Por Amurabi Oliveira (UFSC)
Elizabeth Farias da Silva, professora titular aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), nasceu em Florianópolis em 1954. Em 1972, aos 17 anos, ingressou no recém-criado curso de Ciências Sociais da UFSC, do Departamento de Sociologia, criado na Reforma Universitária de 1968. Ser discente da primeira turma do curso de Ciências Sociais foi uma opção sem qualquer hesitação dado um ambiente familiar intimamente ligado à leitura e, em especial, à literatura, sendo significativa a presença da biblioteca de seu pai em sua formação intelectual.
Formada durante os “anos de chumbo” da ditadura militar brasileira, Elizabeth foi testemunha e participou ativamente do processo de profissionalização do corpo docente da Sociologia na UFSC, tendo sido aluna de alguns professores que integraram a primeira geração a realizar uma pós-graduação stricto sensu. Ela participou e acompanhou as trajetórias pessoais e etapas de formação docente e sua dinâmica de organização da pesquisa na Universidade, além de realizar pesquisas e trabalhos de campo em âmbito local, regional e internacional, com financiamento de agências nacionais.
Sua atuação profissional teve início em 1975, ano em que se licenciou em Ciências Sociais — naquele momento não havia ainda o curso de bacharelado em Ciências Sociais–, quando foi aprovada no concurso público para assumir o posto de socióloga no Centro de Reabilitação Profissional (CRP), vinculado ao então Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Entre 1975 e 1977, atuou no INPS e realizou pesquisas no Sul do estado, no Vale do Itajaí e na Serra Catarinense.
Em meados de 1977, foi aprovada em primeiro lugar no concurso para professora do Departamento de Sociologia da UFSC, mas não assumiu o cargo, em virtude da decisão de seguir seus estudos de pós-graduação na Universidad Complutense de Madrid, Espanha, onde cursou disciplinas de doutorado durante o ano escolar 1977/78. Em 1978, realizou o curso de especialização Evaluaciones de Impacto Ambiental com bolsa da UNESCO.
A Professora Elizabeth retornou ao Brasil em novembro de 1978. Em 1980 realizou concurso público para professora colaboradora na área de Teoria Sociológica, tornando-se professora em regime de dedicação exclusiva no ano seguinte. Em 1982 iniciou o mestrado em Ciências Sociais na UFSC — O curso de Mestrado em Ciências Sociais da UFSC foi criado em 1978, e em 1985 ele se desdobrou em dois programas: o de Antropologia Social e o de Sociologia Política, atualmente Sociologia e Ciência Política.
Com o título “O MDB – PMDB em Lages – Análise de um Partido de Oposição no Governo (1972-1982)”, defendeu sua dissertação em 1985, com orientação do professor Eduardo Viola e banca examinadora formada pelos professores Osni de Medeiros Régis (1917-1991) — Além de professor da Faculdade de Direito da UFSC, Régis havia sido prefeito de Lages entre 1951 e 1954 — e Ilse Scherer-Warren. Sua dissertação deu origem ao livro “O Fracasso da Oposição no Poder – Lages: (1972-1982)”, publicado em 1994, foi e é considerado um dos pioneiros na análise empírica da transição democrática no Estado Brasileiro.
Em 1996 iniciou seu curso de doutorado na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), tendo defendido a tese “Ontogenia de uma Universidade: a Universidade Federal de Santa Catarina (1962-1980), orientada por Moacir Gadotti. Esse trabalho tornou-se uma importante referência no campo da Sociologia da Educação, especialmente para a compreensão da gênese do ensino universitário em Santa Catarina.
Ao longo de sua trajetória, se especializou no campo de pesquisa em Sociologia da Educação, realizando também um trabalho de vigorosa interface com a História, o que também se reflete nos cerca de 30 trabalhos que supervisionou na pós-graduação em Sociologia Política.
Além da experiência formativa na Espanha na década de 1970, também realizou estágios pós-doutorais na Universidade de Quebec, no Canadá, na Universidade Nacional da Colômbia, em Medellin, e na Universidade Autonoma del Estado de Morelos, Cuernavaca, México. A aproximação com os estudos na América Latina não é desprovida de causalidade, uma vez que desenvolveu, ao longo de sua trajetória, um forte diálogo com os chamados Estudos Pós-Coloniais e Decoloniais, sendo sob sua orientação, em 2013, a primeira tese defendida sobre a temática no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFSC.
Ao longo de sua formação e atuação nas Ciências Sociais de Santa Catarina, participou de momentos decisivos desde a criação do curso de graduação à fundação do doutorado em Sociologia Política em 1999. Sua trajetória se vida está associada com o próprio percurso desse campo científico no estado. Assim, sua efetiva contribuição na formação de gerações de cientistas sociais e outras formações acadêmicas, reflete na própria constituição das equipes de pesquisadores que animam o debate das ciências sociais em Santa Catarina, e ainda de investigadores que atuam em diversos locais do Brasil e do mundo.
Sugestões de obras da autora:
SILVA, Elizabeth Farias. O Fracasso da Oposição no Poder – Lages: (1972-1982). Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1994.
SILVA, Elizabeth Farias. A universidade virtual no Brasil. Tubarão: Ed. Unisul/ UNESCO-IESALC, 2003.
RIBEIRO, Betânia; SILVA, Elizabeth Farias. Na luta pela vida, úteis a si e à Pátria: perfil biográfico-profissional do professor Benjamin Flores. Cadernos de História da Educação, v. 18, p. 621-639, 2019.
RIBEIRO, Betânia; BAO, Carlos Eduardo; SILVA, Elizabeth Farias. Ensino Profissional na nova capital mineira (1909-1927): marcadores republicanos de secularização e Estado laico. History oh Education in Latin America – HistELA, v. 2, p. 1-16-16, 2019.
Sobre a autora:
SILVA, Elizabeth Farias. Memorial de Atividades Acadêmicas para Professor Titular do Magistério Superior. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/189960/MAA_Elizabeth%20SILVA_VF_v3.pdf?sequence=8&isAllowed=y