Por Camila Moreno de Camargo
Cibele Saliba Rizek nasceu em São Paulo, em 15 de setembro de 1950. Filha de Moysés Rizek e Missade Saliba Rizek. Graduou-se em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, em 1972, tendo como professores de referência Gabriel Cohn, Francisco Weffort, Maria Célia Paoli, Irene Arruda Cardoso, José Carlos Bruni, Heloisa Fernandes, valendo também destacar as professoras Carmem Junqueira e Otília Arantes, do primeiro ano de graduação, nas disciplinas cursadas na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).
Os anos seguintes foram marcados pelo início de uma trajetória acadêmica, que, sobretudo, procurava desvendar os nexos entre processos urbanos, formas de trabalho e organização social. O pano de fundo para a consistência teórica e metodológica em formação é um momento importante da história de nosso país marcado pela constituição de movimentos sociais urbanos, partidos políticos de esquerda e organismos formados por trabalhadores.
É nessa cena que realiza o mestrado “Osasco 1968: a experiência de um movimento” (1988), sob orientação de Otávio Ianni, junto a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), que também estende olhar e práticas de investigação sobre a região do ABC paulista. O compromisso crítico estará sempre presente, inclusive nas atividades militantes que assumirá junto ao mundo sindical, tendo sido parte da fundação de associações de docentes que tinham natureza sindical e assessorado alguns grupos de trabalhadores.
Isso porquê, também nesse momento, Cibele ingressa como docente na Universidade de São Paulo, tendo lecionado em outras instituições de ensino importantes anteriormente, sendo o “dar aulas” atividade formativa das mais importantes. Dessa inserção, emancipatória como costuma dizer, estabelece-se a defesa ao ensino público, gratuito e de qualidade, sempre presentes em sua trajetória.
O desenvolvimento intelectual coaduna-se, portanto, com a prática política e militante, que serão entrecruzados pela maternidade (Cibele é mãe de quatro filhos), o que parece acender, futuramente, em um conjunto de mulheres pesquisadoras que serão orientadas por Cibele, a perspectiva feminista sobre a vida acadêmica, bem como como um conjunto de temas que relacionam, de distintas formas, as discussões sobre gênero, políticas públicas e cidade.
A interface com a Arquitetura e Urbanismo constituiu-se pela docência, tendo rapidamente assumido questões e temas da sociologia urbana junto a cursos de graduação e de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. Os trabalhos de pesquisa e as práticas e fundamentações metodológicas iluminaram, cada vez mais, as formas de trajetórias na cidade.
Defendeu seu Doutorado em Sociologia, em 1994, sob o título “O trabalho e suas metáforas: as representações simbólicas dos trabalhadores petroquímicos paulistas, sob orientação de Maria Célia Pinheiro Machado Paoli. Os circuitos de produção, cuja dupla formalidade-informalidade será sempre lido a partir de dimensões que evidenciam porosidades, serão importante lente para interpretações da vida, inclusive a urbana.
A Livre-docência, obtida em 2005 junto à Universidade de São Paulo, desenvolve essa trajetória através do trabalho “Estudos Sócio econômicos da urbanização. Trabalho, Cidade e Direitos. Um percurso de investigação”. A partir de 2007, foi credenciada no recém criado Programa de Pós-Graduação em Sociologia, da UFSCar.
Por meio de projetos com o do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (CENEDIC), FFLCH USP, acentua-se o vínculo com o sociólogo Francisco de Oliveira e outros pesquisadores deste grupo, pelo qual as combinações entre dimensões do estado de exceção e o avanço do capitalismo financeiro serão fios condutores para um olhar crítico acerca das constelações de políticas sociais e processos de gestão da pobreza, com importantes implicações operadas na vida das famílias pobres brasileiras.
É nessa chave que Cibele se aproximará da Cidade Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo, tendo ali constituído um conjunto de camadas de investigação, a partir de projetos de pesquisa que a aproximarão de equipes de pesquisadores franceses, cabendo destacar o Professor Robert Cabanes. A primeira grande inserção talvez esteja relatada e analisada no texto “Verde, amarelo, azul e branco: o fetiche da mercadoria e o seu segredo” (2010). As pesquisas que se deram sobre grupos de cultura, bem como sobre entidades operativas da política de saúde, iluminaram questões acerca do desenho de políticas públicas, seus agentes e operacionalização, e formas e práticas de implementação no território. Os textos produzidos a partir de pesquisa realizada sobre o Programa Minha Casa Minha Vida Entidades (2015), através da Rede Cidade e Moradia que integrou várias instituições de ensino superior, podem ser lidos como um segundo momento onde mais fortemente comparecerá o tema da moradia nas discussões sobre cidade, centro e periferia.
Tornou-se Professora Titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU USP), em 2017, após uma série de inserções e contribuições à universidade: foi Presidente da Comissão de Pós-Graduação do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo do IAU USP, entre 2015 e 2018; Presidente da Comissão de Pesquisa do IAU USP, entre 2010 e 2013; Representante da Congregação e membro do Conselho de pós-Graduação do Conselho Universitário, desde 2016; dentre outras funções, apenas para se ter como exemplo.
Entre 2016 e 2018 integrou como coordenadora brasileira o Laboratório Misto Internacional LMI SAGEMM – Social activities, gender, markets and mobilities from below (Latin America) em parceria com UMR 201 Développement et Sociétés, IRD-IEDES-Paris I Sorbonne e o LISE-CNAM. O laboratório reuniu importantes pesquisadores, dimensões investigativas e questões contemporâneas, sobretudo relacionadas à América Latina, e desdobrou-se no grupo de pesquisa SAGEMM IAU, que igualmente coordena, e que reúne pesquisadores e docentes do IAU USP e do Departamento de Geografia da FFLCH USP.
Nesse âmbito, destaca-se pesquisa recente que tomando a multiescalaridade e a multisitualidade como dimensões metodológicas, ocupa-se das transformações do trabalho e das condições da vida urbana a partir dos trabalhadores de plataforma. A pesquisa “Grey Zones: Social Policies and Labour Regulation, a comparison Brazil-France”, consolida os vínculos acadêmicos com a França e promove um olhar crítico às novas formas de trabalho e inserção na cidade, apontando-se como chave reconfigurada para as leituras sobre as relações entre centro e periferia no Brasil.
Tendo suas contribuições aos estudos urbanos bastante reconhecidas, Cibele é referência para pesquisadores de todo o Brasil.
Sugestões de obras da autora
RIZEK, C. S. Um balanço de pesquisa: 10 anos na zona leste e um social reconfigurado. Cidades. v.13, p.94-140, 2017.
CABANES, R.; Georges, Isabel; RIZEK, C. S.; Telles, V. S. (Orgs.). Saídas de Emergência – ganhar/perder a vida na periferia de São Paulo. 1. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2011. v. 1. 478 p.
OLIVEIRA, F.; Braga, R.; RIZEK, C. S. (Orgs.). Hegemonia às Avessas. 1. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2010. v. 1. 398 p.
OLIVEIRA, F.; RIZEK, C. S. (Orgs). A Era da Indeterminação. 1. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007. v. 1. 376 p.
RIZEK, C. S.; Telles, V. S. (Orgs.). France/brésil politiques de la question sociale. Caen: Presses Universitaires de Caen, 2000. v. 1. 278 p.
RIZEK, C. S. Do Desmanche à Exceção: Uma pauta de pesquisa. Francisco de Oliveira: Questões Diálogos Depoimentos. 1ed.São Paulo: Editora da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2022, v. 1, p. 69-89.
RIZEK, C. S. A produção da cidade e suas representações: das ideias clássicas às inflexões recentes. In: Raquel Rolnik e Ana Fernandes. (Org.). Cidades. 1ed.Rio de Janeiro: Funart, 2016, v. 1, p. 19-34.
RIZEK, C. S.; CARVALHO, C. S. ; CAMARGO, C. M. . Política Habitacional e Políticas Sociais urgências, direitos e negócios. In: Ana Fani A. Carlos, Danilo Volochko, Isabel Alvarez. (Org.). A Cidade como Negócio. 1ed.São Paulo: Contexto, 2015, v. 1, p. 165-184.