Por Felipe Rangel (UFSCar)
Juarez Rubens Brandão Lopes nasceu em Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais, em 16 de outubro de 1925, tendo passado a infância e juventude na cidade de São Paulo. Em 1946, ingressou na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, abandonando o curso de engenharia no terceiro período. Após bacharelar-se em Ciências Sociais e Políticas, em 1950, vai à Universidade de Chicago realizar a pós-graduação. Em 1953, retorna ao Brasil com o mestrado e todos os pré-requisitos para o doutorado, “tudo, menos a tese”, que só seria defendida em 1964, na Universidade de São Paulo (USP).
Ainda durante os anos 1950, lecionou na Escola de Sociologia e Política e na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas. No início dos anos 1960, ocupa uma cadeira na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, na qual torna-se professor titular em 1972. Na mesma universidade, em 1973, vincula-se à área de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas. Aposentando-se na USP, em 1983, associa-se ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde permanece até 1995.
Durante toda a carreira, esteve em intensa articulação com universidades e instituições de pesquisa internacionais, tendo atuado como professor visitante na Universidade de Washington, Universidade do Texas, Universidade de Amsterdam e Universidade da Califórnia. Foi também um dos fundadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), do qual participou ativamente até 1985.
Ao longo de sua trajetória, na “tensão entre o cientista social e a fascinação pelo governo”, ocupou diferentes posições na administração federal, sendo diretor de administração do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e ocupando por breve período a presidência da instituição, em 1986; secretário adjunto na Secretaria de Planejamento da Presidência da República (Seplan); vice-presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (IPEA); assessor especial do Ministério do Trabalho; e Coordenador do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD).
O Cientista Social
Juarez Brandão Lopes se identificava como cientista social. Registrava dessa forma o apreço pela interdisciplinaridade na investigação dos processos sociais, traço que caracterizou sua produção acadêmica, combinando efetivamente na análise sociológica contribuições da antropologia, economia e geografia. Outra caraterística que se destaca em suas pesquisas – tributária de sua formação na Escola de Sociologia e Política e do contato com a sociologia de Chicago – é a combinação de sólido alicerce teórico (de expressiva orientação weberiana) com a rigorosa empiria do trabalho de campo. Em suas próprias palavras, “eu nunca fui um cientista social interessado em desenvolver uma teoria. O meu interesse era nas teorias para entender a realidade. O que eu queria era entender o Brasil”.
Nesse esforço para entender o Brasil, dedicou-se a investigar questões importantes para a sociologia nacional, contribuindo para a reflexão sobre os processos de mobilidade social, formação e consciência de classe e o processo de desenvolvimento brasileiro. Investiu sobre esses grandes temas a partir de estudos de caso, analisando mutações situadas considerando os efeitos de forças externas. Foi assim que produziu os estudos que deram origem a duas de suas principais obras: Sociedade Industrial no Brasil (1964) e Crise do Brasil Arcaico (1967). Nesses estudos, os problemas da integração do trabalhador migrante do campo ao sistema industrial urbano, suas expectativas de mobilidade social e as mudanças nas relações industriais de trabalho em relação com a crise da ordem tradicional patrimonialista são analisados de maneira original. Em especial, a tese de que entre os trabalhadores migrantes, sobretudo nordestinos, haveria um “valor cultural” no trabalho por conta própria que marcaria uma dificuldade de ajustamento às exigências da indústria estimulou intensos debates no campo das Ciências Sociais nas décadas seguintes.
Juarez Brandão Lopes faleceu em 09 de junho de 2011, em São Paulo. Considerado um dos precursores da sociologia do trabalho no Brasil, em sua trajetória acadêmica transitou com maestria também entre os campos dos estudos rurais, urbanos, de políticas públicas e estratificação social, temas sempre interconectados em seu projeto de compreender o Brasil.
Sugestões de obras do autor
LOPES, Juarez Rubens Brandão. Sociedade industrial no Brasil. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1964.
LOPES, Juarez Rubens Brandão. Crise do Brasil arcaico. São Paulo, SP: Difusão Europeia do Livro, 1967.
LOPES, Juarez Rubens Brandão. Desenvolvimento e mudança social: formação da sociedade urbano-industrial no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional; Edusp, 1968.
Sobre o autor
BASTOS, Elide Rugai. Conversas com sociólogos brasileiros. São Paulo: Editora 34, 2006.
CARDOSO, Adalberto. De volta a “O ajustamento do trabalhador à indústria”: uma homenagem a Juarez R. Brandão Lopes. Revista Latino-americana de Estudos do Trabalho, Ano 16, no 25, 2011, 185-192.