Por Edvaldo Carvalho Alves (UFPB)
José Arlindo Soares nasceu em 1946 na cidade de Massapê, na região do semiárido cearense distante 252 km da capital, Fortaleza. Primogênito de um pequeno comerciante e de uma funcionária pública estadual, aos 12 anos deixou a cidade natal, como faziam os filhos (as) das famílias que desejavam ter acesso a uma melhor educação, e foi estudar no seminário da cidade vizinha, Sobral. Em sua estada no seminário de Sobral, que durou três anos, Arlindo incorporou duas características fundamentais para o exercício do trabalho intelectual: a organização e a disciplina de estudo. Retornou em seguida para Massapê, onde, em meio a uma intensa participação em processos organizativos de atividades culturais e desportivas, concluiu o ginásio na CENEC (Campanha Nacional de Escolas Comunitárias). Como nesta instituição não existia o científico, hoje ensino médio, em 1963, Arlindo mudou-se para Fortaleza indo estudar no colégio João Pontes, também pertencente a esta mesma rede de ensino. Com um ano de sua chegada à capital do Ceará, eclodiu o golpe de 1964.
Contornando o autoritarismo do regime militar, no segundo ano de sua chegada, já presidente do grêmio de sua escola, organiza um movimento estadual, que uniu todos os representantes estudantis e, tinha como objetivo destituir a direção interventora do Centro dos Estudantes Secundaristas do Estado do Ceará (CESC). Como resultado deste movimento, conseguiu organizar um congresso estadual dos estudantes secundaristas do Ceará onde foi eleito seu presidente legal, com um programa que teve que ser aceito pelos militares.
No ano 1966, foi aprovado no vestibular para o curso de Direito na Universidade Federal do Ceará (UFC), dando continuidade à sua militância política no movimento estudantil, vinculado agora a uma pequena organização dissidente do Partido Operário Revolucionário Trotskista, denominada Fração Bolchevique. Com a publicação do AI5, em dezembro 1968, foi cassado dias depois, perdeu sua matrícula e foi forçado a deixar o Ceará, passando a viver na semiclandestinidade, residindo um tempo em São Paulo e Porto Alegre, onde alternava sua atuação política na organização trotskista com algumas atividades de trabalho. Casou-se em 1969 com Nancy, sua companheira de toda uma vida e, no ano seguinte, por solicitação da organização da qual fazia parte, embarcou para a cidade do Recife, onde teria como missão realizar um trabalho de reestruturação política. No entanto, com poucos dias de sua chegada na cidade, foi preso, processado e, em seguida, condenado a três anos de reclusão. Cumpriu dois anos e oito meses de prisão e, durante o período do cárcere, tomou a decisão de atuar politicamente apenas no âmbito de instituições legais se interessando por estudar o processo histórico, a estrutura e funcionamento do campo político e seus agentes.
Ao sair da prisão se deparou com três possibilidades para seu futuro: sair do país e viver no exilio; voltar para o Ceará ou ficar na cidade do Recife. Escolheu a última e, no final de 1972, a sociologia surgiu no seu caminho! Prestou vestibular para a Faculdade de Ciências Políticas, instituição privada de ensino superior que contava, na época, com certo reconhecimento de sua qualidade de ensino por parte da intelectualidade de esquerda do Recife e que era de propriedade de um empresário local que possuía trânsito e influência no MEC. No final do ano de 1973, por meio de um decreto do MEC, esta faculdade foi incorporada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e, assim, Arlindo se transforma em aluno de graduação do curso de Ciências Sociais da UFPE.
Durante os anos da graduação, alternou as atividades acadêmicas com o trabalho docente no ensino médio e em cursinhos pré-universitários na cidade do Recife. Concluiu a graduação em 1976 e, no mesmo ano, foi aprovado no mestrado em sociologia da UFPE. Com bolsa do CNPq e sob a orientação do professor Manoel Correia de Andrade, concluiu seu mestrado em 1980, com uma dissertação sobre o movimento da “Frente do Recife”, uma aliança político-partidária que aglutinou, no período de 1955-64, as principais forças políticas de esquerda e nacionalistas do Estado de Pernambuco em defesa da institucionalidade democrática. Dois anos mais tarde, em 1982, por uma sugestão do professor Francisco de Oliveira, a dissertação foi lançada como livro, pela editora Paz e Terra com o título, “A frente do Recife e o Governo Arraes: nacionalismo em crise 1955-1964”.
Recém-concluído o mestrado, ainda no ano de 1980, por uma indicação do professor e amigo Mauro Pinheiro Guilherme Koury, prestou seleção e foi aprovado como professor colaborador no Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), onde ministrou aulas, orientou alunos, na graduação e pós-graduação, e desenvolveu projetos de pesquisas, sempre em parceira com o Centro de Estudos e Pesquisas Josué de Castro, em Recife, que ajudou a fundar, fez parte de sua diretoria, foi presidente em várias gestões e seguiu atuando. Um exemplo dessas pesquisas foi a que deu origem ao livro “Sindicatos em uma época de crise”, publicado em 1984 pela editora Vozes, que agregou, além do centro Josué de Castro e da UFPB, outras instituições de ensino superior do país com financiamento da Fundação Frederico Herbert, do Partido Social-Democrata Alemão, e tinha como objetivo central formular uma proposta alternativa à CLT, num esforço de se antecipar à proposta que vinha sendo formulada pelo governo do então general João Baptista Figueiredo.
Ainda em 1984, prestou seleção para o doutorado na Universidade de Brasília (UNB) e na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Foi aprovado em ambas, mas escolheu, por questões logísticas, a UNB. Em 1985, quando já tinha concluído metade dos créditos do doutorado foi convidado pelo prefeito eleito da cidade do Recife, Jarbas Vasconcelos, para compor sua equipe de governo, ocupando a pasta da Secretaria de Ação Social. Aceitou o convite, trancou a matrícula no doutorado e tirou licença não remunerada da UFPB. Permaneceu no cargo até o final da gestão, em 1988, e publicou, a partir desta experiência, o livro “Poder local e participação popular”.
Em 1989 retornou às suas atividades na UFPB e, em 1993, reabriu sua matrícula no doutorado em Sociologia. Com uma bolsa da CAPES de doutorado sanduíche, permaneceu um ano em Paris e, ao regressar, defendeu sua tese em 1996, sob a orientação do professor Benicio Ribeiro Schmitd, com título “Poder Local, Participação Popular e Alianças Políticas”, tema que integrava sua agenda de pesquisa.
Retornando à UFPB, assumiu a coordenação do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e, como desdobramento de sua tese, desenvolveu, mais uma vez, em parceria com o Centro Josué de Castro, a pesquisa “Os desafios da gestão democrática”, com financiamento da Comunidade Econômica Europeia, que analisou, de forma comparativa, a gestão municipal em quatro cidades, duas com gestões do Partido dos Trabalhadores (PT) e duas com gestão do Partido do Movimento Democrática Brasileiro (PMDB), hoje MDB. Desta pesquisa, foi publicado, em 1998, o livro “Os desafios da gestão democrática municipal”.
No final deste mesmo ano, recebeu o convite para participar da elaboração do plano de governo do candidato a governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos. Após a eleição, em 1999, foi nomeado Secretário do Planejamento e Desenvolvimento social do Estado de Pernambuco, ficando no cargo até 2005. Durante este período, afastou-se das atividades acadêmicas na UFPB, voltando apenas em 2006.
Em 2007, por pressões familiares no sentido de reduzir a quantidade de suas atividades de trabalho, se aposentou da UFPB, mas permaneceu atuando, como pesquisador e gestor, no Centro Josué de Castro.
Sugestões de obras do autor:
SOARES, José Arlindo. A frente do Recife e o Governo Arraes: nacionalismo em crise 1955-1964. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
SOARES, J.A. Tendências Atuais do Sindicalismo no Nordeste. In CASTRO, R. (org.) Sindicatos em uma Época de Crise. Petrópolis, Vozes, 1984
SOARES, J. A. Os Desafios da gestão Democrática. a experiência do Recife. 1. ed. São Paulo: Pólis, 1998. v. 1. 162p.
SOARES, J. A. Alternativas para um Novo Modelo de Gestão Municipal. 1. ed. Brasília – DF: Instituto Pólis, 1998. v. 1. 162p.
SOARES, J. A; CACCIA-BAVA, S.(Org.) Os desafios da gestão municipal democrática. São Paulo-SP: Cortez, 1998.
SOARES, J. A. O Orçamento nos Municípios do Nordeste Brasileiro. 1. ed. Brasília – DF: Paralelo, 1997. v. 1. 220p.
SOARES, J. A.; SOLER, S. (Org.). Poder Local e Participação Popular. Rio de Janeiro: Rio Fundo, 1992. v. 1.