Por Amurabi de Oliveira(UFSC)
Maria Ligia de Oliveira Barbosa nasceu em Uberaba em 28 de maio de 1956, em uma família que valorizava o processo educacional, de modo que cresceu ouvindo histórias sobre a importância de “fazer uma faculdade”. Em 1974 ela ingressou no curso de ciências sociais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tendo se graduado em 1977. Este período foi marcado por uma intensa expansão das universidades federais no Brasil, como reflexo do contexto inaugurado pela Reforma Universitária de 1968, de modo que houve a abertura de novos postos de trabalho docente, especialmente no chamado ciclo básico. Desse modo, Maria Ligia ingressou ainda em 1978 como professora de sociologia na UFMG.
Apesar da forte influência do marxismo naquele período nas ciências sociais brasileiras, ela também teve um contato intenso com outros autores. Quando uma colega sua responsável pela disciplina que concentrava os estudos sobre Max Weber foi indicada como diretora da Faculdade, Maria Ligia tornou-se responsável por esta disciplina, aprofundando suas leituras sobre este autor, e aproximando-se ainda nos anos seguintes das obras de Pierre Bourdieu, Alain Touraine e Émile Durkheim.
Seu interesse pelo objeto educacional, e especialmente pelo ensino superior, emergiu através de uma colega que a inseriu no trabalho acadêmico e na carreira de pesquisador do CNPq, bem como devido ao fato de realizar estudos sobre desigualdade social e do papel desempenhado pela educação na sua construção. Alguns anos depois, ela ingressou no mestrado em educação na UFMG, tendo sido orientada pelo cientista social Miguel Gonzalez Arroyo, defendendo em 1983 a dissertação “O assalariamento do trabalho intelectual e a crise da universidade”.
Em 1986 ingressou no doutorado em Ciências Sociais da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), tendo defendido em 1993 a tese “Reconstruindo as minas e planejando as gerais: os engenheiros e a construção dos grupos sociais”, supervisionada neste trabalho por Vilma Evangelista Faria. Este trabalho demarca sua aproximação com outro tópico profundamente relevante em sua carreira: a sociologia das profissões.
Na década de 1990 publicou juntamente com Tânia Quintaneiro e Márcia Gardênia Monteiro Oliveira “Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber” (1995), livro que vem sendo reeditado ao longo dos anos e se tornou uma importante referência nos cursos de graduação em ciências sociais, e em cursos introdutórios de sociologia para outras formações.
Atuou na UFMG até 1999, ano no qual passou a integrar os quadros da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde fundou o Laboratório de Pesquisa em Ensino Superior (LAPES). Além de ter se consolidado como um dos principais nomes da sociologia da educação no Brasil, Maria Ligia também realizou uma intensa inserção internacional, realizando estágios pós-doutorais na Universidade de Bordeaux e no Instituto de Pesquisas em Economia e Sociologia da Educação na França, além do mais, foi Vice-Presidente para América Latina do Comitê de Pesquisa de Sociologia da Educação da ISA (International Sociological Association) nos períodos de 2010-2014 e de 2014-2018.
Suas pesquisas sobre desigualdade e educação ao mesmo tempo em que dão continuidade a uma agenda clássica na sociologia da educação, também trouxe novos elementos que possibilitaram o questionamento do que muitos denominam de “pessimismo sociológico”, apontando para resultados que indicam que “boas escolas” e “bons professores” impactam de forma decisiva nos destinos escolares. Seguindo ainda na esteira de um dos debates centrais no caso brasileiro, ela também tem chamado a atenção em suas pesquisas sobre como a questão racial incide sobre esta relação entre desigualdade e desempenho escolar.
Ela tem sido um dos principais agentes na consolidação no Brasil do campo da sociologia do ensino superior, voltando-se para a análise de seu processo de expansão, e mais recentemente para sua internacionalização. Neste sentido, ela tem ocupado um papel de agente ativo no fomento deste debate em diferentes fóruns, não apenas através da publicação de livros, capítulos de livros e artigos, como também na organização de atividades em eventos relevantes, como o Congresso Brasileiro de Sociologia e o encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS).
Além de sua destacada atuação como professora, especialmente junto ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ, ao qual continuou vinculada após sua aposentadoria, Maria Ligia também foi vice-presidente da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) entre 2015 e 2017, além de ser atualmente pesquisadora nível 1A do CNPq.
Sugestões de obras da autora:
BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira. As profissões no Brasil e sua sociologia. Dados, v. 46, p. 593-607, 2003.
BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira. Desigualdade e desempenho: uma introdução à sociologia da escola brasileira. Argumentum, 2009.
BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira. Destinos, escolhas e a democratização do ensino superior. Política & Sociedade, v. 14, n. 31, p. 256-282, 2015.
PRATES, Antonio Augusto Pereira; BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira. A expansão e as possibilidades de democratização do ensino superior no Brasil. Caderno crh, v. 28, p. 327-340, 2015.
BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira (Org). A expansão desigual do ensino superior no Brasil. Editora Appris, 2020.
Sobre a autora:
CANEDO, Maria Luiza; XAVIER, Alíce. Entrevista com Maria Ligia Barbosa. Revista Luso-Brasileira de Sociologia da Educação, v. 3, n. 5, p. 90-96, 2012.