Por Ludmila Ribeiro (UFMG)
Nascido em 1956 na cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná, mudou-se para Belo Horizonte aos 14 anos de idade. Estudou no Colégio Estadual Central e, inicialmente, seguiu os passos do pai, dedicando-se ao curso de engenharia por três anos na Fundação Mineira de Educação e Cultura (FUMEC). Depois, aperfeiçoou-se em violão clássico e composição musical, habilidades que o alçaram a ensaiar com o grupo musical Uakti em sua juventude. Acabou indo para as ciências sociais, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em razão de seu interesse em criar soluções para problemas sociais. No final dos anos 1970, foi estagiário da Fundação João Pinheiro, onde atuavam grandes nomes das ciências sociais que se tornaram suas referências e grandes amigos, como Antônio Luiz Paixão, Antônio Augusto Prates, Antonio Otavio Cintra e Luís Aureliano Gama de Andrade.
Concluiu o curso de ciências sociais em 1981 e foi para o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) em 1982. Sob a coordenação de Edmundo Campos Coelho realizou o mestrado e o doutorado em sociologia. Sua dissertação foi sobre a sociologia das profissões, dado o seu interesse em desnudar como eram as corporações de músicos. Durante o doutorado, dividiu-se entre o IUPERJ (no Rio de Janeiro) e a Universidade Católica (em Belo Horizonte), combinando a docência e a pesquisa para sua tese de doutorado. Realizou trabalho de campo num pronto-socorro de forma a entender como categorias de senso comum informavam o enquadramento de mortes como suicídio em detrimento de outros tipos.
O fim do doutorado no IUPERJ em 1993 coincidiu com a sua aprovação no concurso para professor do Departamento de Sociologia e Política da UFMG. Inicialmente, trabalhou com Antônio Luiz Paixão no projeto “Hard Sciences and Social Sciences”, que tinha como objetivo entender a maneira como os campos acadêmicos se estruturavam no Brasil. Entre as principais conclusões deste estudo estavam o papel da tecnologia como elemento diferenciador entre as ciências naturais e da vida vis-à-vis as ciências sociais. É neste momento que a parceria entre os dois se transforma na fundação de uma nova forma de pensar e fazer criminologia no Brasil. Juntos construíram uma parceria com a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). O projeto, denominado de “A Organização Policial e o Combate à Criminalidade Violenta em Minas Gerais”, objetivava: (i) a organização de bases de dados, pela digitalização e geoprocessamento das ocorrências da PMMG entre 1986 e 1997, para entender quais eram os municípios que mais concentravam registros de crime, sendo essa a primeira experiência de geoprocessamento criminal do país; (ii) a produção de informações sobre a trajetória e a formação de policiais militares por meio de um survey amostral aplicado a toda a corporação, para entender a maneira de agir, pensar e sentir de praças e oficiais; (iii) a construção de novos cursos de especialização para as patentes mais elevadas, calcados em técnicas de análise estatística e espacial do crime.
Em 1997, a partir do financiamento da Fundação Ford e da Tinker Foundation, após o falecimento de Paixão, Beato, o professor Renato Assunção (estatística/UFMG) e o pesquisador Geraldo Majella Moreira Duarte, da Fundação João Pinheiro, estruturam o Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (CRISP), uma unidade transdisciplinar que reúne professores de diversas outras áreas da UFMG. A missão do CRISP é colaborar com as instituições públicas na produção de análises que reverberem em políticas públicas voltadas para a prevenção do crime. Antônio Luiz Paixão foi o grande inspirador do CRISP, e seu legado é, ainda hoje, preservado por Claudio Beato.
No começo dos anos 2000, Beato desenvolveu o projeto piloto de controle de homicídios denominado de Fica Vivo!, mais tarde, transformado em política pública através do Decreto nº 43.334, de 20 de maio de 2003. Já em 2005, baseando-se nas experiências das polícias americanas, ele estruturou a “Metodologia de Integração da Gestão em Segurança Pública – IGESP”, normatizado pelo governo de Minas Gerais na Resolução Conjunta nº 154, de 29 de fevereiro de 2012. Em âmbito internacional, foi responsável pela constituição dos sistemas de análise criminal das polícias e de funcionários das cidades de Bogotá, Cali e Medellin, na Colômbia. Entre 2004 e 2006, coordenou o projeto Citizenship Security in Latin America, financiado pelo Woodrow Wilson Center. Também já estabeleceu parceria com órgãos públicos nos vários níveis de governo, municipais (Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba, Foz do Iguaçu, Itabira), estaduais (Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Espírito Santo e Pernambuco), federais (Secretaria Nacional de Segurança Pública e Secretaria Especial de Direitos Humanos).
Cláudio Beato recebeu importantes reconhecimentos como a Comenda do Mérito Científico Nacional, concedido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Foi Visiting Scholar no David Rockfeller Center for Latin American Studies da Harvard University e no Centre of Brazilian Studies da Oxford University. Em 2018, foi agraciado com a Cátedra Ruth Cardoso na Columbia University. Ao longo de sua carreira, atuou como consultor do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Estruturou a Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção, e foi também Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico de Belo Horizonte entre 2019 e 2022. Permanece na coordenação Geral do CRISP.
Sugestões de obras do autor:
PAIXÃO, Antônio Luiz; BEATO FILHO, Cláudio Chaves. Crimes, vítimas e policiais. Tempo social, v. 9, p. 233-248, 1997.
BEATO FILHO, Cláudio Chaves. Determinantes da criminalidade em Minas Gerais. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 13, p. 74-87, 1998.
BEATO FILHO, Cláudio Chaves. Políticas públicas de segurança e a questão policial. São Paulo em perspectiva, v. 13, p. 13-27, 1999.
BEATO FILHO, Cláudio Chaves et al. Conglomerados de homicídios e o tráfico de drogas em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, de 1995 a 1999. Cadernos de Saúde Pública, v. 17, p. 1163-1171, 2001.
BEATO FILHO, Cláudio Chaves. Compreendendo e avaliando: projetos de segurança pública. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
BEATO FILHO, Claudio Chaves. Crime e cidades. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012.
Sobre o autor:
BEATO FILHO, Cláudio Chaves. Cláudio Chaves Beato Filho (depoimento, 2015). Rio de Janeiro, CPDOC/Fundação Getulio Vargas (FGV), (2h 10min). Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/entrevistados/claudio-beato