Por Carla Bronzo (Fundação João Pinheiro)
Laura da Veiga é uma socióloga nascida em Belo Horizonte, em uma família da classe operária. Sua mãe, embora tivesse apenas o ensino primário, esforçou-se para que sua filha tivesse acesso à educação, entendida como alternativa para a saída da condição de pobreza material. Laura sempre estudou em escolas públicas e em 1965 inicia sua graduação no curso de Sociologia e Política da Faculdade de Ciências Econômicas (FACE) da UFMG. Em 1967 o curso da FACE é fundido com o de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, como fruto da Reforma Universitária. Na FACE, a disputa ideológica e a participação na vida política eram intensas e grande parte das lideranças jovens dos movimentos de esquerda era oriunda dessa instituição. Laura pode participar da efervescente vida universitária como bolsista do Diretório Acadêmico e esteve vinculada à Ação Popular até 1967. Laura e demais colegas de sua geração têm sua formação universitária em uma sociedade fragmentada, marcada por autoritarismo e situações de injustiças e desigualdades e tal condição certamente impactou nas escolhas de temas aos quais Laura dedicou sua vida profissional.
Em 1969 Laura entrou para o mestrado em Ciência Política na mesma instituição, analisando a influência dos fatores sócio econômicos no acesso às oportunidades educacionais. Logo após foi cursar o doutorado na Universidade de Stanford, tendo concluído o mesmo em 1981, com a tese sobre a reforma universitária brasileira. Pode-se dizer que a vivência militante e os trabalhos produzidos no mestrado e doutorado acabaram configurando o eixo de sua produção acadêmica: o tema das desigualdades sempre esteve presente na vida de Laura, norteando seu campo de reflexão e também de ação.
Em 1973 Laura entra na UFMG como professora auxiliar na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, e em 1975 torna-se professora assistente, até que em 1982 assume a posição de professora adjunta. Laura foi docente de graduação e pós-graduação nos cursos de Ciências Sociais e também no Mestrado em Educação, além de coordenadora dos cursos de graduação, mestrado e doutorado na FAFICH. Além disso, foi Diretora do Centro de Estudos Mineiros e integrante da Câmara de Pós-Graduação e do Conselho de Ensino, Pesquisa e Pós-Graduação da UFMG, contribuindo de forma direta para a institucionalização da Sociologia no âmbito da universidade. Aposenta-se da UFMG em 1995, deixando um legado de pesquisadora rigorosa e com intensa participação na vida acadêmica e na gestão universitária.
Nessa linha de construção institucional, cabe destacar a participação de Laura na Escola de Governo da Fundação João Pinheiro, tendo atuado nessa instituição em diversos períodos, não de forma ininterrupta. Seja como docente nos cursos de graduação e pós-graduação, como pesquisadora ou como diretora geral ou adjunta da Escola de Governo, Laura participou de vários e importantes momentos da vida institucional, tendo sido uma das responsáveis pela formatação do mestrado e pela coordenação do processo de credenciamento do mesmo junto à CAPES. Laura, na FJP, assumiu tanto papéis e funções gerenciais quanto acadêmicas e de pesquisa, dando expressão a uma característica marcante de sua personalidade, que é a de atuar com competência seja no plano da produção de conhecimento quanto no plano da ação e da construção institucional.
Reconhecida por sua imensa capacidade de trabalho, Laura esteve envolvida em pesquisas nacionais e internacionais, sobre temas diversos. No âmbito nacional, coordenou e participou de pesquisas sobre descentralização, eficiência e equidade na educação, violência nas escolas, proteção não contributiva, pobreza, desigualdade e políticas públicas, trabalho infantil, dentre outros temas afins. Foi bolsista do CNPq em vários momentos ao longo de sua trajetória como pesquisadora.
Outra vertente da trajetória de Laura relaciona-se com sua atuação enquanto consultora. Em 1997 atua como consultora da UNICEF sobre o tema do trabalho infantil e de 1996 a 2005 compõe o Comitê técnico do Programa Gestão Pública e Cidadania, da Fundação Getúlio Vargas. Em 2005 começa a atuar, via contratação do PNUD, como consultora do Ministério do Desenvolvimento Social/MDS e em 2007 assume a Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI) do MDS, tendo permanecido nesse cargo até 2009.
Outro eixo de atuação central da trajetória de Laura refere-se à sua atuação junto às organizações universitárias. Cabe destacar sua participação como membro de Câmara de Assessoramento da área de Ciências Sociais, Humanas, Letras e Artes, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais, em distintos períodos, bem como sua participação como membro do Comitê de Avaliação da área de Sociologia, na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. Entre 1985 e 1987 esteve na diretoria da Anpocs e desde 1989 até o ano de 1995 fez parte do comitê técnico dessa instituição.
Com uma personalidade forte, Laura não passa despercebida em nenhum contexto, sendo reconhecida por sua franqueza e pela busca de excelência em tudo o que faz. Marcou vidas e fez história, como um exemplo de socióloga que calçou sua trajetória na ação prática e institucional, contribuindo para trazer a sociologia para o campo da ação governamental e das políticas públicas. Com rigor e braveza, mas sem perder a ternura jamais.
Sugestões de obras da autora:
MAGALHÃES, Edgar; VEIGA, Laura. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome: uma nova construção institucional. In. Madeira, Lígia Mori (organizadora). Avaliação de Políticas Públicas. Porto Alegre. UFRGS/CEGOV, 2014.
VEIGA, L.; BRONZO, C. Estratégias intersetoriais de gestão municipal de serviços de proteção social: a experiência de Belo Horizonte. Revista de Administração Pública (Impresso), v. 48, p. 595-620, 2014.
BRONZO, C. ; VEIGA, L. . Vulnerabilidades e territórios: possibilidades e limites para a intervenção pública. In: Antonio Cattani; Laura Mota Diaz; Nestor Cohen. (Org.). A construção da Justiça Social na América Latina. 1ed.Porto Alegre: Tomo Editorial, 2013, v. 1, p. 241-262.
BARBOSA, Ligia and VEIGA, Laura. Brazil’ Two educational policies. RANDALL, Laura Factors affecting learning and cost schooling in Latin America. NY:The Edwin Mellen Press. 2003:51-69
VEIGA, L.. Reforma Universitária na Década de 60: Origens e Implicações Politico- Institucionais. CIENCIA E CULTURA., São Paulo, v. 37, n.7, p. 86-97, 1985