Por Luiz Paulo de Oliveira (UFRB) e
Selma Cristina Silva (UFBA)
Maria da Graça Druck de Faria nasceu em Porto Alegre/RS, em 1953. Em 1971, iniciou a graduação em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, graduando-se em 1975. Foi nesse período que a jovem gaúcha começou a militância política no movimento estudantil e atuou em uma organização clandestina no período da ditadura militar. Por meio da militância conheceu Marx e o marxismo, que se constituíram em suas principais referências na vida político-acadêmica, germe do seu engajamento intelectual com as lutas das classes trabalhadoras, que posteriormente se expressará no “fazer-se” de sua sociologia pública do trabalho.
Em 1976, migrou para o estado de São Paulo para trabalhar e dar continuidade às suas atividades de militância política durante 10 anos. Após este período, mais precisamente em 1986, ingressou no Mestrado em Ciência Política na Unicamp, fato que marcou seu retorno à vida universitária e a descoberta da docência, iniciando sua experiência como professora do Departamento de Ciências Sociais da PUC de Campinas. Em 1989, ingressou no doutorado em Ciência Sociais da Unicamp, dando continuidade aos seus estudos na área do trabalho.
Em 1991, Graça Druck mudou-se para Salvador/Bahia por razões pessoais e profissionais, passando a compor, logo em 1992, o quadro de pesquisadoras(es) do Centro de Estudos e Pesquisas em Humanidades (CRH), órgão suplementar da UFBA e vinculado à FFCH. A experiência coletiva de pesquisa nesse centro de pesquisa foi fundamental para o desenvolvimento e a redefinição do objeto empírico de estudo de sua tese de doutoramento sobre a terceirização do trabalho. Por certo, o seu ingresso em 1992 na condição de professora concursada do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), foi um passo decisivo para o desenvolvimento da sua carreira acadêmica.
A tese de doutorado, intitulada Terceirização: (Des)Fordizando a Fábrica – um estudo do complexo petroquímico da Bahia, defendida em 1995 e publicada na Coleção Mundos do Trabalho da Editora Boitempo em 1999, é o seu trabalho intelectual de maior densidade teórico-analítica, referência no campo de estudos da Sociologia do Trabalho, cujas conclusões permanecem atuais para compreensão da epidemia da terceirização, principal estratégia de precarização social do trabalho no Brasil.
Nos anos posteriores, a sua atuação profissional será marcada pela dedicação à formação de novas gerações, desde a iniciação científica à pós-graduação e pelo seu “desempenho apaixonado” em sala de aula, contribuindo hoje para a existência de inúmeros (as) pesquisadoras(es) e professores universitários, inseridos em diferentes instituições públicas de ensino superior do país e pela participação ativa e colaborativa em diversas atividades formativas organizadas por instituições públicas, universidades, organizações da sociedade civil, sindicatos e centrais sindicais, com destaque para os cursos de formação de lideranças sindicais na Bahia e no Nordeste. No campo da pesquisa, tornou-se uma das principais referências na área da sociologia do trabalho do país, com vasta produção bibliográfica veiculada em periódicos nacionais e internacionais, em livros e capítulos de livros com elevada excelência acadêmica.
No final dos anos de 1990 dedicou-se a estudar o processo de reestruturação produtiva e suas implicações no trabalho e emprego em vários setores, a exemplo da indústria química e petroquímica, e do setor bancário. Nos anos de 2000, ocupou cargos de gestão da UFBA, assumindo a coordenação do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (2020-2002) e a coordenação do CRH/UFBA (2003-2005). Contudo, dará continuidade às suas atividades de ensino e pesquisa, agregando novos objetos pesquisa, tais como: trabalho informal na cidade de Salvador, e estudos empíricos sobre flexibilização e precarização do trabalho no Brasil, com o apoio institucional do CNPq, através de bolsa de produtividade e apoio do programa PIBIC-UFBA.
Uma década após a realização da pesquisa pioneira sobre a terceirização no Complexo Petroquímico de Camaçari em 1994, coordenou juntamente com Tânia Franco uma nova pesquisa, intitulada “Terceirização: uma década de mudanças”, entre 2004 e 2006, com o patrocínio da Petrobras e a colaboração técnica da Delegacia Regional do Trabalho/BA. Os resultados dessa pesquisa foram publicados no livro A perda da razão social do trabalho – terceirização e precarização, organizado por Graça Druck e Tânia Franco, editado pela Boitempo, em 2007.
Em 2006, como resultado de uma parceria de 20 anos com a pesquisadora Annie Thebaud-Mony (INSERM/ EHESS/Paris 13), realizou seu pós-doutorado na Universidade de Paris 13 (França), com apoio institucional da CAPES. Esse período de estudo em Paris possibilitou um reencontro com Helena Hirata (CNRS-França), que se constituiu em uma referência fundamental para o desenvolvimento da pesquisa de pós-doutorado, de uma perspectiva comparada intitulada Flexibilização e Precarização do Trabalho – um estudo comparativo França-Brasil.
A partir da segunda metade da década de 2000, a sua agenda de pesquisa e de produção intelectual concentrou esforços analíticos no debate conceitual e empírico sobre a precarização social do trabalho, resultando na construção de um sistema de indicadores empíricos sobre precarização social do trabalho e suas formas de resistências, considerando as especificidades históricas do mercado de trabalho no Brasil. Os resultados dessa agenda de pesquisa foram publicados, debatidos, e compartilhados com os seus pares nos principais eventos das associações científicas da área da sociologia do trabalho (SBS, ANPOCS, ABET, ALAS, ALAST etc.); com trabalhadoras(es) e lideranças sindicais; com parlamentares; e com operadores do direito do trabalho e membros de instituições públicas do trabalho (Justiça do Trabalho, Ministério Público do Trabalho).
Em 2019, em parceria com Jair Batista da Silva, publicou o livro Trabalho, Precarização e Resistências, pela Edufba, uma coletânea que reúne textos com resultados de pesquisas dos membros do grupo de pesquisa do CRH, que expressa uma marca fundamental em sua trajetória, a centralidade do trabalho coletivo.
Graça Druck participa de várias instituições e redes de pesquisa, a exemplo da REMIR (Rede de Estudos e Monitoramento Interdisciplinar da Reforma Trabalhista); do GT CLACSO – Reformas Trabalhistas na América Latina; lidera o Grupo de Pesquisas do CNPq Trabalho, Trabalhadores e Reprodução Social; é membro do Conselho Científico do Centro de Estudos e Pesquisas em Humanidades (CRH), faz parte do Conselho de Redação do Caderno CRH e é pesquisadora do CNPq. A trajetória acadêmica de Graça Druck é profundamente marcada pelo seu engajamento intelectual e crítico frente às desigualdades e contradições intrínsecas à relação capital e trabalho na sociedade capitalista, em particular na sociedade brasileira. A sua atuação crítica contra os processos de terceirização, a precarização do trabalho, as reformas trabalhista, da previdência e administrativa no setor público são expressões do seu comprometimento com as classes trabalhadoras, demonstrando a sua coerência com a sociologia crítica e marxista.
Na condição de professora titular aposentada, desde 2016, mantém-se ativa, atuando nos Programas de Pós-Graduação de Ciências Sociais e de Serviço Social na UFBA, onde ministra aulas e realiza orientações. Tem se dedicado às atividades de pesquisa sobre a terceirização nos serviços públicos, no Brasil e na Argentina. E para não fugir à regra, permanece combativa na luta contra a epidemia da terceirização, a escalada do autoritarismo e do neofascismo, e em defesa da universidade pública.
Sugestões de obras da autora:
DRUCK, M. G. A tragédia neoliberal, a pandemia e o lugar do trabalho. O SOCIAL EM QUESTÃO (ONLINE), v. 49, p. 11-34, 2021.
DRUCK, M. G.; ANTUNES, R. A epidemia da terceirização. In: Ricardo Antunes. (Org.). Riqueza e Miséria do Trabalho III. 1ed. São Paulo: Boitempo, 2014, v. III, p. 13-24.
DRUCK, M. G. Trabalho, precarização e resistências. Cadernos CRH, v. 24, p. 35-54, 2011.
DRUCK, M. G.; FRANCO, T. A perda da razão social do trabalho: precarização e terceirização. 01. ed. São Paulo: Ed. Boitempo, 2007. v. 01. 235p.
DRUCK, M. G. Terceirização: (des)fordizando a fábrica – um estudo do complexo petroquímico. 02. ed. Salvador/São Paulo: Edufba/Boitempo, 1 ª ed. (1999), 1ª reimpressão (2001), 1999. 280p.