Por Isabel Ramos Fandiño (University of Calgary/Canadá) e
Letícia Maria Schabbach (UFRGS)
Juan Mario Fandino Marino, mais conhecido como Professor Fandiño, nasceu em 19 de janeiro de 1946, em Bogotá, na Colômbia. Depois de abandonar o Seminário de formação sacerdotal do Departamento de Cundinamarca, rompendo com a expectativa familiar de se tornar padre, iniciou os estudos no Colégio Marista de Bogotá. Ainda na capital colombiana, concluiu um ano de graduação em Arquitetura na Universidad Nacional, mas ao perceber que a Arquitetura não era sua paixão, migrou para o curso de Sociologia na Universidad Javeriana.
Em 1966 obteve bolsa de estudos e foi para os Estados Unidos, onde se graduou em Sociologia pelo Oberlin College (Ohio, 1970) e concluiu o Mestrado e o Doutorado em Sociologia pela University of Wisconsin, Madison (Wisconsin, 1975), com a Tese “Rural urban migration in Colombia: an exploratory model”, orientada por William Flinn.
Em 1977, após enviar cartas e currículo para 12 universidades brasileiras, escolheu lecionar na Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Em busca de um ritmo de vida mais agitado, em 1978 o professor Fandiño mudou-se para Porto Alegre, ingressando na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e se vinculando ao Departamento de Sociologia e ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia Rural (PPGSR), que, em 1992, foi incorporado ao Programa de Pós-graduação em Sociologia (PPGS). Aposentou-se da UFRGS em 2012, como titular, e permaneceu no PPGS até 2016, como professor convidado.
Encantado pela cultura gaúcha e fã do ex-jogador de futebol Paulo Roberto Falcão, virou fiel torcedor do Sport Club Internacional. No final dos anos 80 tornou-se, oficialmente, cidadão brasileiro. No decorrer dos anos abraçou oportunidades de estudar no exterior, cultivando o seu amor por viajar, e em 1989 atuou como professor convidado na University of Adelaide, na Austrália. Realizou pós-doutorado nos Estados Unidos na Purdue University, em West Lafayette/Indiana (1997-1998) e na University of Texas/Austin (2006).
Tendo sido representante regional (da região sul) e nacional da Associação PIPSA (Projeto de Intercâmbio de Pesquisa Social em Agricultura), organizou, em Porto Alegre, o XVII Encontro Nacional dessa Associação, em 1994. Logo após, migrou da temática rural para a da violência, criminalidade e segurança pública, sendo um dos fundadores, em 1995, do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania da UFRGS (GPVC/CNPq). Também foi consultor da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e do governo do estado do Rio Grande do Sul, onde, na Secretaria estadual de segurança pública, coordenou o Núcleo de Pesquisas sobre Violência (NUPEVI, 1995-2001), constituído por pesquisadores da temática.
Na docência trabalhou principalmente com: teoria sociológica, sociologia criminal, sociologia do desenvolvimento, planejamento regional e metodologia de pesquisa. Orientou cinco teses de doutorado, 16 dissertações de mestrado, além de monografias de especialização e trabalhos de conclusão de curso. Em 1985 supervisionou a tese de Laura Maria Goulart Duarte, intitulada “Capitalismo e cooperativismo no Rio Grande do Sul: o cooperativismo empresarial e a expansão do capitalismo no setor rural do Rio Grande do Sul”, que foi vencedora do Prêmio Nacional de Trabalhos Científicos – Melhor Tese, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) daquele ano. Reconhecido não só por sua seriedade e dedicação para com os alunos, o professor Fandiño também era um amigo, frequentemente oferecendo jantares para as suas turmas, nos quais as conversas acadêmicas acabavam por se transformar em noites de canto e música.
O homenageado é uma referência nacional no que tange à utilização do “paradigma metodológico causal” nas Ciências Sociais (MARINO, 2012) e à introdução das teorias sobre os processos de criminalização para a análise dos fenômenos do crime e da violência no Brasil. Dentro dessas perspectivas, na Graduação em Ciências Sociais, no PPG em Sociologia Rural e no PPG em Sociologia da UFRGS, formou vários sociólogos e sociólogas que se tornaram disseminadores de seus ensinamentos e reflexões.
Sugestões de obras do autor:
MARINO, Juan. M. F. Determinantes econômicos e sociológicos da migração rural-urbana: ensaio de uma metodologia de análise de resíduos migratórios. Revista de Economia Rural, Brasília, v. 16, n. 2, p. 23-42, 1978.
MARINO, Juan. M. F. A forma de produção pós-chayanoviana na agricultura familiar. Cadernos de Sociologia, Porto Alegre, v. especial, n. único, p. 43-61, 1994.
MARINO, Juan M. F. Ciclos históricos da violência na América Latina. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 18, n.1, p. 31-39, 2004.
MARINO, Juan M. F.; RAMOS, Marília P. Condicionantes históricos do desenvolvimento capitalista global em nível regional. In: WITTMANN, Milton L.; RAMOS, Marília P. Desenvolvimento regional, capital social, redes e planejamento. 1ª ed. Santa Cruz do Sul: Ed. da UNISC, 2004. p. 79-99.
MARINO, Juan M. F.; RAMOS, Marília P. Conexões explicativas entre desenvolvimento e capital social. Civitas – Revista de Ciências Sociais, Porto Alegre, v. 12, p. 378-394, 2012.
MARINO, Juan M. F. Fundamentos do paradigma metodológico causal nas Ciências Sociais impropriamente denominado ‘Métodos Quantitativos’. Sociologias, Porto Alegre, v. 14, p. 20-50, 2012.
MARINO, Juan M. F. Sobreviventes, bandidos e rebeldes: Para uma sociologia das transições criminológicas. Porto Alegre: 2013 (manuscrito em forma de livro).