Por Maria da Graça Pinto Bulhões (UFRGS)
Elida Rubini Liedke nasceu em 15 de maio de 1949, na cidade do Rio de Janeiro. Em Porto Alegre, cursou o Bacharelado em Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS/1972), na qual veio a desenvolver suas atividades profissionais.
Sua atuação acadêmica, no ensino e na pesquisa, foi marcada por três enfoques: criticidade diante da desigualdade social dos países da semiperiferia do capitalismo globalizado, especialmente o Brasil; rigor e disciplina na realização do trabalho acadêmico, dedicado aos conhecimentos teórico-conceituais e aos empíricos; e dedicação ao desenvolvimento intelectual de seus alunos e orientandos e ao trabalho em equipe.
A criticidade diante da situação de amplas camadas da população brasileira, nas constantes crises da ordem político-econômica, vivendo sob a ameaça de ruptura de seus vínculos sociais – no trabalho, na família e nas diversas formas de convivência associativa -manifestou-se na escolha dos temas estudados no Mestrado e no Doutorado, que trataram do mundo do trabalho, na produção rural e na produção industrial respectivamente.
No Mestrado em Sociologia, na Universidade de Brasília (1977), sob a orientação de Fernando Correia Dias, sua dissertação Capitalismo e Camponeses: relações entre indústria e agricultura na produção de fumo no Rio Grande do Sul constatou que a ação empresarial da indústria do tabaco organizava e articulava a produção de centenas de pequenas propriedades familiares. Diferentemente do trabalho assalariado, tratava-se de um processo de produção que, centralizado pela ação empresarial, mantinha a individualização de cada família produtora em seu local de trabalho, ocorrendo indiretamente a remuneração da força de trabalho, através da comercialização do produto.
No Doutorado em Sociologia, na Brown University (Estados Unidos – 1987), sob a orientação de Peter B. Evans, sua tese analisou o controle do trabalho no desenvolvimento dependente, tendo como caso a indústria eletrônica nacional no Rio Grande do Sul entre o final dos anos 1970 e meados dos anos 1980. Enfocando o controle da força de trabalho no interior da empresa, no mercado de trabalho e na organização sindical, a tese apontou o Estado como o principal agente de regulação e controle das condições de trabalho, através da legislação trabalhista e da política salarial, além de mostrar como as grandes mobilizações nacionais do movimento sindical resultaram no fortalecimento de suas organizações e de sua capacidade de atuação mais independente. O estudo verificou também que a discriminação contra a mulher se revelou uma forma crucial de segmentação e controle da força de trabalho, com graves implicações no contexto mais abrangente da vida social.
O ingresso como docente no ensino universitário, por concurso público, ocorreu no Departamento de Ciências Sociais na Universidade de Brasília (1973) e, posteriormente, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1975), onde ministrou disciplinas na Graduação em Ciências Sociais e também no Programa de Pós-graduação em Sociologia.
Na docência, dedicou-se à formação de uma base teórica sólida por parte de seus alunos, imprescindível para a pesquisa empírica, lecionando regularmente, tanto na graduação como na pós-graduação, disciplinas de Teoria Sociológica Clássica e Teoria Sociológica Contemporânea. Nessas disciplinas, abordou a teoria feminista, em suas diversas formulações, com suas contribuições acerca das relações entre gênero, sexualidade e subjetividade. Lecionou também disciplinas da área da Sociologia do Trabalho, na qual desenvolveu estudos e pesquisas acadêmicas.
Durante sua vida acadêmica, orientou trabalhos de conclusão de curso de graduação, dissertações de Mestrado e teses de doutorado, em grande parte sobre temas relacionados à Sociologia do Trabalho e às políticas públicas de formação profissional. Supervisionou, igualmente, monografias de conclusão de curso de especialização, sobre temas como capacitação e geração de renda para trabalhadores em atividades comunitárias, bem como para mulheres chefes de família.
Realizou atividades como pesquisadora visitante junto ao Center for the Comparative Studies of Development da Brown University, Estados Unidos, e junto ao Institute of Development Studies da University of Sussex, Inglaterra.
No campo da pesquisa, coordenando equipes de trabalho, dedicou-se ao estudo das transformações tecnológicas e do trabalho, com suas implicações na situação socioeconômica dos trabalhadores e nas relações de gênero. Um exemplo desse trabalho de equipe foi o projeto de pesquisa Novas Tecnologias, Trabalho, Formação e Reinserção Profissional, sob sua coordenação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, realizado por uma equipe interdisciplinar (1995 a 1997). A pesquisa integrou o Programa de Pesquisa em Ciência, Tecnologia, Qualificação e Produção, tendo o CEDES/UNICAMP, como unidade executora.
Sua dedicação ao trabalho de equipe expressou-se de forma especial em duas situações profissionais. Na Universidade de Cabo Verde, como Professora Visitante do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais, com vistas à consolidação do Curso de Mestrado e à implantação do Curso de Doutorado.
Na UFRGS, entre 1996 e 2000, participou da pesquisa e também da coordenação de equipe interdisciplinar (com pesquisadores das áreas de Sociologia, Educação, Ciência Política, Economia, Administração, Estatística, entre outras) e interinstitucional (UFRGS, Fundação de Economia e Estatística do RS/FEE, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/PUCRS) – responsável pela avaliação do Plano Nacional de Qualificação Profissional no Rio Grande do Sul. Esse Plano disponibilizou no RS, somente no ano de 2000, mais de 150 mil vagas. Face à insuficiência de estudos similares de avaliação disponíveis, a equipe elaborou uma metodologia apropriada, que incluiu técnicas quantitativas e qualitativas.
Posteriormente, no campo das pesquisas de avaliação de políticas públicas de qualificação profissional, participou da coordenação da equipe da UFRGS responsável pela avaliação do PlanTeQ/RS 2007, que envolveu também pesquisadores mestres e especialistas de outras instituições, como a PUC/RS. Foi realizada uma análise comparativa dos resultados alcançados por esse Plano e pelo de 2000.
O trabalho constante e a qualidade do ensino e da produção acadêmica de Elida, testemunhados por mim, como colega de Departamento e de equipe de pesquisa na UFRGS, estiveram sempre associados à sua capacidade de colocar em primeiro lugar seu compromisso com o desenvolvimento de seus alunos e orientandos, com sua equipe de pesquisa, com a universidade pública e com a perspectiva de um Brasil socialmente mais justo e solidário.
Sugestão de obras da autora:
Liedke, Elida Rubini. Temas e conceitos relevantes no debate das ciências sociais hoje. Pensamento Plural. Pelotas [09]: 11 – 35. jul./dez. 2011.
Liedke, Elida Rubini. Breves indicações para o ensino de teoria sociológica hoje. Sociologias. Porto Alegre, ano 9, nº 17 p. 266-278. jan./jun. 2007.
Liedke, Elida Rubini. Reestruturação Produtiva e Qualificação para o Trabalho. In: Leda Gitahy; Márcia de Paula Leite. (Org.). Novas tramas produtivas: uma discussão teórico-metodológica. 1ª. ed. São Paulo: SENAC, p. 173-186, 2005.
Liedke, Elida Rubini; Maria da Graça Pinto Bulhões; Naira Lisboa Franzoi. Formação Profissional e Inserção no Mercado de Trabalho. Reflexões acerca de resultados da pesquisa de acompanhamento dos egressos do Plano Estadual de Qualificação de 1997 – Rio Grande do Sul – Brasil. Sociologias. Porto
Alegre v. 3, n. 2, p. 74-92, jan./jun. 2000.
Liedke, Elida Rubini. Mercado de Trabalho e Formação Profissional. Revista Brasileira de Educação. São Paulo, n. 4, p. 60-76. jan./fev./Mar./Abr.1997.