Francisco Chagas Evangelista Rabelo

Por Marcelo Brice Assis Noronha (UFT) e Hemerson Ferreira Júnior (UFNT).

Francisco Chagas Evangelista Rabelo reúne características que o fizeram, por gerações, presente no imaginário da Sociologia em Goiás e, também, levaram-no a colaborar com aspectos fundamentais da sociologia brasileira. Com uma carreira institucional duradoura (1977-2015) na Universidade Federal de Goiás, Chico Rabelo foi parte fundamental da profissionalização da Sociologia e da formação em Sociologia no estado de Goiás.

Graduado em Ciências Sociais pela UFG, nas primeiras turmas (1972), obteve o mestrado em Ciência Política na UFMG (1976), sob orientação do professor José Murilo de Carvalho, com a dissertação: “Governo Mauro Borges: Tradicionalismo, Planejamento e Mobilização Social em Goiás (1961-1964) ”. Tornou-se professor efetivo da UFG em 1977, com uma rápida passagem pela PUC-MG e pela PUC-GO. Em 1993, obteve o título de doutor em Sociologia pela USP, sob orientação de José Jeremias de Oliveira Filho, com a tese: “Programa Forte em Sociologia da Ciência – um Estudo de Caso”.

Nascido em 06/06/1947, na cidade de Morada Nova – Ceará, muda-se com a família para Goiás na década de 1950. Vivencia o tráfego de uma realidade de dois extremos do Brasil que ao mesmo tempo se assemelham mediante padrões, permanências, máximas e dificuldades de mudanças, em um tempo de alterações, com todos os seus desdobramentos.

A sua atividade sociológica foi uma “experiência radical”, na medida em que esteve envolvido em âmbitos distintos da vida das ciências sociais: administrativamente, no ensino, como pesquisador e como aquele que ressoa para fora da universidade.

Incialmente, no desabrochar da carreira de professor, desenvolveu uma pesquisa marcante sobre o governo Mauro Borges, mesclando os tópicos de tradição, planejamento e mobilização social, que, de certo modo, fundaram a ideia de modernidade no sertão do Centro-Oeste. Nesse sentido, ganhavam destaque a noção de planejamento, amplamente difundida nos estudos de sociologia, e a noção de desenvolvimento, tão frequente na agenda política desde então. Esse trabalho rende ao professor menções e referências constantes quando são levantados temas dessa ordem.

Nos anos que se seguiram, atuou de modo efetivo na consolidação das ciências sociais em Goiás, na formação de alunos, na inserção de temas e quadros técnicos no aparato institucional, além de animar um conjunto de questões que faziam a imbricação dos motes da institucionalidade e da cultura como campo sociológico a certa altura dos anos 1980.

Em decorrência do aprofundamento de suas pesquisas em Sociologia da Ciência, primeiramente como amparo para as epistemologias das ciências sociais que acarretavam em formas de metodologias de pesquisa em específico, e também ao pensar o espaço público, talvez ao modo habermasiano, e após ter feito certo percurso pelas noções de planejamento e desenvolvimento como singularidades culturais – Chico Rabelo se dedicou na sua tese de doutorado a investigar o modo com a ciência era produzida em Goiás. Ressalta-se como aparece a goianidade, como razão de uma cultura rural, e a modernidade, como forma de saída ou fuga com a qual as ciências, em especial as sociais e as humanas, pautavam e aspiravam a realidade e o novo.

Comentados os trabalhos que garantiram a obtenção dos títulos, é preciso mencionar como há, correntemente, desdobramentos nas orientações de investigações vinculadas a essas pesquisas. Mas, como o professor Chico Rabelo teve passagem enraizada e longa no Departamento de Ciências Sociais da UFG, esses são pontos, entre tantos outros, que reverberaram a imagem de um “sociólogo por vocação”.

Como consequência das diversas funções de membro de comissões, de coordenador de curso, de chefe de departamento, de coordenador de pós-graduação, tanto a stricto sensu quanto a lato sensu, exercidas por mais de uma vez, granjeou reconhecimento social e credibilidade para o curso de ciências sociais, formando uma rede de comunicação, com relações, parcerias, conexões, pareceres, análises e estudos produzidos por meio do curso. Fundou e coordenou o Laboratório de Imagem, Som e Texto (LIST) que reuniu um acervo considerável e rico no universo das ciências sociais.

Em esforço combinado com vários pares ao longo dos anos, Chico Rabelo forneceu o sociologuês aos alunos e, por extensão, aos espaços por onde esses alunos passaram. O professor fundou com colegas a Revista “Sociedade e Cultura”, assim como as primeiras pós-graduações da Faculdade de Ciências Sociais, que já tinha sido parte do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) e depois Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia (FCHF). Entronizou um cuidado com a leitura, dos clássicos e dos contemporâneos, e com as abordagens de pesquisa.

Não menos importante é o fato de ter estado na transição de gerações de profissionais dedicados à formação de cientistas sociais na UFG; por essa razão, participou ativamente da profissionalização das ciências sociais, de sua consolidação e de sua expansão. Assistiu à especialização científica, contribuindo para a afirmação do campo da sociologia em Goiás, como também acompanhou as lutas políticas universitárias, algumas por meio de greves, ainda sob o regime militar.

É notória a participação do professor Chico Rabelo em bancas de doutorado de colegas professores que muitos contribuíram para a Faculdade de Ciências Sociais. Até os anos 2000, Chico Rabelo figurou no debate a partir do centro do Brasil quanto a questões que envolviam sociologicamente, mas também antropologicamente e politicamente, os temas do desenvolvimento, do planejamento e do fazer nas e das ciências sociais.

Do ano 2000 em diante, com o lançamento do mestrado e depois do doutorado em sociologia, se percebe um maior direcionamento para outros grandes temas, configurando uma adição de preocupações teóricas. Como sub-coordenador de projeto financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), tendo como norte “Violência Urbana no Estado de Goiás”, foi fortalecida a parceria profissional com a professora Dalva Borges de Souza. Com orientações e pesquisas sobre “Envelhecimento”, “Cultura Jovem” e “Tecnologia”, construiu ligações entre micro e macrossociologia.

Ao inserir Pierre Bourdieu no universo científico da FCS-UFG, o campo científico será um dos seus motes e espaço, inclusivamente pela ideia de reprodução e distinção na vida social. Ao nosso ver, um desdobramento do seu âmbito de pesquisa inicial.

Para além das epistemologias e como um de seus recortes, estudou, orientou trabalhos e participou de bancas sobre Arte e Cultura, num vínculo entre pensamento social, mercado e produção de sentido. Quando a linguagem da música ajuda a formar a noção de identidade ou a interpretação literária e as disputas em torno de um ou outro grande escritor da literatura brasileira fomentam a expressão das ideias, a sociologia da cultura ganha contornos teóricos efetivos.

A tarefa, o papel e o legado de Chico Rabelo, professor titular e, mesmo aposentado, colaborador do programa de pós-graduação, servem como exemplo e como matiz de uma história de dedicação à sociologia, ao entendimento, à compreensão e ao confronto com a realidade social.

Sugestões de bibliografia do autor:

RABELO, F. C. E.. Desenvolvimento e identidade: parâmetros da reconstrução das ciências sociais e humanas em Goiás. Sociedade e Cultura, Goiânia, v. 1, n.1, p. 63-69, 1998.

RABELO, F. C. E.. Mobilização social e tradicionalismo político em Goiás (Governo Mauro Borges, 1961-1964). In: Dalva Borges Souza. (Org.). Goiás: sociedade e Estado. 1ed.Goiânia: Cânone Editorial, 2004, v. 1. p. 51-84.

RABELO, F. C. E.. Relevância de Max Weber nas Ciências Sociais e da Religião no Brasil e na América Latina. Caminhos (UCG), Goiânia, v. 3, n.2, p. 197-209, 2005.

RABELO, F. C. E.. SOUZA, Dalva Borges de. Violência, poder e autoridade em Goiás. Goiânia: Ed. da UFG, 2006. (resenha). Sociedade e Cultura, v. 10, p. 151-154, 2007.