Paulo Décio de Arruda Mello

Por Ruth Vasconcelos Lopes Ferreira (UFAL)

Paulo Décio de Arruda Mello nasceu em São Paulo, no dia 11 de junho de 1953, e iniciou a sua vida acadêmica e profissional na cidade do Rio de Janeiro, que conheceu aos 17 anos por ocasião de um carnaval. Encantado com o lugar, pediu ao pai para concluir o terceiro ano científico em terras cariocas. Já no Rio, cursou Bacharelado e Licenciatura em Ciências Sociais, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), no período de 1970 a 1975. Ainda como estudante de graduação, em 1972, trabalhou como jornalista na sucursal cariosa de O Estado de São Paulo. Em 1974 e 1975, foi estagiário no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas, onde obteve sua primeira experiência de pesquisador. Já formado em Ciências Sociais, foi assessor técnico na Escola Nacional de Serviços Urbanos (ENSUR), do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM) e Sociólogo do Centro de Desenvolvimento Pessoal do Banco da Previdência, em 1977 e 1978. Ainda no Rio, foi professor celetista de Sociologia e História do Brasil, em estabelecimentos regulares de ensino e em cursos livres, no período de 1973 a 1975.

Em 1976, ganhou do pai uma viagem para conhecer o Nordeste; momento em que passou uma semana em Maceió e, mais uma vez, decidiu fazer mudanças em sua vida nutrindo o sonho de morar nesta cidade. Este sonho se concretizou em 1978, quando aceitou o convite do sociólogo Victor Leonardi para assumir a Coordenação de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, da Secretaria Estadual de Planejamento (SEPLAN). Neste cargo, desenvolveu vários estudos sobre os setores econômicos do estado, particularmente, o setor agroindustrial e sucroalcooleiro. Já atuando na SEPLAN, participou da execução do Projeto de Levantamento Ecológico Cultural da Região das Lagoas Mandaú e Manguaba – PLEC, juntamente com uma equipe de pesquisadores arregimentados como quadros de estado para realização de diagnósticos e estudos prospectivos sobre impactos sociais e econômicos advindos da crise do setor sucro-alcooleiro. Esse investimento estatal visava identificar alternativas econômicas à cultura canavieira em declínio. Também exerceu a função de secretário Executivo do Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia, ligado ao SNCT/CNPq e, participou da elaboração do 1º Plano Estadual de Ciência e Tecnologia, do 1º Plano de Mapeamento e Ação Cultural do Estado de Alagoas, realizado através da SECULT e do Minc (Ministério da Cultura). Neste contexto, também foi assessor da SUDEPE/AL para ações destinadas a promover a organização social de pescadores artesanais.

Foi concursado e contratado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), em 1983, como professor do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CHLA). Neste mesmo ano concluiu o Mestrado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, no Programa de Pós-Graduação do Centro de Pesquisa em Desenvolvimento Agrário (CPDA), pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Sua dissertação desenvolveu o tema “Alagoas: sindicatos rurais e dominação”, sob a orientação de Leonilde Sérvolo de Medeiros. Neste trabalho, estudou o desenvolvimento do sindicalismo rural em Alagoas, e problematizou a atuação das forças políticas locais, vinculadas ao capital sucroalcooleiro, que criavam obstáculos à autonomia das entidades representativas dos trabalhadores rurais.

Como professor, destacou-se pelo seu envolvimento no processo de institucionalização das Ciências Sociais na UFAL e, por conseguinte, em Alagoas. Primeiramente, colaborou na elaboração do projeto de Graduação em Ciências Sociais, que foi aprovado no MEC em 1994; depois, integrou a equipe que formulou o projeto de Mestrado em Sociologia, que foi aprovado pela CAPES, em 2002. E, por fim, foi protagonista do movimento que resultou na criação do Instituto de Ciências Sociais (ICS), que proporcionou a consolidação desta área de estudos na UFAL, demarcando uma identidade e autonomia, que sempre esteve à sombra de outras áreas afins. Paulo Décio foi o primeiro Diretor da Unidade Acadêmica do Instituto de Ciências Sociais, de 2007 a 2011, criado a partir do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), no ano de 2007.

Em 2002, realizou o doutorado em Sociologia, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), desenvolvendo o tema “Reestruturação produtiva na atividade canavieira: ação sindical e dos movimentos sociais rurais em Alagoas, a partir de 1985”, sob a orientação de José Carlos Vieira Wanderley e co-orientação de Maria Nazareth Baudel Wanderley. Sua tese estudou os impactos dos novos paradigmas produtivos empregados na agroindústria alagoana, e suas implicações no desempenho de entidades sindicais e movimentos sociais rurais no Estado.

A adesão de Paulo Décio à temática da Sociologia Rural e Desenvolvimento Agrário está registrada em todo o seu percurso e formação acadêmica. Manteve-se vinculado à rede nacional de pesquisadores no campo de estudos rurais, fazendo trocas permanentes com vários profissionais gravitando em torno de personagens referenciais nessa temática, a exemplo de Beatriz Herédia (CPDA/UFRRJ) e Moacir Palmeira (Museu Nacional-UFRJ), mesmo estando distante do eixo Rio-São Paulo que, então, hegemonizava as pesquisas na área. Participou de vários encontros da ANPOCS e da SBS, com apresentação de trabalhos circunscritos nesta área de interesse e, na condição de Diretor do Instituto de Ciências Sociais, viabilizou a realização do 13º Encontro de Ciências Sociais Norte-Nordeste (CISO), na cidade de Maceió, com a participação de mais de 1.200 pesquisadores inscritos de todo o Brasil, no ano de 2007.

Em 2004, criou o Grupo de Pesquisa “Políticas Públicas e Movimentos Sociais”, vinculado ao CNPq, através do qual produziu muitas pesquisas e realizou orientações de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), PIBIC, Extensão e Mestrado com temáticas relacionadas à vida no campo, relações de poder, representação política na zona canavieira, movimentos sociais, conflitos sociais urbanos, reforma agrária, assentamentos rurais, desenvolvimento rural, trabalhadores canavieiros e trabalhadores artesanais da pesca, política cultural e meio ambiente.

Além do Programa de Pós-graduação em Sociologia, integrou o corpo docente do Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, vinculado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da UFAL, ministrando disciplinas sobre Políticas Públicas, Sociedade Civil, Poder público e Movimentos sociais. Também desenvolveu atividades de Extensão Universitária, destacando-se dois projetos: em 2001, “Incubação de Cooperação popular”; e, em 2010, “Desenvolvimento territorial e gestão estratégica”.

Paulo Décio teve uma vasta atuação em Conselhos representativos e instâncias administrativas da UFAL: Diretor do Instituto de Ciências Sociais (2007-2011); Colegiado do Curso de Mestrado (2002-2008); Conselho Estadual de Desenvolvimento da Agricultura Familiar e Reforma Agrária (2003); Comissão de Combate à discriminação racial no país (2002); Coordenador do Núcleo de Reflexão Agrária – NURA, (1999-2004); Coordenador de Extensão Universitária (2001); Comitê Assessor de Extensão (2001); Conselho Editorial da Revista Estudos, do Departamento de Ciências Sociais (1995); Chefe do Departamento de Ciências Sociais (2002-2004); Membro do Conselho Editorial da Revista Latitude, do Mestrado em Sociologia/UFAL (2003-2008); Consultor do Projeto de Revitalização do Baixo São Francisco (2002-2003); Coordenador da UNITRABALHO (1995-1997); Coordenador do Núcleo de Políticas Públicas e Poder Local (1994-1996); Vice coordenador do Curso de Especialização em Ciências Sociais (1990-1996).

Não poderia concluir essa bionota sem mencionar que Paulo Décio foi um homem gentil e solidário, além de grande envergadura intelectual. Seu amor pela boemia e pelos livros, o fez um sujeito bastante diferenciado. Inesquecível também o seu humor refinado e irreverente. Paulo Décio nos deixou de forma trágica, repentina e inusitada, no dia 09 de março de 2013.

Sugestões de obras do autor:

MELLO, P. D. A.; CANDEIAS, C. N. B.; LYRA, E. S. S. ; ALENCAR, J. M. A. ; MELO, M. J. . Assentamentos de Reforma Agrária no contexto da Extensão Universitária. In: VI Congresso Ibero-americano de Extensão, Anais, 2001, São Paulo.

MELLO, P. D. A.. Novas formas associativas e poder local: impasses e desafios na Serra da Canastra em Alagoas. In: XI Congresso Brasileiro de Sociologia, 2003, Campinas. In: Sociologia e Conhecimento: Além das Fronteiras (programação e resumos). São Paulo: Sociedade Brasileira de Sociologia, 2003.

MELLO, P. D. A. O Baixo São Francisco diante de novos arranjos políticos e institucionais. In: Antônio Fernando de Araújo Sá; Vanessa Maria Brasil. (Org.). Rio sem História ? Leituras sobre o Rio São Francisco. Aracajú: FAPESE, 2005, v. 1, p. 213-220.

MELLO, P. D. A.. Sustentabilidade de assentamentos rurais de reforma agrária em antigas áreas canavieiras no Estado de Alagoas. In: VII Congresso Latino-americano de Sociologia Rural, 2006, Quito. Anais do VII Congresso Latino-americano de Sociologia Rural. Quito: Alasru, 2006. v. único. p. 176-177.

MELLO, P.D.A, FREITAS, G. e ALMEIDA, R. de O. (Orgs). Organizações Policiais em Revista. Projeto de Pesquisa: Expansões culturais da polícia: conflitos, crenças e relações interpessoais. Fortaleza, CE: Universidade Federal do Ceará/FINCAP/CNPq-Pronex. Campinas, SP: Editora Pontes, 2009.