Por Camila Ferreira da Silva (UFAM)
Luiz Antônio Constant Rodrigues da Cunha, doravante chamado de Luiz Antônio Cunha, nasceu na cidade de Araguari (MG), em 6 de julho de 1943. As influências de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro foram decisivas para as decisões familiares que levaram seu pai a migrar do interior de Minas Gerais para a capital paulista, rompendo com a tradição pecuarista e oligárquica das gerações anteriores – elemento decisivo para a formação cultural de sua prole –, bem como para a entrada de Luiz Antônio Cunha no campo acadêmico.
Sua formação acadêmica perpassa e foi influenciada por movimentos importantes na cena pública nacional, tais como, a efervescência das ciências sociais na região sudeste, a ditadura militar e o maio de 1968. Seu ingresso no curso de graduação em Sociologia se deu duas semanas antes do golpe militar de 1964, curso iniciado na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e concluído na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), em 1967. Sua migração para o Rio de Janeiro, nesse momento, relaciona-se exatamente ao esvaziamento da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, que, em meio à ditadura, perdeu docentes e pesquisadores importantes frente ao controle e perseguições que passavam a se agudizar. Luiz Antônio Cunha foi monitor do Professor José Luiz Werneck da Silva e participou ativamente no movimento estudantil, tendo acompanhado a prisão de Florestan Fernandes pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPES) de São Paulo; participado da tentativa de reestabelecer a União Nacional dos Estudantes (UNE); organizado o Congresso Nacional da UNE de 1965; e concorrido à presidência do Centro Acadêmico de Sociologia e Política da PUC-Rio.
Entre 1969 e o início dos anos 1980, Luiz Antônio insere-se profissionalmente na PUC-Rio como professor agregado de Métodos e Técnicas de Pesquisa, lugar onde realizou também sua formação a nível de pós-graduação. Seu mestrado e doutorado foram realizados na área da Educação na PUC-Rio, o primeiro realizado entre 1970 e 1972 e o segundo, entre 1977 e 1980. Claudio de Moura Castro foi seu orientador de mestrado, e nesse momento vemos Luiz Antônio Cunha desenvolver uma investigação sobre a política educacional do ensino técnico-profissional articulado ao ensino médio – em 1973, fruto desta dissertação assistimos à publicação da obra Política educacional no Brasil: a profissionalização no Ensino Médio, livro que se tornou uma referência no país para o debate em torno da lei nº 5.692/1971 e da universalização da compulsoriedade da profissionalização do ensino médio.
Entre o mestrado e o início do doutorado, a continuidade de seus estudos e pesquisas deu origem ao livro Educação e desenvolvimento social no Brasil, publicado em 1975, que agrega um conjunto de ensaios que, juntos, trazem aos leitores uma análise sociológica bastante profunda do nosso sistema educacional – nas palavras de Zaia Brandão (2013, p. 259), trata-se de “[…] uma das principais referências da pesquisa sobre a educação brasileira, e marca, na minha experiência, um grande avanço: um verdadeiro rompimento com a visão ingênua da educação (escolar), lamentavelmente ainda muito presente entre nós”.
Anos mais tarde (1977-1980), sob orientação de Dermeval Saviani, Luiz Antônio levou a cabo sua pesquisa de doutorado em torno da gênese e do desenvolvimento do ensino superior no Brasil, e aqui temos a consolidação de um conjunto de estudos, pesquisas e publicações sobre a universidade brasileira, do qual derivam as obras amplamente conhecidas na sociologia da educação brasileira: A universidade temporã: o ensino superior da colônia a era de Vargas (1980), A universidade crítica: o ensino superior na República Populista (1983) e A universidade reformanda: o golpe de 1964 e a modernização do ensino superior (1988).
Seu olhar sociológico lançado sobre a educação nacional perpassa diferentes frentes de pesquisa, entre pesquisa social, consultorias, pesquisa científica e acadêmica e orientações de graduação e pós-graduação. Vemos em sua trajetória a consolidação de uma sociologia da educação preocupada com temas como a gênese e formação dos sistemas educacionais, as políticas educacionais para o ensino técnico e ensino superior, dualidade educacional e, mais recentemente, as relações entre Estado, educação e laicidade.
A envergadura de seu trabalho pode ainda ser vislumbrada pela sua atuação até os nossos dias no ensino superior, seu percurso profissional engloba as seguintes instituições: PUC-Rio, Fundação Getúlio Vargas, Unicamp, Universidade Federal Fluminense, Titular da Chaire des Sciences Sociales Brésiliennes “Sérgio Buarque de Holanda”, junto à Maison des Sciences de l’Homme (Paris) e Universidade Federal do Rio de Janeiro – nesta última recebeu o título de Professor Emérito em 2014. Além disso, sua atuação como Membro da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), em 2010, demonstra como as relações entre ciência e política se materializam em sua trajetória.
Sugestões de obras do autor:
CUNHA, Luiz Antônio. Educação e desenvolvimento social no brasil. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.
CUNHA, Luiz Antônio. A Universidade Temporã: o Ensino Superior da Colônia a Era de Vargas. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.
CUNHA, Luiz Antônio. A Universidade Crítica: o Ensino Superior na República Populista. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983.
CUNHA, Luiz Antônio. A Universidade Reformanda: o Golpe de 1964 e a Modernização do Ensino Superior. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.
CUNHA, Luiz Antônio. Três décadas de conflitos em torno do ensino público: laico ou religioso? Educação & Sociedade, Campinas, v. 39, p. 890-907, 2018.
Sobre o autor:
BRANDÃO, Zaia. Notas sobre educação e desenvolvimento social no Brasil (um clássico da sociologia da educação entre nós). Revista Contemporânea de Educação, v. 8, n. 16, p. 259-263, ago./dez. 2013.
FGV CPDOC. Entrevista com Luiz Antônio Cunha. Rio de Janeiro: FGV, 2012. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/cientistassociais/luiz-antonio-cunha. Acesso em: 27 set. 2021.
SAVIANI, Dermeval. Sociologia e história da educação: aspectos da trajetória de um cientista militante. Revista Contemporânea de Educação, v. 8, n. 16, p. 264-281, ago./dez. 2013.