Por Claudio Roberto de Jesus (UFRN)
João Gabriel Teixeira, ou simplesmente Japão, filho de uma potiguar e de um mineiro, nasceu em Itajubá, sul de Minas Gerais em 24 de março 1946. Ganhou o apelido na infância por causa de seus olhos “rasgados” e ainda hoje é conhecido por tal. Seu interesse pela filosofia o levou a Mariana em 1964, onde se graduou-se pela Pontifícia Universidade Católica. A militância na Ação Católica e a busca por instrumentos de intervenção na sociedade despertaram o interesse de Gabriel no curso de Ciência Sociais da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.
A graduação na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas – FAFICH, ainda na Avenida Carangola, ocorreu de 1968 a 1971. Durante a graduação foi influenciado por professores como Otávio Cintra, Lincoln Prates, José Armando, José Murilo de Carvalho, dentre outros. Durante o curso participou do movimento que criou um curso paralelo de Ciências Sociais no subsolo da antiga FAFICH. O curso tinha participação de alunos e professores da casa e convidados. Contava com disciplinas que não existiam na grade curricular até então, como matemática, estatística e demografia. A ideia era se contrapor ao caráter conservador da grade curricular existente. Foi um momento de intenso debate até que com o AI5 e a repressão mais dura o curso foi interrompido. Posteriormente as disciplinas foram incorporadas em uma nova grade curricular, o que demonstra a importância do movimento.
No ano de 1972 entrou no mestrado em Ciência Política, também na UFMG e completou os créditos em 1974, defendendo a dissertação intitulada “As Classes Sociais no Espaço Urbano de Belo Horizonte”, orientada pela professora Maria Mercês Somarriba. Foi fortemente influenciado pela sociologia através de Jorge Balan e Elizabeth Jelin, ambos argentinos. Apesar do mestrado ser em Ciência Política, os professores sociólogos tinham forte influência na formação dos alunos. Ainda não havia um grupo suficiente de professores para formar uma pós-graduação em Sociologia, o que somente ocorreu com a criação do mestrado em 1981.
Assim que terminou o curso de Ciências Sociais começou a dar aula no ciclo básico da FAFICH em 1974. Nesse período participou da proposta de reformulação do ciclo básico. Ainda durante o mestrado, foi convidado por Miguel Arroyo para trabalhar na Fundação João Pinheiro – FJP no ano de 1973, em um projeto de desenvolvimento dos antigos territórios federais na Amazônia.
A geração do professor João Gabriel Teixeira é marcada por uma atuação política em movimentos sociais, mas também de atuação profissional no seio do Estado. No caso da pesquisa executada pela FJP, a primeira inserção foi no então futuro estado de Roraima, onde faziam diagnósticos e formulavam propostas de administração dos serviços de saúde. Depois coordenou a equipe no então futuro estado de Rondônia, onde vivenciou bem de perto as contradições do desenvolvimentismo, principalmente suas manifestações no urbano. Durante a execução de seu trabalho, pode se aproximar do cotidiano dos indivíduos desses novos centros urbanos através do levantamento dos deslocamentos individuais e caracterização socioeconômica. Ao mesmo tempo em que coletava e sistematizava dados, produzia relatórios e monitorava as atividades planejadas.
Sua carreira acadêmica e na gestão pública aconteceu simultaneamente e a experiência nos diversos órgãos governamentais fortaleceu sua atuação como pesquisador. Em 1975, mediante processo seletivo, efetivou seu vínculo como professor auxiliar na UFMG. Lecionou em diversos cursos as disciplinas da sociologia atuando também na pós-graduação, em cursos de especialização em sociologia, em ciência política e em urbanismo, além de participar de diversas pesquisas. Dois temas despertaram seu maior interesse: espaço e sociedade, especialmente a relação entre o espaço e a sociedade mediada pela vida urbana centrada no foco intra-urbano e a gestão, com destaque para a gestão metropolitana, governança, negociações, parcerias e poder local. Aposentou-se em 2007 como professor assistente.
Em 1978 foi convidado a trabalhar como Técnico de Nível Superior na Superintendência de Desenvolvimento da RMBH – Plambel, onde permaneceu até 1996. Participou do planejamento e coordenação da primeira Pesquisa domiciliar Origem-destino, que teve grande impacto na gestão pública da RMBH. Planejou e coordenou pesquisas sobre economia urbana e estudos básicos sobre a organização socioespacial da RMBH. Sua atuação foi marcada por uma mudança substantiva na forma como o espaço passou a ser tratado na teoria e nas práticas do poder público. Até então, prevalecia a visão do espaço como derivado das relações econômicas, João Gabriel teve forte influência na construção de um olhar da produção do espaço a partir das questões sociais, levando-se em consideração, também, os problemas ambientais. Essa mudança na forma de compreender as relações no espaço levou também a uma outra compreensão da RMBH baseada em suas regiões homogêneas, na circulação das pessoas e apropriação dos espaços. As pesquisas produzidas forneceram as diretrizes para diversas políticas públicas que tiveram grande impacto nos sistemas de transporte, educação, saúde, dentre outros.
Em 1992 começou a formação do Centro de Estudos Urbanos -CEURB, na FAFICH/UFMG. Em 1993 o CEURB foi responsável por diversos estudos e pesquisas em parceria com órgãos públicos, como a FJP. O Centro passou a atuar não só com professores do Departamento de Sociologia e Antropologia, mas também em colaboração com outras unidades da UFMG, como o Departamento de Geografia, o Departamento de Demografia e o Departamento de Urbanismo da Escola de Arquitetura. O professor João Teixeira Gabriel atuou ativamente no CEURB, junto com os professores Berenice Guimarães, Cristina Filgueiras, Flávio Saliba, José Moreira de Souza, Jupira Mendonça, Maria de Lourdes Dolabela, Mercês Somarriba, Sérgio de Azevedo, Stael Rocha, Virgínia Rennó, Vicente Rocha, dentre outros. Além dos vários bolsistas de iniciação científica e pós-graduandos.
O CEURB abriu outras possibilidades de atuação no setor governamental, especialmente em municípios da RMBH, como Contagem, Betim e Belo Horizonte. No final dos anos de 1990 e na primeira década dos anos 2000 Japão prestou consultoria para prefeituras. Planejou e coordenou vários diagnósticos nesses municípios, bem como produziu avaliação dos seus programas. Se a busca por ferramentas de intervenção na sociedade motivou Japão a procurar o curso de Ciências Sociais, a sua carreira mostra que não só as encontrou, como soube utilizá-las com maestria.
Sugestões de obras do autor:
TEIXEIRA, João Gabriel; GUIMARÃES, B. M. ; AZEVEDO, S. ; SANTANA, S. L. R. ; ROCHA, V. E. ; FIGUEIRAS, C. A. . Belo Horizonte em tese. nsa. ed. Belo Horizonte: UFMG, 1995. v. 1. 324p.
TEIXEIRA, João Gabriel; SOUZA, José Moreira de. Desigualdade sócio-espacial e migração intra-urbana na Região Metropolitana de Belo Horizonte 80-91. Cadernos Metrópole (PUCSP), São Paulo, v. 1, n.nsa, p. 99-136, 1999.
TEIXEIRA, João Gabriel; SOUZA, José Moreira de. Espaço e Sociedade na Grande BH. In: Jupira Gomes de Mendonça; Maria Helena de Lacerda Godinho. (Org.). População, espaço e gestão na metrópole: novas configurações, velhas desigualdades. 1ed.Belo Horizonte: PUC- MINAS – CNPq – PRONEX, 2003, v. 1, p. 1-308.
TEIXEIRA, João Gabriel; VIEIRA, M. A. M. ; ROCHA, V. E. ; COSTA, D. M. ; GUIA, V. R. M. ; VELOSO, M. E. L. . Estrutura Urbana da Região Metropolitana de Belo Horizonte. PLAMBEL 1986.