Dalva Maria Borges de Lima Dias de Souza

Por Najla Franco Frattari (IFG)

Dalva Borges de Souza nasceu em 12 de setembro de 1951, na cidade de Goiânia. Na adolescência frequentou o “curso científico” já que a pretensão era cursar Medicina, mas segundo ela mesma conta, as aulas de Química, Física e Matemática não a entusiasmavam. A predileção era pelas aulas de História, Geografia e Literatura do “curso clássico” que preparavam para as faculdades da área de humanidades. Além disso, o envolvimento com o movimento estudantil naqueles anos da ditadura militar reclamava uma maior compreensão da vida social e das coisas que estavam acontecendo no mundo. Foi assim, que deu adeus à Medicina e escolheu História, tendo cursado por um ano. O casamento e a maternidade a levaram a mudar de cidade e adiar por um tempo o retorno à Universidade. Durante esse período, trabalhou por dois anos e meio como tradutora da embaixada britânica em Brasília.

Em 1978, de volta à Goiânia, ingressou no curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG), por avaliar que o mesmo propiciaria maior possibilidade de intervenção na vida social. Graduou-se em 1981 e foi professora substituta de Ciência Política entre os anos de 1984 e 1985. Em 1986, por meio de concurso, passou a integrar como efetiva o quadro docente do Departamento de Ciências Sociais da UFG.

Em 1987, ingressou no mestrado em História, o único que havia na área de humanas na UFG, com área de concentração em História das Sociedades Agrárias, o que assegurou maior conhecimento da história e da realidade social do estado de Goiás, principalmente o seu meio rural, as suas contradições e a modernização conservadora. Em 1991, defendeu a dissertação intitulada “1964 em Goiás – o ovo da serpente: militares e proprietários de terras na gestação da ditadura”. O interesse de estudo foi por um tema que marcou muito a sua geração, a ditatura militar. A pesquisa tratou do golpe de 1964 em Goiás, da conjuntura da deposição do governo Mauro Borges.

Seu doutorado foi realizado na Universidade de Brasília entre 1995 e 1999. Foi nesse momento que o interesse da pesquisadora se deslocou da violência política para a violência nas relações pessoais. Tratava-se de um contexto em que os crimes de homicídio cresciam muito no país, sem que uma resposta institucional fosse dada. Foi ainda durante o doutorado, que tomou contato com a teoria social formulada pelo sociólogo alemão Norbert Elias, o que teve uma importante influência em suas reflexões sobre homicídios e segurança pública. Logo, sua tese, sob a orientação da professora Maria Stela Grossi Porto, abordou, a partir da noção de processo civilizatório de Norbert Elias, a mudança do padrão de homicídios e do padrão de autoridade no Estado de Goiás. A tese se tornou livro, intitulado “Violência, poder e autoridade em Goiás”, publicado pela editora UFG em 2006. Foi a partir do doutorado também, que deixou de atuar na área da Ciência Política e passou para a área da Sociologia.

No campo da pesquisa, coordenando equipes de trabalho, a socióloga dedicou-se ao estudo da violência e criminalidade urbanas. Um exemplo desse trabalho de equipe foi o projeto Violência Urbana no Estado de Goiás. A pesquisa obteve financiamento da FINEP e teve como um de seus objetivos a realização de um amplo levantamento sobre vitimização e sentimento de insegurança em 13 municípios goianos, incluindo a capital, Goiânia. Os resultados da pesquisa estão publicados no livro Violência Urbana em Goiás: Práticas e representações (2011). Por meio de um programa interinstitucional de cooperação entre o grupo de pesquisa da Universidade Federal de Goiás e o grupo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenado pelo professor Luiz Antônio Machado da Silva, desenvolveu o projeto Violência Urbana: Estudos Comparativos entre o Rio de Janeiro e Goiás. O programa, apoiado pela CAPES, teve colaboração de reconhecidos pesquisadores da temática da violência, como o professor Michel Misse e a professora Márcia Leite. Os estudos sobre homicídio também contaram com uma colaboração muito produtiva com o professor Gláucio Soares.

O profícuo debate acadêmico, fomentado por essas pesquisas e interlocuções, acarretou o desenvolvimento de diversos trabalhos de iniciação cientifica, mestrado e doutorado, contribuindo com a formação de muitos jovens pesquisadores, ao mesmo tempo em que viabilizou a formação do Núcleo de Estudos de Criminalidade e Violência (NECRIVI/UFG). O núcleo conta com a participação ativa de vários de seus ex-orientandos e tem dado uma contribuição significativa para investigação sobre crime, violência, segurança pública e direitos humanos. Constitui-se, portanto, em um importante legado.

A socióloga foi chefe de departamento e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e teve sempre participação nos congressos da ABCP, da ANPOCS, e da SBS, de cuja diretoria participou. Em 2014, se aposentou após 30 anos de uma carreira dedicada ao ensino e à pesquisa, sua grande paixão. Formou e inspirou diversos alunos e alunas que seguiram suas trajetórias no campo das ciências sociais.

Sugestões de obras da autora:

SOUZA, D.B (Org). Goiás – Sociedade & Estado. 1. ed. Goiânia: Cânone Editorial, 2004. v. 1. 230p.

SOUZA, D. B. Violência, poder e autoridade em Goiás. 1a. ed. Goiânia: Editora UFG, 2006. v. 500. 189p.

SOUZA, D. B (Org). Violência Urbana em Goiás: Práticas e Representações. 1. ed. Goiânia: Cânone Editorial, 2011. v. 800. 172p.

ANDRADE, L. T. (Org.); SOUZA, D.B (Org.); FREIRE, F. H. M. A. (Org.). Homicídios nas regiões metropolitanas. 1. ed. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2013. v. 1. 430p.

Sobre a autora:

SOUZA, D. B; FREITAS, L; GONÇALVES, E. Rememorar a experiência e pensar as Ciências Sociais na UFG e no Brasil: uma conversa intergeracional. Sociedade e Cultura (Online), v. 17, p. 323-329, 2014.