Por Ricardo Carneiro (Fundação João Pinheiro)
José Moreira de Souza nasceu em 21 de fevereiro de 1941, em Gouveia, Minas Gerais. Com oito meses de vida foi separado de sua mãe, falecida antes de seus dois anos. Órfão da mãe, foi entregue à avó materna e criado por duas tias, Flora e Francisca.
Moreira deixou Gouveia aos 11 anos para estudar no Seminário Menor Metropolitano da Arquidiocese de São Paulo, onde cursou filosofia e conviveu com líderes operários e o bispo de Santo André, apoiador das primeiras greves do ABC. Nessa época, interessou-se pelo curso de Ciências Sociais da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no qual ingressou em 1964.
Por sua atuação política na graduação, foi convidado, por outros alunos, para lecionar, mas não assumiu, em curso paralelo de Ciências Sociais, que estava sendo articulado para se contrapor ao conservadorismo do currículo do curso regular. Em 1967, foi escolhido orador dos 12 cursos concluintes na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, atual Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH/UFMG).
Em 1986 ingressou no Mestrado em Sociologia, também da UFMG, concluído em 1991. Em sua dissertação, “Cidade, momentos e processos: Serro e Diamantina na formação do Norte Mineiro no século XIX”, orientada por Celina Albano, homenageou Ely Bonine Garcia, preso político em 1964. Por sugestão de Fernando Correia Dias, membro de sua banca, inscreveu a dissertação no concurso de trabalhos de pós graduação da Associação Nacional de Pós Graduação em Ciências Sociais (ANPOCS) sendo agraciado, em 1992, com o prêmio José Albertino Rodrigues, de melhor dissertação.
Sua trajetória profissional combina, em simultâneo, docência e pesquisa. A primeira iniciou-se ainda como aluno de graduação em Ciências Sociais, lecionando em colégios particulares. A segunda remete à sua participação, como entrevistador, na pesquisa “Projeto Difusão”, da Michigan State University.
Em 1969 iniciou sua carreira como docente no ensino superior, contratado pelo Centro Universitário de Belo Horizonte, do qual se desligou em 1973. Em 1972, foi um dos professores fundadores do Instituto Cultural Newton Paiva Ferreira (ICNPF). No INCPF, atual Unicentro Newton Paiva, além de professor de metodologia de pesquisa, foi diretor da Divisão de Pesquisa e Extensão, entre 1976 e 1979, e, de 1991 a 1993, coordenador de Pesquisa e Pós-graduação, estruturando diversos projetos de cursos especialização. Também foi professor auxiliar concursado da FAFICH, entre 1973 e 1976.
Em 1968, a convite do diretor do Centro de Estudos Mineiros – órgão da Reitoria da UFMG, coordenou pesquisa sobre atividades musicais na região do Norte Mineiro. A qualidade do trabalho motivou Francisco Iglésias, em 1970, a contratá-lo como sociólogo da Reitoria. Nessa mesma época, foi convidado para coordenar a pesquisa de campo do Plano de Desenvolvimento Integrado de Contagem. Desse trabalho resultou sua contratação como coordenador da pesquisa socioeconômica do Plano Diretor de Montes Claros.
Em 1976, foi convidado para a função de coordenador de Pesquisa e Sistematização da Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Plambel), com sua cessão, por empréstimo, pela Reitoria. Face a problemas burocráticos na cessão, assumiu o cargo de sociólogo então criado no quadro do Plambel, desligando-se da UFMG.
Com a extinção do Plambel em 1995, tornou-se pesquisador da Fundação João Pinheiro (FJP), à qual o órgão foi incorporado, enfatizando a temática metropolitana. Na FJP, cuidou de recuperar a Série Histórica da RMBH – Pesquisa Sócio-econômica e Pesquisa Origem e Destino de 1972; a Pesquisa dos Processos de Morar de 1977, e a Pesquisa Origem e Destino de 1982 e 1992. Posteriormente, coordenou a Pesquisa Origem e Destino 2001-2002, em parceria da FJP com a Companhia Brasileira de Transporte Urbano (CBTU), a Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte (BHTRANS) e as prefeituras da RMBH, a qual ancora o Sistema de Informações Espaciais da RMBH.
Seguiram-se contribuições para a construção do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a realização de trabalhos como a Pesquisa de Atenção aos Portadores de Deficiências- Betim e a Pesquisa Cadastro de Famílias Moradoras em Conjuntos habitacionais do Orçamento Participativo da Habitação de Belo Horizonte. Dessas pesquisas resultaram inúmeros estudos apresentados em congressos e seminários, em que comparecem como autores Virgínia Renó dos Mares Guia, João Gabriel Teixeira, Elieth Amélia de Sousa, Berenice Martins, Nícia Raies Moreira de Souza, Renato Carvalho Coelho e Flávia Brasil, entre outros, além de alunos da Escola de Governo da FJP. A experiência com o Sistema de Informações Espaciais da RMBH ensejou parcerias da FJP com instituições como o Centro de Estudos Urbanos (CEURB) da UFMG e o Observatório das Cidades da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Após sua aposentadoria na FJP, em 2008, Moreira mantém-se pesquisador ativo e engajado, dedicando-se principalmente ao tema do folclore, que lhe é caro desde os tempos de atuação na Comissão de Estudos Mineiros. Pela Comissão Mineira de Folclore, coordena e edita, desde 2015, a revista da entidade, cuja periodicidade havia sido interrompida em 2003.
Sugestões de obras do autor:
SOUZA, José Moreira de. Cidade, momentos e processos: Serro e Diamantina na formação do Norte Mineiro no século XIX. São Paulo: ANPOCS/Marco Zero, 1993. [Premiada pela ANPOCS em 1992]
TEIXEIRA, João Gabriel; SOUZA, José Moreira de. Espaço e sociedade na Grande BH. In: MENDONÇA, Jupira Gomes; GODINHO, Maria Helena de Lacerda (Org.). População, espaço e gestão na metrópole: nova configurações, velhas desigualdades. 1ª ed. Belo Horizonte: PUC-MINAS – CNPq – PRONEX, 2003, v. 1, p. 1-308.
SOUZA, José Moreira de; CARNEIRO, Ricardo. Universalismo e focalização na Política de Atenção à Pessoa com Deficiência. Saúde Soc. São Paulo, v.16, n.3, p.69-84, 2007.
SOUZA, José Moreira de. A sombra do Andarilho. O Folclore e suas charadas. Belo Horizonte: Comissão Mineira de Folclore, 2012 [Artigos apresentados em congressos de Folclore, Jornadas integradas e Curso de Pós-graduação em Folclore e Cultura Popular]
SOUZA, José Moreira de. Comunicação e mudança, a decadência do lazer tradicional. Belo Horizonte: Comissão Mineira de Folclore. 2019 [Relatório de Pesquisa que deveria ter sido publicado em 1972 pela Imprensa Universitária/Reitoria da UFMG, concluído em 1969, com prefácio de Fernando Correia Dias e posfácio crítico de Saul Martins.]