Maria Celeste Magalhães Cordeiro

Por João Paulo Bandeira de Souza (IFCE)

Uma leitora ávida e voraz, como ela mesma se define, Maria Celeste Magalhães Cordeiro cultiva desde a infância um profundo amor e fascinação pelo conhecimento; pelas leituras, histórias, palavras; pelos conceitos e suas interações com o modo como a ajudavam a compreender a vida e se indignar com as questões sociais e políticas de seu tempo.

Quando menina sua habitual brincadeira de ensinar às suas bonecas aquilo que aprendia nos fascículos da revista Conhecer e nas Enciclopédias de sua casa, rendeu-lhe o carinhoso apelido de “professorinha”, uma profecia realizada em princípio às apalpadelas e depois como uma forma de existir pela vida adentro, de quem fez dos livros os brinquedos preferidos, refúgios seguros, portas para o mundo, caminhos para os outros e instrumentos de trabalho.

A terceira de quatro irmãs logo passou a ler os livros que as mais adiantadas traziam da escola e depois tudo aquilo que podia acessar naquela Belém do Pará dos anos 1960, onde nasceu em 24 de julho de 1955. Na adolescência ganhou maratonas intelectuais, concursos de redação, se destacando entre amigos e professores pela redação primorosa, opiniões firmes e diversificado conhecimento. Estudou no Instituto São Vicente de Paula, escola primária, e depois no Colégio Gentil Bitencourt, onde optou pelo curso Clássico, quando participou do movimento estudantil. Nesse tempo ao lado da leitura surgia também uma paixão por outra forma de contar histórias que acompanharia e influenciaria sua vida privada e profissional: o cinema e suas narrativas.

No final da adolescência sonhara em prestar vestibular para o curso de Psicologia, mas como não havia o curso em Belém no início dos anos 1970, acabou optando por ingressar no Bacharelado em Ciências Sociais na UFPA em 1973. Durante este período experimentou diversas ocupações paralelas: funcionária pública aprovada em concurso do DASP, lotada na polícia Federal (onde permaneceu por poucos meses, pedindo exoneração), foi repórter foca no jornal O Liberal e teve seus primeiros contatos com a sala de aula ao substituir uma colega no Colégio Santo Antônio, experiência que lhe reacendeu o interesse pelo ensino. Em 1976 concluiu o curso de Ciências Sociais e depois de uma viagem à Fortaleza, capital do estado de origem de seu avô materno, decidiu tentar a seleção para o programa de pós-graduação em Sociologia da UFC no ano de 1977.

Em 1978 depois de ser aprovada em primeiro lugar na seleção ingressou no Mestrado, foi impedida de seguir por vicissitudes da vida, o que a fizeram tentar uma segunda seleção para o mesmo programa e, enfim, no ano de 1989 defendeu a Dissertação: Comunidade Eclesiais de Base: uma nova socialidade? sob orientação do professor Dr. Manfredo de Oliveira. Um trabalho minucioso sobre as narrativas e memórias das lutas sociais de ocupação e manutenção do território do Lagamar em Fortaleza. Nesse interim foi mãe duas vezes, ingressou em 1980 como professora da Universidade Estadual do Ceará, inicialmente lecionando por dez anos as disciplinas de Políticas Públicas no curso de Serviço Social e depois fez parte do grupo que criou o curso de Ciências Sociais da universidade, o qual coordenou e trabalhou por todos os anos que esteve na instituição.

Coordenou entre 1985 e 1990 o projeto Universidade Aberta da Rádio e Jornal O Povo, além de participar ativamente dos debates na vida intelectual, social e política de Fortaleza. Durante a gestão do Reitor Paulo de Melo Jorge Filho foi Pró-Reitora de Graduação entre 1992 e 1994. Nos primeiros anos da década de 1990 também atuou como diretora da Escola de Formação de Governantes do Ceará, experiência de formação e educação política pioneira no estado. Nessa época, por cerca de quatro anos, foi colaboradora regular do jornal O POVO, publicando artigos semanais sobre assuntos diversos.

Em 1994 ingressou na primeira turma de doutorado em Sociologia da UFC, onde defendeu em 1997 a Tese: Antigos e modernos: progressismo e a reação tradicionalista no Ceará provincial sob orientação do professor Dr. Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, publicada no mesmo ano com o título: Antigos e Modernos no Ceará Provincial. Um exercício de trazer o imaginário social e político para sala de visitas das Ciências Sociais que desnuda a tensão dialógica entre um mundo que desaparecia e outro que chegava na Fortaleza do século XIX e tornou-se clássico imprescindível para compreender o Ceará contemporâneo.

No período do doutorado publicou o livro Brinquedos da Memória: a infância em Fortaleza no início do século XX em 1996, resultado de um trabalho com estudantes. Após o doutorado foi coordenadora do Núcleo de pesquisa em Associativismo e Políticas Públicas e o grupo de pesquisa do Imaginário.

Participou da criação e implementação da Pós-Graduação em Políticas Públicas da UECE onde desenvolveu suas atividades de pesquisadora e professora Titular de Sociologia Política até 2011, ano de sua aposentadoria. Devido a sua trajetória notória e produtiva de pesquisadora e professora de políticas públicas foi convidada para assumir a Secretaria Extraordinária de Inclusão e Mobilização Social do Estado do Ceará durante o Governo de Lúcio Alcântara, entre os anos de 2003 e 2006, quando liderou o planejamento e o desenvolvimento do plano governamental de metas e indicadores sociais. Contemporânea de uma geração de professores que foi responsável por consolidar e desenvolver as bases lançadas pelos pioneiros das Ciências Sociais no Ceará, Celeste Cordeiro, contribuiu com a formação de centenas de estudantes que tiveram a oportunidade de participar de suas aulas inovadoras, lúdicas, participativas, sempre muito bem planejadas e refletidas, ornadas de cultura e artes em suas mais variadas expressões sem jamais abrir mão do rigor teórico e metodológico e da reflexão crítica.

Sua produção teórica é ampla e diversificada e deu contribuições significativas para área da Sociologia e através de sua escrita poética produziu conhecimento sobre o Poder, Cultura Política, Políticas Públicas, Inclusão Social, Sociologia Política, Imaginário e política, Literatura e Sociedade, pensamento social brasileiro e política cearense.

O desejo frustrado no início da vida de não cursar psicologia, de certa forma foi parcialmente compensado com sua mais recente formação em Psicanálise no Instituto Corpo Freaudiano/Sessão Fortaleza.

Celeste continua cada vez mais apegada aos livros, ao cinema, às artes tendo uma vida intelectual bastante ativa, atenta às transformações contemporâneas com olhar curioso e a perspicácia que a fizeram admirada e querida por seus professores, estudantes e colegas de profissão.

Sugestões de obras da autora:

CORDEIRO, Maria Celeste Magalhães. Brinquedos da memória: a infância em Fortaleza no início do século XX. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 1996. 163 p.

CORDEIRO, Maria Celeste Magalhães. Antigos e Modernos no Ceará provincial. São Paulo: AnnaBlume, 1997 299 p.

CORDEIRO, Maria Celeste Magalhães. Democracia e Poder Local no Brasil: desafios atuais. Essentia (Sobral/CE) , Sobral/CE, v. Ano 1, n.Número 3, p. 113-120, 2000.

CORDEIRO, Maria Celeste Magalhães. Brincar de ser outro: meia-idade e novos sentidos de viver. In: Fátima Vasconcelos; Érica Atem. (Org.). Alteridade – o outro como problema. 1ed.Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora Ltada., 2011, v. 1, p. 9-280.

CORDEIRO, Maria Celeste Magalhães. O anjo caído: reflexões em torno da (des)honra de Isaías Caminha. Revista de Ciências Sociais. Vol. 27, 1996 p 38-53.