Por Silvana Cóser (UFMG)
Maria Celina Pinto Albano, mais conhecida como Celina Albano, é natural de Belo Horizonte onde nasceu em 1944. Graduou-se em Sociologia e Política, em 1967, quando o curso ainda funcionava junto à Faculdade de Ciências Econômicas, no centro de Belo Horizonte. Possui Doutorado em Sociologia pela University of Manchester, Inglaterra (1980). Sua área de conhecimento é Sociologia, com ênfase em Teoria Sociológica, Sociologia Urbana, Sociologia Política e Sociologia da Cultura.
Celina Albano tem a marca da ousadia. Entrou como professora na UFMG em 1970, foi a primeira mulher a ocupar a direção da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, a nossa querida e rebelde Fafich, além de ter coordenado o curso de graduação em Ciências Sociais e também o Curso de Mestrado em Sociologia. Não se deixou capturar por um único aspecto da Sociologia e trabalhou principalmente no campo das políticas culturais, como políticas públicas.
Leitora voraz e cinéfila, foi crítica de cinema e aproximou-se das políticas culturais. Ao retornar ao Brasil, após o doutorado, o ambiente por aqui fervilhava com o movimento feminista e o Quem Ama Não Mata. Celina juntou-se ao grupo de jornalistas que encabeçava o movimento e participou ativamente de toda a mobilização que vivia a sociedade brasileira, em particular a belo-horizontina, tornando-se uma referência dessa luta e desse movimento.
Como desdobramento desse engajamento e protagonismo, foi convidada a participar do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, em plena Constituinte de 1988, integrando o Lobby do Baton e contribuindo para a articulação dos avanços obtidos na constituição no que respeita aos direitos das mulheres.
Após a passagem por Brasília, exerceu o cargo de secretária de estado da cultura no governo Hélio Garcia, sendo a primeira gestora a permanecer à frente da SECMG por um mandato completo, quatro anos. Posteriormente, voltaria a atuar nas políticas públicas na área cultural, ocupando a Secretaria de Cultura de Belo Horizonte no governo Célio de Castro e, na sequência, a presidência da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte. Durante esse período, importantes iniciativas foram tomadas, entre elas a formulação do projeto Bolsa Pampulha, do Museu de Arte da Pampulha, projeto pioneiro e inovador que fez escola, sendo seguido por várias iniciativas similares em outras instituições.
Na academia orientou muitos trabalhos envolvendo a temática das mulheres e também das políticas culturais. Depois, voltou-se ao trabalho de consultoria na área de programas sociais, tendo sido consultora externa do Banco Mundial (BIRD) para programas e projetos nas áreas de Educação, Patrimônio, Cultura e Meio Ambiente (Honduras), no período de 1995-2003. Prestes a se aposentar da UFMG, enveredou pelos estudos no campo do turismo, tendo realizado várias consultorias na área, incluindo oficinas interpretativas de patrimônio, e se responsabilizando pela elaboração dos projetos de implantação do curso de turismo na UFMG e PUC Minas.
Suas publicações refletem essa trajetória diferenciada e sempre pronta a abrir novas frentes de atuação. Uma profissional de grande criatividade e olhar arguto. Influenciou muitas gerações e é uma referência no campo da sociologia da cultura e dos estudos feministas.
É autora do volume sobre o Cine Pathé da coleção A Cidade de Cada Um, onde reafirma sua ligação com o cinema e com a cultura. Foi convidada para redigir o volume por sua dupla condição de socióloga e personagem da história desse cinema, que é também parte de sua própria história, como moradora que era da região da Savassi.
O Pathé, ícone da intelectualidade local, se firmou por uma personalidade engajada, estética e ideologicamente construída, sobretudo nos anos 1960. “Foi um grupo de críticos do Centro de Estudos Cinematográficos (CEC, do qual Celina fazia parte) que transformou o Pathé num “cinema de arte” no final dos anos 1960”, conta Celina, que na época tornou-se crítica de cinema no “Estado de Minas”.
“Foi o Pathé que abriu as portas para o cinema europeu, para a Nouvelle Vague, o cinema italiano, Antonioni.” Depois que o Cine Pathé foi fechado, o número 315 da avenida Cristóvão Colombo foi transformado “em um nada” para lástima da cidade que perdeu praticamente todos os seus cinemas de rua e um ícone de sua identidade.
Mesmo afastada da boca de cena, Celina permanece conectada ao ar de seu tempo e uma observadora atenta às mudanças e movimentações atuais por que passa a sociedade atual.
Sugestões de obras da autora:
ALBANO, M. C. P. As Pontes de Cantaria da Estrada Real: Recuperação de Patrimônio. Ouro Preto: Fundação Educativa Ouro Preto – FEOP, 2009.
ALBANO, M. C. P. Cine Pathé. Belo Horizonte: Editora Conceito, 2008.
ALBANO, M. C. P. MURTA, S. M. Interpretar o Patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
ALBANO, M. C. P. Cultura e cidadania: diretrizes para uma gestão plural. Revista Pensar BH, v. 1, p. 6-9, 2001.
ALBANO, M. C. P. A unidade na diversidade: a regionalização da cultura em Minas Gerais. Revista do Legislativo, v. 6, p. 7-11, 1994.
ALBANO, M. C. P. Entre os limites do passado e as demandas do futuro: uma análise da cidade história de Ouro Preto, Minas Gerais. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo (PUCMG), v. 2, p. 87-114, 1994.
ALBANO, M. C. P.; VEIGA, L.; SOMARRIBA, M.; BARBOSA, M. L. UFMG – Trajetória de Um Projeto Modernizante. REVISTA DO DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA – UFMG, v. 32, p. 1-22, 1987.