Por Vera Simone Schaefer Kalsing – (UFLA)
e Soraya Vargas Côrtes (UFRGS)
Lorena Holzmann nasceu em Porto Alegre em 24 de dezembro de 1942. Ingressou no curso de Ciências Sociais da então Universidade do Rio Grande do Sul (URGS) no emblemático ano de 1964 e formou-se em 1967. Em 1974, foi aprovada em concurso público para professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde iria permanecer até a aposentadoria com uma carreira sólida e duradoura. Concluiu o mestrado em Sociologia, em 1977, pela mesma universidade, com a dissertação intitulada Mulher e Trabalho – Estrutura ocupacional da mão de obra feminina no RS, 1920-1970.
No ano de 1987, deu início aos estudos de doutoramento pela Universidade de São Paulo (USP), tendo sido orientada por Elisabeth Souza-Lobo, uma das mais importantes sociólogas no campo dos estudos sobre mulher e trabalho no Brasil. Defendeu sua tese intitulada Operários sem patrões. Estudo da gestão das Cooperativas Industriais Wallig, em 1992, que embasou o livro Operários sem patrão. Gestão cooperativa e dilemas da democracia, publicado em 2001, pela EDUFSCAR.
Ao longo de sua carreira, dedicou-se principalmente a pesquisar na área da Sociologia do Trabalho, abordando temas como inovações técnicas e organizacionais, gestão do trabalho, trabalho e tecnologia, processo de trabalho, sindicalismo e economia solidária. Todavia, Lorena, de modo pioneiro, adotou um enfoque inspirado em teorias feministas em seus estudos, o que atraiu estudantes a buscarem com ela a orientação para seus trabalhos de conclusão, de mestrado e doutorado, que abordavam temas variados como saúde da mulher, trabalho feminino, questões de gênero, situação das mulheres no ambiente ocupacional, entre outros.
Como docente, participou na formação de gerações de cientistas sociais gaúchos. As disciplinas que ministrou, tanto na graduação como na pós-graduação, tratavam não apenas dos temas de suas investigações, mas também de teoria sociológica, métodos, sociologia do desenvolvimento e demografia.
Sua trajetória foi também marcada pelo engajamento político, tendo participado ativamente do debate político e na gestão universitária. Foi uma das fundadoras da Associação dos Docentes da UFRGS (ADUFRGS), em 1978, em meio à luta pela redemocratização do País e da Universidade. Dentre as inúmeras participações na gestão da UFRGS, destacam-se a Chefia do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS, de janeiro de 1994 a agosto de 1998, e a função de Pró-reitora de Graduação na mesma Universidade, na gestão 1996-1999. Integrou a diretoria da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), de 1995 a 1997 e de 2005 a 2007.
Organizou e participou de vários eventos nas áreas de trabalho, gênero e trabalho, trabalho e tecnologia. Em parceria com o professor e amigo, Antônio Cattani, organizou a obra Dicionário de Trabalho e Tecnologia, publicado pela editora Zouk pela primeira vez em 2006 e objeto de sucessivas edições revisadas. Obra que lhes rendeu o Prêmio Açorianos de Literatura – categoria: ensaio humanidades. Foi uma das organizadoras do livro Universidade e Repressão. Os expurgos na UFRGS. Além de ter publicado mais de 30 capítulos em livros e coletâneas e a apresentação e prefácio de mais de uma dezena de obras.
Uma de suas paixões, o cinema, a conduziu a organizar eventos, a escrever livro (O trabalho no cinema (e uma socióloga na plateia), publicado pela editora Tomo Editorial, em 2012) e a participar do debate público na internet, em que associa sua expertise na sociologia do trabalho, sobre gênero e temas políticos ao debate cultural. Lorena tem presença constante na internet, colaborando em blogs, websites e mantem redes sociais muito ativas.
Foi uma orientadora de excelência, primando pela qualidade dos trabalhos que orientou na graduação e na pós-graduação. Como professora, tinha fama de muito exigente e, de fato, o era. Essas características, no entanto, não ofuscaram seu lado profundamente humano no trato com orientandas e orientandos. A professora Lorena combina o rigor e a disciplina, tão necessários ao trabalho acadêmico, à sensibilidade e à ternura que a tornam uma verdadeira tutora de seus “pupilos”, como ela costuma se referir a seus/suas orientandos e orientandas.
A trajetória de Lorena mostra o engajamento típico de uma geração de cientistas sociais criativos, competentes, corajosos e militantes que não se intimidaram frente ao autoritarismo e à repressão promovida pela ditadura cívico-militar instaurada em 1964. Perfil profissional que serve de modelo às novas gerações, especialmente nos dias de hoje, em que são constantes as ameaças à democracia e à autonomia universitária.
Lorena permaneceu como professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFRGS por cinco anos após sua aposentadoria, continuando a atuar em sua área de pesquisa.
Sugestões de obras da autora:
HOLZMANN, Lorena. Controle e Disciplinamento da força de Trabalho. Estratégias e resistências. 1. ed. Porto Alegre / RS: Escritos, 2015. v. 1. 132p.
AVERBUCK, Ligia; CAMPILONGO, Maria Assunta; HOLZMANN, Lorena; MIRANDA, Luiz Alberto O. R.; SANTOS, José Vicente Tavares dos; TAITELBAUM, Aron (Org.). Universidade e repressão. Os expurgos na UFRGS. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, 2008. 99p.
KOVACS, I.; CASACA, S. F.; HOLZMANN, Lorena; PICCININI, V.; CERDEIRA, M. C.; GUIMARAES, S. M.; TOLFO, S. R.; ROSENFIELD, Cinara Lerrer (Org.). O Mosaico do Trabalho na Sociedade Contemporânea. Persistências e inovações. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006.
HOLZMANN, Lorena; PADRÓS, Enrique Serra (Org.). 1968 – Contestação e Utopia. 1. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003. v. 1. 142 p.