: Adaptation d´une entreprise à capital d´Etat à son environnement. Sua dissertação surge das inquietações com o ambiente organizacional das universidades onde lecionava, mas seu trabalho de campo foi realizado em Portugal, por indicação do seu orientador, devido a vigência da ditadura militar no Brasil naquele período.
Foi professora do curso de Serviço Social (UFPE), ministrando aulas também na UNICAP e depois na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), onde ingressou como titular no Departamento de Letras e Ciências Humanas (DLCH), em 1971, sendo a primeira professora de Sociologia Rural desta instituição. No departamento, exerceu a função de diretora dando-lhe condições de atuar para que a sociologia pudesse ser reconhecida em importância dentro de um ambiente inóspito para disciplina em vista da UFRPE ter, naquele momento, uma preponderância da área de ciências agrárias em establishment.
Em seu período de trabalho nas duas universidades (UFPE e UFRPE) desempenhou diversas funções de gestão dos departamentos e cursos onde atuou, o que a conduziu aos estudos de Sociologia das Organizações no mestrado, em Paris, inquietando-se quanto aos conflitos, relações de poder e interesses tensionados naquelas experiências organizacionais. No retorno ao Brasil, foi convidada a reorganizar o extinto mestrado acadêmico de Administração (UFRPE) no qual introduziu disciplinas de Sociologia. Foi coordenadora do então curso de Bacharelado em Ciências Sociais com ênfase em Sociologia Rural, da UFRPE, onde pôde lecionar, introduzindo no currículo daquele curso, a disciplina de sociologia das organizações.
Seus esforços junto ao Ministério da Educação conduziram o reconhecimento do curso, em 1999, e, em 2004 ao seu recredenciamento, momento em que é retirada a ênfase em Sociologia Rural. A professora Selma Rodrigues de Oliveira foi responsável pela introdução ao mundo das técnicas de pesquisa muitos estudantes de Ciências Sociais, na Universidade Federal Rural de Pernambuco, por meio de uma atividade artesanal de incentivo, acompanhamento e desenvolvimento de suas formações.
Sugestões de obras da autora:
OLIVEIRA, Selma. Rodrigues de.; RIOS, Gilvando, S. (Org.) ; NAVAES, Ana. M. (Org.) . Processos de Gestão de políticas publicas. 1. ed. Recife: UFRPe., 1999.
OLIVEIRA, S. R.. Dinâmica associativa em Gravatá – PE. In: XV Encontro Regional da APIPSAr, 1997, Recife. Da Globalização ao regional. Recife: UFRPE., 1997. p. 28-29.