Por Iracema Brandão Guimarães (UFBA)
A partir da década de 1960, os primeiros momentos da renovação e desenvolvimento das Ciências Sociais no Brasil se revelaram com uma crescente participação de professores e pesquisadores cuja formação era predominante em sociologia. Introduzindo uma perspectiva de pesquisa empírica e um conhecimento mais comprometido com a nossa realidade, refletiam, provavelmente, uma estratégia da Unesco de promover as Ciências Sociais na América Latina e seus desafios presentes nos anos 1950 e 1960 .
Neste contexto, Inaiá Maria Moreira de Carvalho, nascida em Salvador, Bahia, realizou sua graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia em 1966, onde também cursou o Mestrado em Sociologia, concluído em 1970. Realizou o curso de Doutorado em Sociologia na USP, finalizado em 1986, sob a orientação de Reginaldo Prandi, defendendo a tese “O Nordeste e o Regime Autoritário”, (depois publicada em livro). A tese focaliza a proposta original de Celso Furtado, a construção de um projeto desenvolvimentista, o modo como foi abortado, e os acontecimentos posteriores, analisados a partir dos planos diretores, das atas do conselho do desenvolvimento da SUDENE, além de entrevistas realizadas com Euler Bentes, Miguel Arraes, e outros, contando com a influência intelectual do sociólogo Francisco de Oliveira (1933-2019). Inaiá ingressou na UFBA como docente em 1969, num momento em que o curso de Ciências Sociais se expandia com grande aumento do número de vagas. Entre outras disciplinas, ensinava Sociologia do Desenvolvimento, voltada para questões do trabalho, marginalidade, setor informal e pobreza, o que representou a sua primeira contribuição para a formação de gerações e para a profissionalização da Sociologia na região.
Suas pesquisas voltaram-se para o estudo do desenvolvimento regional, particularmente do estado da Bahia, com foco na cidade de Salvador que passava por transformações econômicas ligadas à atuação de setores de planejamento. Foi influenciada pelo pensamento Cepalino, aprofundando-se em estudos sobre o desenvolvimento da urbanização e suas especificidades na América Latina, tendo como referência a teoria da dependência.
Participou, juntamente com outros colegas pesquisadores, das articulações que levaram à criação do Programa de Recursos Humanos, CRH, no ano de 1969, atualmente Centro de Pesquisas e Humanidades da UFBA. Desenvolveu diversos projetos individuais e institucionais focalizando a força de trabalho, e o desenvolvimento nacional e local, tendo contribuído com as primeiras publicações sobre o trabalho e a pobreza na região.
A partir do ano de 1986, teve atuação de destaque junto a associações científicas como a Anpocs, a Sociedade Brasileira de Sociologia, e a SBPC. Foi uma das coordenadoras do 15° Congresso Brasileiro de Sociologia no ano de 2013, na cidade de Salvador. Ao longo de toda a sua trajetória manteve-se na equipe do Centro de Recursos Humanos/CRH, atuando como docente no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFBA. Orientou 28 dissertações de mestrado e cinco teses de doutorado, sendo autora de 47 artigos publicados em periódicos, 43 capitulos de livros, e organizadora de sete livros, mantendo-se como Bolsista de Produtividade em Pesquisa do Cnpq por todo esse período.
Inaiá participa da rede de pesquisadores do Observatório das Metrópoles, sediada no Rio de Janeiro e organizada em núcleos em 12 estados do Brasil, contribuindo com análises da estrutura urbana e das transformações da sociedade brasileira, marcada por um padrão de desenvolvimento perverso, na medida em que reproduz as desigualdades, as vulnerabilidades e a pobreza da maioria da população.
Pela sua contribuição para o desenvolvimento da Sociologia no Brasil, em 2021 foi contemplada, pela Sociedade Brasileira de Sociologia com o Prêmio Florestan Fernandes.
Sugestões de obras da autora:
Carvalho, I M M. O TRABALHO INFANTIL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO. CADERNO CRH, Salvador, v. 21, n. 54, p. 551-569, Set./Dez. 2008
Carvalho, I M M; Gilbert C. Pereira. Dinamica de uma metropoli periférica em Brasil. Estudios Demograficos y Urbanos, p. 395, vol. 25, no. 2, 2010. Mexico.
Carvalho, Inaiá Maia Moreira de; Gilberto Corso Pereira. Como anda Salvador e sua Região Metropolitana/ organização – Salvador; Edufba, 2008. 228 p
Carvalho, I. M. M.; Fernandes, Cláudia Monteiro . Vulnerabilidade ocupacional e social nas grandes metrópoles brasileiras. Cadernos Metrópole, (PUC-SP) , v. 20, p. 797-822, 2018.
Carvalho, I. M. M; Borges, A. C. . Revisitando os Efeitos de Lugar: segregação e acesso ao mercado de trabalho em uma metrópole brasileira. Cadernos CRH (Online) , v. 30, p.121-136, 2017.
Carvalho, I.M.M; Guimarães, I.B; Bogus, L.M.M. Entre os estudos urbanos e a sociologia urbana. Revista Brasileira de Sociologia, v.6, p. 200-221, 2018.
Sobre a autora:
Inaia Maria Moreira de Carvalho –“Memória das Ciências Sociais no Brasil” , CPDOC, https://cpdoc.fgv.br/cientistassociais/inaiamoreira