Por Paula Cristina da Silva Barreto (UFBA)
Antônio Sérgio Alfredo Guimarães nasceu em Salvador, Bahia, em 12 de fevereiro de 1949, filho de um promotor público e de uma professora primária. Ingressou no curso de Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1969, graduando-se em 1972, com concentração em antropologia. A monografia de final de curso tratou da demografia dos pataxó-hã-hã-hãe, de Barra Velha, e teve a orientação de Pedro Agostinho da Silva. Em 1973, ingressou como técnico no serviço público estadual, na área de planejamento econômico e social, e seis anos depois deu início à sua trajetória na pós-graduação, no curso de Mestrado em Ciências Humanas da UFBA, onde se dedicou aos estudos sobre o planejamento econômico e a formação da burguesia baiana. Em 1980, tornou-se professor da UFBA. Em 1982, se deslocou para os Estados Unidos para a realização do doutorado em Sociologia na Universidade de Wisconsin-Madison, onde estudou com Erik Ollin Wright, autor que o apresentou ao marxismo analítico. A tese de doutorado Class formation and factory regime, the petrochemical workers in Bahia, Brazil, concluída em 1988, foi defendida sob a orientação de Roberto Franzosi, e está publicada em português com o título Um Sonho de Classe – Trabalhadores e Formação de Classe na Bahia dos Anos 80, pela editora Hucitec (1998).
Em meados da década de 1990, Antônio Sérgio Alfredo Guimarães passou a se dedicar aos estudos sobre o racismo e o antirracismo. Os primeiros passos foram dados em Salvador, através de projetos de pesquisa realizados em parceria com Michel Agier, Luiza Bairros, Vanda Sá Barreto, Nadya Guimarães e demais pesquisadores/as que criaram o Programa A Cor da Bahia[1], e tiveram continuidade durante o pós-doutorado realizado, em 1994-1995, com a supervisão de Anani Dzidzienyo, na Universidade Brown, nos Estados Unidos. A partir de 1996, com o início da carreira docente na Universidade de São Paulo (USP), passou a dedicar-se quase que exclusivamente aos estudos das relações de raça. Sem dúvida, na USP pôde consolidar uma trajetória marcada por extensa produção acadêmica, e pela formação de dezenas de pesquisadores/as, seja como docente, orientador, ou participante de bancas de exame de qualificação, e de defesa de mestrado e doutorado.
Os projetos de pesquisa realizados por Antônio Sérgio Alfredo Guimarães, bem como as publicações resultantes, foram muito importantes para a consolidação de uma agenda de investigação que permitiu que o racismo fosse estudado de maneira associada ao antirracismo, e que se refletisse sobre os usos e sentidos dos conceitos de raça e outros correlatos. Por essa via, o autor aprofundou questões anteriormente abordadas por Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalez e Carlos Hasenbalg. O interesse pelas práticas jurídicas e legislação antirracista, a análise comparada da discriminação racial e do tratamento desigual de brancos e negros na procura de empregos, a nacionalidade e novas identidades raciais, as políticas de ação afirmativa e as modernidades negras no Brasil são alguns dos temas que marcaram essa agenda. Nos anos 2000, quando houve um amplo debate sobre as políticas de ação afirmativa nas instituições de ensino superior, em relação às quais pesquisadores/as, docentes, bem como formadores/as de opinião pública, divergiram, a atuação de Antônio Sérgio Alfredo Guimarães foi decisiva, como estudioso e defensor destas políticas que previam a criação de reserva de vagas para acesso às universidades públicas e foram, posteriormente, regulamentadas na rede federal através da Lei 12.711/2012 (Lei de Cotas).
Antônio Sérgio Alfredo Guimarães é Pesquisador 1A do CNPQ, foi Presidente da Sociedade Brasileira de Sociologia (1995 a 1997) e Membro da Comissão Permanente de Políticas Públicas para a População Negra da Universidade de São Paulo, sendo filiado a diversas associações como Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), Latin American Studies Association (LASA), Associação Latinoamericana de Sociologia do Trabalho (ALAS) e American Sociological Association (ASA). A sua trajetória internacional é longa e inclui missões de trabalho como pesquisador, com apoio de Rockfeller Foundation, Institut Français de Recherche Scientifique pour le Développement en Coopération (ORSTOM) e Centre de Recherche sur le Brésil Contemporain (CRBC), assim como a atuação como Visiting Fellow e Visiting Professor da University of Illinois Urbana-Champaign; Freie Universität, Berlim; Princeton University; University of Oxford, Oxford; University of California, Los Angeles; e École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris. Em 2007, recebeu a comenda do Mérito Científico do Governo do Brasil.
Um estudo sobre a produção acadêmica tratando de relações raciais, racismo e antirracismo, no período de 1994 a 2013, apontou que Antônio Sérgio Alfredo Guimarães foi o autor com o maior número de publicações e também aquele mais citado[2]. Esta é apenas uma das evidências que sustentam a afirmação de que estamos diante de um sociólogo cuja contribuição foi decisiva para a consolidação e expansão dos estudos sobre o racismo e o antirracismo no Brasil, em especial, na sociologia.
Sugestões de obras do autor:
GUIMARÃES, Antonio S. A. Preconceito e Discriminação. Salvador: Novos Toques, 1998, 130 p
GUIMARÃES, Antonio S. A Racismo e Anti-Racismo no Brasil. São Paulo: Editora 34, 1999. 238 p.
GUIMARÃES, Antonio S. A; Hamilton C; Huntley, L. Alexander, N; James W.
- Alexander, and W. James). Beyond Racism. Race and Inequality in Brazil, South Africa, and the United States. Boulder and London: Lynne Rienner Publishers, 2001.
GUIMARÃES, Antonio S. A Classes, raças e democracia. São Paulo: Editora 34, 2002. v. 1. 231 p.
GUIMARÃES, Antonio S. A. Modernidades Negras. A formação racial brasileira (1930-1970). São Paulo: Editora 34, 2021, 296 p.
[1] O Programa de Pesquisa e Formação em Relações Raciais, Cultura e Identidade Negra na Bahia – A Cor da Bahia foi criado em 1992 e formou gerações de pesquisadores/as dedicados/as aos estudos sobre o racismo e o antirracismo, completando, em 2022, 30 anos de atuação ininterrupta na UFBA.
[2] CAMPOS, L.A.; GOMES, I. Relações raciais no Brasil contemporâneo: uma análise preliminar da produção em artigos acadêmicos dos últimos vinte anos (1994-2013). Sinais Sociais | Rio de Janeiro | v.11 n. 32 | p.1-164 | set.-dez. 2016.