Ernesto Renan Melo de Freitas Pinto

Por José Vicente Tavares (UFRGS)

Renan Freitas Pinto nasceu em Maceió, Alagoas, em 1943. Desde muito jovem é um apreciador de livros. Herdou do seu pai o gosto pela leitura. Em sua residência havia uma coleção fantástica de livros sobre a Amazônia. Seu pai era um comprador e leitor voraz de livros que ocupavam os espaços da sala e adentravam pelos quartos da casa. Em seu quarto havia uma estante completa das obras de Machado de Assis, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do Rêgo, Raquel de Queiroz, e Guimarães Rosa e outros da literatura brasileira. Havia também muitos livros de História da Arte e de Dalcídio Jurandir. Estudou no Colégio Presbiteriano, em Maceió, morou em Fortaleza, depois foi morar em Manaus, e cursou o Secundário no C.E. Dom Pedro II. Seus familiares eram músicos, literatos e intelectuais amazônicos.

Cursou a graduação em Letras, Língua e Literatura Inglesa, na Universidade Federal do Amazonas (1969-1972). Realizou curso de aperfeiçoamento em Television Broadcasting Management (Japan International Cooperation, Japão, 1976). Outra especialização foi sobre “A Amazônia de Tavares Bastos”, realizada na UFAM, orientado por Elter Dias Maciel (1965 – 1969); também realizou um aperfeiçoamento em Língua Portuguesa (1972 – 1972), na Universidade Federal do Paraná. Em 1974, entrou como professor auxiliar na então Universidade do Amazonas (UA), tendo se tornado professor titular em 2001 e professor emérito em 2023. Desde 2012 é membro da Academia Amazonense de Letras desde 2012.

Cursou o Mestrado em Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1982) e o doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1987 – 1992). Realizou Pós-Doutorado na Universidade de São Paulo, USP (2011-2012).
Tem experiência na área de Sociologia, trabalhando, com audácia interdisciplinar, nos seguintes temas: Amazônia, pensamento social, história das ideias, teoria sociológica, sociologia brasileira.

Suas experiências de trabalho intelectual tem sido: Rádio e Televisão, Sociologia brasileira, Florestan Fernandes, Teoria Crítica, a decolonialidade na América Latina, o Pensamento da Amazônia e Sociologia da Literatura.
1. Rádio e Televisão (1973-1978): trabalhou sobre Fotografia, Televisão Educativa, documentários sobre Filosofia, Educação cinematográfica e Comunicação.
2. Sociologia brasileira – Florestan Fernandes: escreveu a tese sobre Florestan Fernandes e a Formação do Brasil (Doutorado em Ciências Sociais (1987 – 1992, orientado por Octavio Ianni, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na qual demonstra a erudição de Florestan Fernandes, sua busca incessante de diálogos e conexões com a tradição sociológica e com os autores brasileiros, desde os estudos sobre a desintegração dos negros até a discussão sobre a revolução brasileira.
3. Teoria Sociológica: criou um núcleo de estudos sobre a Teoria Crítica, Theodor Adorno e Walter Benjamin, realizou o Pós-Doutorado na USP, sob o título: A Recepção de Theodor W. Adorno no Brasil, sob orientação do Prof. Dr. Wille Bolle.
4. Decolonialidade da América latina, livro no qual, em colaboração com Edna Castro, busca retraçar a inversão do olhar, em diversos autores do pensamento crítico latino-americano, desde José Carlos Mariátegui até Octavio Ianni e Clóvis Moura.
5. Amazônia: iniciou as pesquisas sobre os planos de desenvolvimento formulados para o Amazonas, escreveu a dissertação de Mestrado em Sociologia (1979 – 1982), na UFRGS, sob o título de “A economia da Juta em região do médio Amazonas”, orientado por José Vicente Tavares dos Santos. Posteriormente, um estudo pioneiro sobre as mulheres operárias do polo industrial e da indústria têxtil em Manaus, em conjunto com as professoras Marilene Correa da Silva Freitas, Edila Moura e Edna Castro. Nos seus estudos sobre a Zona Franca de Manaus, publicou um artigo intitulado Como se produzem as Zonas Francas, pelos Cadernos Núcleo de Alto Estudos da Amazônia – NAEA, da Universidade Federal do Pará – UFPA, em que traz uma reflexão inovadora sobre a origem das zonas francas espalhadas no mundo capitalista e ajuda a compreender a Zona Franca de Manaus.

Mais recentemente, estudou a formação e desenvolvimento do pensamento social na Amazônia, realizando um diálogo envolvendo o patrimônio material e imaterial. Através de determinados objetos, aproxima convivialidades, histórias e memórias, muitas vezes desapercebidas em nosso cotidiano. Desde Euclides da Cunha e Djalma Batista, estuda os pensadores da Amazônia, elaborando um grande painel do pensamento amazónico, comparando autores de várias gerações, em um diálogo verdadeiramente cosmopolita.

6. Sociologia da Literatura: estudo sobre a Literatura latino-americano, temas sobre a violencia, selva, opressão social, focando em autores como: Mariano Azuela, do México; Cesar Uribe Piedra Rita, colombiano; Ciro Alegria, peruano; Alejo Carpentier, cubano; Romulo Gallegos, da Venezuela; Jorge Uicasa, do Equador. Está, ainda, recompondo autores indígenas originários, como Daniel Manduruku. Enfim, estuda outros autores da Amazônia: Benedito Monteiro, Tavares Bastos, Inglês de Souza, José Verissimo, e os contemporâneos Márcio Souza e Milton Hatoum.

A trajetória de Renan Freitas Pinto passa por várias cidades e instituições – Maceió, Fortaleza, Manaus, Tokio, Porto Alegre, São Paulo, Belém – com um intenso diálogo com a sociologia, o pensamento social e a literatura, buscando utopias, em uma vasta obra, a configurar um erudito sociólogo cosmopolita.

Conforme referenciado pela Professora Elenise Scherer, da UFAM (2023), ao proferir sua saudação na outorga do título de Professor Emérito, “ao publicar o livro-coletânea Viagem das Ideias(…), o Prof. Renan nos brinda com rica e profunda análise sobre a formação do pensamento social da Amazônia desde a colonização, para recompor a constituição e a formação do pensamento social brasileiro na Amazônia, configurando-se assim como um dos intérpretes da Amazônia, um hermeneuta do pensamento social, de extrema relevância na produção do conhecimento regional. O contraponto crítico contra o imobilismo social, a ideologia do atraso, do subdesenvolvimento regional, as leituras ingênuas e romantizadas dos povos da floresta e da dramática desigualdade social na Amazônia. A viagem das ideias é, a nosso ver, a sua maior contribuição intelectual e acadêmica na Amazônia e fora dela”.

Sugestão de obras do autor:

FERREIRA, L. M. P.; PINTO, Ernesto Renan M. F.; PEDROSA, Tatiana (Orgs.). Amazônia: apontamentos de história oral. Manaus: Editora Valer, 2020.

FERREIRA, L. M. P.; PINTO, Ernesto Renan M. F.; PEDROSA, Tatiana (Orgs.). Amazônia: história, conflitos e memória. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2020.

CASTRO, Edna; PINTO, Ernesto Renan M. F. (Orgs.). Decolonialidade & Sociologia: Na América Latina. Belém: NAEA/UFPA, 2019.

PINTO, Ernesto Renan M. F. et al. (Orgs.). Ritos. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2017.

PINTO, Ernesto Renan M. F.; RIBEIRO, D. S.; TELLES, T. (Orgs.). Teoria Crítica e Adorno: ideias em constelação. Manaus: VALER, 2015.

PINTO, Ernesto Renan M. F.; BASTOS, Elide R. (Orgs.). Vozes da Amazônia II. Manaus/Amazonas: Valer/ EDUA, 2014.

PINTO, Ernesto Renan M. F. A Sociologia de Florestan Fernandes. Manaus: EDUA – Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2008.

PINTO, Ernesto Renan M. F. et al. (Orgs.). Vozes da Amazônia: Investigação sobre o pensamento social brasileiro. Manaus: EDUA, 2007.

Sobre o autor:

WITKOSKI, Antonio Carlos. Entre o passado e o futuro – Trajetórias de vida e visões de mundo da intelligentsia amazônida brasileira: Estabelecidos. Manaus: VALER, 2022, vol. I, pp. 155-213.

Agência Cenarium Amazonia. Ufam homenageia com título de Professor Emérito o sociólogo Renan Freitas Pinto. https://aamazonia.com.br/ufam-homenageia-com-titulo-de-professor-emerito-o-sociologo-renan-freitas-pinto/