Carmen Lucia Bezerra Machado (UFRGS)
Paulo Albuquerque nasceu em Tapes/RS, num 11 de maio de 1950 e descobre aos sete anos que a mãe, tão falante, é conhecida como “a Mudinha”. O filho junto com a irmã mais jovem crescem, e a linguagem gestual é a primeira forma de comunicação do agora Professor Titular de Sociologia na Faculdade de Educação da UFRGS (2022). Desde o interior gaúcho acessa ao mundo, construindo laços sociológicos. Como aluno do Colégio Júlio de Castilhoso, o Julinho, conclui o curso clássico em 1972, nega a matemática e adere ao fazer da Sociologia um modo de produzir a existência. Conclui a Licenciatura em Estudos Sociais em 1974 e o Bacharelado em Ciências Sociais e,m 1976. Em 1983 conclui o Mestrado em Sociologia da Sociedade Industrial na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e o Doutorado em Sociologia na Université Catholique de Louvain-la-Neuve, Bélgica, em 1995.
As primeiras experienciações no mundo do trabalho se constituem na afirmação da Sociologia como profissão. Foca sua atividades no planejamento e organização de cooperativas habitacionais (1975/1979), na analise dos processos de trabalho, a pesquisa de clima organizacional (1979/1981), a organização e métodos do setor bancário (1981/1982), e na indústria, a organização e gestão de círculos de controle da qualidade (CCQ’s) (1983/1985).
O seu quefazer docente resultou da trajetória na Sociologia e não o inverso. O andarilhar educativo universitário percorre do privado ao público a busca de qual fazer docente é necessário e aprendendo a aprender a ensinar, foi consolidando os conceitos em prática. Leciona de 1986-2004 na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos); 1997-2002 no Centro Universitário La Salle, em Canoas; 2004-2006 na Universidade Católica de Pelotas; em 2006 na Universidade Federal de Pelotas no trânsito para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS onde ainda atua. Aqui dialoga com a formação de pedagogas e pedagogos (FACED) e de pós-graduandes na área da saúde (PPGENSAU-MP/FAMED).
No percurso do ensino, pesquisa e extensão foi desfazendo fronteiras. A docência, iniciada como atividade complementar, torna-se condição para a formação das outras gerações de sociólogos, para além das contribuições às ciências sociais, à atuações no mundo do trabalho, ao chão de fábrica, à educação e à saúde. Participa da criação de vários cursos de pós-graduação latu e strito sensu. Organiza na UNISINOS o Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas, importante por legitimar teoricamente a prática de ação social jesuítica Essa proposta foi desmontada quando a Universidade se converte às práticas neo-liberais, tendo a sétima orientanda do prof.Paulo ver seu orientador demitido. Na Universidade Católica de Pelotas organizou o Mestrado em Política Social. Orientou alunos do Mestrado em Economia Social na Universidad Nacional de General Sarmiento, e ainda atua como professor permanente na Universidad Nacional de Rosario, ambas na Argentina.
O pensamento inquieto e resistente na relação com temáticas emergentes e abordagens privilegiadas não o faz acomodar-se.. No PPGEDU/UFRGS, quatro anos após seu ingresso e tendo orientado uma tese de doutorado e sete dissertações de mestrado, se nega a permanecer no Programa por recusar a política produtivista vigente. Segue na análise direcionada aos temas: trabalho, cooperativismo, associativismo, ensino na saúde, educação social, direitos humanos e extensão universitária. Orienta. O atento extensionista, o criativo sociólogo, no contexto dos espaços do trabalho educativo, encontra pretexto para a construção de textos. Publica 11 livros e mais de 120 artigos ou capítulos de livros, disponíveis no SABI/UFRGS e listados em http://lattes.cnpq.br/8821623190315740).
Por um lado, o Professor Paulo dá conta de exigências administrativas institucionais, criando cursos e publicações como a Revista Saberes Plurais, participando das instâncias universitárias, como a Câmara de Extensão/UFRGS, e conselhos editoriais das revistas Saberes Plurais, Educação na Saúde, Académica PROCOAS-AUGM, Latinoamericana de Estudios Educativos, Estudios Cooperativos.
Por outro lado, materializa um modo de compreender o trabalho como processo social, cuja percepção da realidade é resultado de vivências que produzem sentidos (na perspectiva weberiana) e a construção de um fazer profissional na docência, pois dada a incompletude do conhecimento, exercita a expressão livre do pensar na busca de compreender certas escolhas não fixadas, entendidas na sua historicidade, pois em educação pode-se abstrair da realidade, mas não fazer da realidade uma abstração.
Um ponto de vista não é só a vista de um ponto, mas pontos de vida. As escolhas dos momentos e situações ficam a critério de quem escreve ou relata, mas ao(s) leitor(es) fica (espero) a tarefa de perceber no dito e no silenciado que a docência é um exercício de reconhecimento da alteridade (o outro ou a outra) que não se reduz a racionalidade instrumental que legitima e entende o processo de ensino-aprendizagem (docência) apenas como ato técnico ou mera repetição. Ao contrário, como sujeitos nos construímos. O sempre incompleto processo dialógico se faz no coletivo e anuncia a complexidade do todo (da realidade) em cada ponto de vida.
No avesso do tempo passado em múltiplas orientações e coordenações na gestão do trabalho fabril, sindical e acadêmico, a prática é melhor analisada por quem a pratica como educador e como educando. A mistura intencional de instâncias nos tempos de atuação profissional e no processo de deriva que o conduziu à docência, busca dizer: o fazer docente nunca está, ou esteve, pronto, porque se reconstitui nos espaços educativos formais (da Universidade) e nos não formais.
Como diz o poeta Antônio Machado há dois modos de consciência: uma é luz e outra paciência. E, escreve o professor Paulo: “Se em educação não há gratuidade, ingenuidade, ou inocência, porque são ações que propõem sentidos e tem uma intencionalidade, pode-se dizer que na docência as coisas são o que são, mas não são o que são”. Nas mais de 150 orientações realizadas na vida acadêmica, é na sala de aula, no trabalho coletivo e compartilhado vivido, que Paulo aprende a gostar do que agora entende: a matemática. E, a guisa de considerações finais, mesmo inconclusas, expressas nas palavras do acadêmico de Pedagogia – 2022/2, Lucas Castilhos, o Professor Paulo é mente inquieta em constante construção. As dificuldades em comunicar uma trajetória de trabalho descolada da vida que se apresenta aberta e incompleta deixam ao leitor fazer algumas conexões sobre o solidário e generoso colega, o brilhante sociólogo – professor.
Sugestões de obras do autor:
ALBUQUERQUE, Paulo Peixoto de; PIRES, Thiago Vieira (orgs.). Sociologia da educação: pensamentos inquietos. São Leopoldo: Casa Leiria, 2018.
ALBUQUERQUE, Paulo Peixoto de. Economía social y solidaria: la necesidad de una pedagogía solidaria para contrarrestar la ambigüedad y la incertidumbre económica. In: Areas : Revista Internacional de Ciencias Sociales. Murcia Vol. 39 (2019), p. 45-51.
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ALBUQUERQUE, Paulo Peixoto de. Educação popular e saúde: uma relação necessária? In: Boletim da saúde. Porto Alegre Vol. 25, n. 1 (jan./jun. 2016), p. 51-58.
ALBUQUERQUE, Paulo Peixoto de. Reengenharia : [verbete]. In: Dicionário de trabalho e tecnologia. 2. ed. Porto Alegre: Zouk, 2011. p. 310-315. Redes de cooperação: [verbete]. In: Dicionário de trabalho e tecnologia. 2. ed. Porto Alegre: Zouk, 2011. p. 307-310.
ALBUQUERQUE, Paulo Peixoto de. Informe diagnóstico nacional de Brasil. In: Monzón, José Luis (Org.). Economía social y su impacto en la generación de empleo: claves para un desarrollo con equidad en América Latina. Madri: FUNDIBES, 2010. P.109-164.
ALBUQUERQUE, Paulo Peixoto de. Autogestión : por una pedagogia política de la precariedad!. In: Revista estudios cooperativos, Montevideo, 2008. Vol. 13, n.1 (dic. 2008), p. 16-27.