Por Gustavo Takeschi Taniguti(USP )
e Murilo Marschner (USP)
A socióloga Nadya Araújo Guimarães nasceu em Salvador, Bahia, no dia 11 de dezembro de 1949. Ao iniciar o ginásio, ingressou no Colégio de Aplicação, ligado à Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia. Seu interesse pela área de Humanidades a levou a frequentar simultaneamente os cursos de História e Ciências Sociais na Universidade de Brasília, entre 1968 e 1971, onde concluiu sua graduação, com habilitação em Sociologia. No ambiente universitário, teve contato com importantes nomes das Ciências Sociais brasileiras, como Barbara Freitag, Roque de Barros Laraia, Roberto Cardoso de Oliveira e Glaucio Ary Dillon Soares.
Em 1971, Nadya tornou-se docente do Departamento de Ciências Sociais da UnB, atividade que exercia junto ao curso de Mestrado em Sociologia, concluído em 1974 sob orientação de Barbara Freitag. Um ano antes, em 1973, retornou à Bahia e ingressou no Departamento de Sociologia da Universidade Federal da Bahia, onde foi docente até 1996.
Nadya defendeu sua tese de doutoramento em 1983, pela Facultad de Ciencias Politicas e Sociales da Universidad Nacional Autónoma de México, sob orientação de Ruy Mauro Marini. Sua tese evidenciou a existência de formas de ação política organizada e contestatória de frações da chamada “reserva da força de trabalho”. O trabalho de campo foi realizado no Brasil, em Pernambuco, com apoio obtido junto ao PISPAL (Programa de Investigaciones Sociales sobre Población em América Latina). À época, o México abrigava importantes pensadores latino-americanos, exilados de seus países em decorrência da repressão política.
Entre fins dos anos 1970 e início dos anos 1990, Nadya integrou o Centro de Recursos Humanos (CRH), órgão de pesquisa ligado à Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA. Assumiu a direção do CRH em 1985 onde idealizou a série Cadernos CRH, que tempos depois se tornou renomado periódico do qual foi sua primeira editora, até 1991. Seu trabalho de pesquisa junto à indústria petroquímica baiana evidenciava a transformação das feições e dos sentidos do trabalho nos anos 1970 e 1980, período marcado por mudanças significativas na estruturação do mercado de trabalho e nas relações profissionais. Seus estudos trouxeram grandes avanços teóricos, analíticos e empíricos para o conhecimento sociológico brasileiro, em particular no campo dos estudos sobre o trabalho.
Em 1993, interessada nos temas da reestruturação produtiva, seletividade e qualificação, realizou seu pós-doutoramento, o que incluiu atividades de pesquisa no Massachusetts Institute of Technology e no CEBRAP, onde foi convidada a estabelecer uma linha de pesquisa em “Estudos do Trabalho”. Desde 1999, Nadya é docente do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, onde ocupa a posição de Professora Titular. Também é Pesquisadora I-A do CNPq e pesquisadora associada ao CEBRAP, onde atuou em conjunto diverso de projetos nacionais e internacionais desde 1996.
A contribuição de Nadya Araújo Guimarães à sociologia brasileira se evidencia por múltiplas formas, sempre acompanhadas pela ímpar dedicação à docência e à pesquisa. Seu profissionalismo e rigor científico, amplamente reconhecidos, foram decisivos para a formação de gerações de pesquisadores e pesquisadoras atuantes no Brasil e no exterior. Também ganharam expressão em sólidas e inovadoras interpretações a respeito das dinâmicas sociais decorrentes da troca entre capital e trabalho, posicionadas em favor de análises mais vigorosas das situações dos indivíduos em sua relação com o mercado. Entre os principais temas de pesquisa desenvolvidos por Nadya ao longo de sua carreira acadêmica, destacam-se: reestruturação produtiva, seletividade e qualificação, desigualdades raciais e de gênero no mercado de trabalho, desemprego, procura de trabalho, trânsito e trajetórias no mercado de trabalho.
Suas atividades acadêmicas também incluem períodos como professora visitante na universidade de Princeton, pelo programa em Latin American Studies (2007-2008), como professora visitante na Universidade de Illinois at Urbana-Champaign, como Distinguished Lemann Professor (2018) e como professora visitante na École des Hautes Études en Sciences Sociales (2019); e como pesquisadora associada ao Institute for Employment Research da University of Warwick, ao Institut de Recherche pour le Développement (1989-1991) e ao Centre of Latin American Studies da Universidade de Cambridge, Inglaterra (2016/2017). Tal circulação reafirma a importância do caráter internacionalizado de sua produção, também reconhecido nacionalmente com sua indicação a membro titular da Academia Brasileira de Ciências, em 2016.
Sugestões de obras da autora:
ARAUJO GUIMARÃES, N.; HIRATA, H. (Org.) . Care and Care Workers. A Latin American Perspective. 1. ed. Cham, Swuitzerland: Springer Nature Switzerland, 2021. v. 1. 246p .
DEMAZIERE, D. ; GUIMARÃES, N. A. ; HIRATA, H. ; SUGITA, K. . Être Chômeur à Paris, São Paulo, Tokyo. Une méthode de comparaison internationale. 1a. ed. Paris: Presses de Sciences Po, 2013. v. 1. 320p .
GUIMARÃES, N. A.. Desemprego, uma construção social. São Paulo, Paris, Tóquio. 1a. ed. Belo Horizonte: Editora Argvmentvn, 2009.
GUIMARÃES, N. A.. À Procura de Trabalho. Instituições do Mercado e Redes. Belo Horizonte: Argvmentvn, 2009. 221p.
GUIMARÃES, N. A. Caminhos Cruzados: Estratégias de Empresas e Trajetórias de Trabalhadores. 1. ed. São Paulo: Editora 34, 2004. v. 1000. 405p.
CASTRO, N. A.. A Máquina e O Equilibrista – Inovações na Indústria Automobilística Brasileira. São Paulo: Paz e Terra, 1995. 430p.
AGIER, M. ; GUIMARÃES, A. S. ; CASTRO, N. A. . Imagens e Identidades do Trabalho. 1. ed. São Paulo: Hucitec/Orstom, 1995. 186p.