Por Carlos Eduardo Sell (UFSC)
Franz Josef Brüseke nasceu em 1954 na cidade de Hamm (Alemanha), na região industrial do Ruhr. Filho de uma família católica de operários, realizou seus estudos de nível primário (1960-1964) na Volksschule de Hamm e de 1965 a 1972 frequentou o ensino médio no Ginásio Freiherr-vom-Stein, da mesma cidade. Ingressou em 1972 na Universidade de Münster na qual estudou Sociologia, Letras (Alemão), Filosofia e Pedagogia, estudos que concluiu com mestrado em sociologia no ano de 1977, sob a orientação de Arno Klönne (1931-2015), com uma dissertação intitulada Contribuições para uma teoria marxista do Estado. Em 1979 iniciou, com o mesmo orientador, seu doutorado que concluiu em 1982 com a tese Sociologia do Estado: posições da oposição de esquerda no movimento operário alemão de 1905 a 1918. Durante seu período de estudos nos anos 1970 também participou no movimento estudantil e atuou especialmente na imprensa alternativa, tendo sido redator da revista Knipperdolling.
Após exercer a função de Diretor de departamento da Volkshochschule de Hamm (1982-1987), recebeu uma bolsa da Deutschen Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ/CIM) para atuar na construção de um programa de pós-graduação em Desenvolvimento Sustentável no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), em Belém do Pará (1987-1991). Sua pesquisa volta-se, assim, para a ecologia política e, no final de 1987, ele passou a integrar o corpo docente do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA). No NAEA, na mesma universidade, exerceu a função de primeiro coordenador do Programa de Pós-Gradução em Desenvolvimento Sustentável dos Trópicos. Em 1998 ingressou por concurso na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na qual fundou o SOCITEC – Núcleo de Estudos em Sociedade, Técnica e Ciência. Em 2006 obteve nova transferência, depois concurso, para a Universidade Federal de Sergipe (UFS), na qual aposentou-se em 2016.
Em sua primeira fase de pesquisa na Amazônia, a obra de Brüseke procurou refletir sobre o tema da industrialização e do desenvolvimento sustentável à luz de novas perspectivas teóricas, em particular a teoria do caos determinístico. Neste período trabalhou em pareceria com Elmar Altvater (1938-2018), junto ao qual realizou, em 1991, um ano de pesquisas de pós-doutorado na Universidade Livre de Berlim. Também publicou o livro Riqueza Volátil (1997) que discute resultados de pesquisas realizadas, entre 1994 e 1997, com Mathis e Daniel Chaves de Brito, sobre as atividades do garimpo de ouro na Amazônia. Sua reflexão sobre a relação sociedade e natureza aprofunda-se em 1996 com o livro A lógica da decadência (1996) no qual reflete sobre a crise da modernidade a partir da relação entre caos e ordem.
Com o seu deslocamento para o Sul do Brasil, a pesquisa de Brüseke amplia-se na direção de uma ampla e original sociologia da modernidade. Tendo como pano de fundo a filosofia de Martin Heidegger, ele desenvolve a Teoria da Modernidade Técnica, tema que aprofunda especialmente no seu livro A técnica e os riscos da modernidade (2001). Indo além de uma sociologia da tecnologia concebida apenas como sociologia específica, sua teoria procura demonstrar que não é a modernidade cultural e sim a racionalidade da ciência e da técnica o elemento determinante para a compreensão de nossa era e do modo como ela dispõe a relação do ser humano com o mundo: a materialização, a homogeneização, a funcionalização, a polarização entre sujeito e objeto, o cálculo, a vontade do poder, a imposição, a dominação, o fabricar e manusear, o consumo e a substituição. É neste sentido que podemos falar do dispositivo [Gestell] técnico.
A partir de sua análise crítica da racionalidade técnica sua pesquisa abre-se também para a análise do pensamento paradoxal que aborda através do estudo do pensamento místico (Mística e Sociedade, em parceria com Carlos Eduardo Sell, de 2004). No seu período no Nordeste do Brasil sua reflexão sobre a modernidade técnica se aprofunda com a noção de contingência, categoria que supera a oposição necessidade versus acaso e evidencia que a lógica da técnica não é tanto a racionalidade de fins, mas a racionalidade contingente. A contingência indica que a lógica imanente da técnica moderna inclui tanto as leis da necessidade (“algo é como é”) quanto as possibilidades e alternativas não realizadas (“mas poderia ser diferente”).
Franz Josef Brüseke reside em Florianópolis. Retomando sua rica experiência européia e brasileira, seus temas sociológicos, filosófico-existenciais e políticos, em particular a relação entre caos, técnica e contingência, continuam a ser aprofundados através da literatura, tendo ele já publicado, na Alemanha, quatro livros: Hans Noll na Amazônia (2019); Gringo: uma história global (2020); Wassermann (2020) e Zeus e Goldenberg (2021).
Sugestões de obras do autor:
BRÜSEKE, Franz Josef. A modernidade técnica: contingência, irracionalidade e possibilidade. Florianópolis: Editora Insular, 2010. v. 1. 287p .
BRÜSEKE, Franz Josef. SELL, C. E. . Mística e Sociedade. São Paulo e Itajaí: Paulinas e Univali, 2006, 203p .
BRÜSEKE, Franz Josef.. A Técnica e os Riscos da Modernidade. Florianópolis: Editora da UFSC, 2001, 216p .
BRÜSEKE, Franz Josef.; Mathis, Armin ; Brito, Daniel Chaves de. Riqueza volátil: a mineração de ouro na Amazônia. Belém: CEJUP, 1997. 290p .
BRÜSEKE, Franz Josef. A Logica da Decadência. Belém: CEJUP, 1996, 327p .