Por Rodrigo Estramanho de Almeida (FESPSP)
Antonio Rubbo Müller, nasceu na cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo, em 8 de março de 1911. Filho de imigrantes – pai alemão e mãe italiana que moravam na comunidade operária de Gato Preto, iniciou a carreira profissional aos 15 anos como aprendiz de ajustador na Companhia Paulista de Estradas de Ferro onde, simultaneamente ao curso do ginasial, passou ao cargo de primeiro praticante na Seção Técnica da Engenharia Mecânica.
No ano de 1933, Rubbo Müller deixou a Companhia, assim como a comunidade de Gato Preto e se transferiu para a capital paulista onde encontrou uma vaga de office boy na recém-criada Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo – ELSP. Naquele mesmo ano, motivado pelo diretor da instituição, Cyro Berlinck (1900-1974), Müller passou a frequentar as aulas na primeira turma do bacharelado de três anos da ELSP.
Estes primeiros anos vividos na ELSP foram fundamentais, posto que, conseguiu os meios de vida para se manter na capital, assim como foi apresentado ao campo epistêmico das ciências sociais na década em que elas chegavam institucionalmente ao Brasil. Como aluno do programa pioneiro da ELSP, Müller teve aulas de Psicologia Social com Raul Briquet (1887-1953), Estatística com Bruno Rudolfer (1894-1942), bem como Sociologia Geral e Economia Social com os estadunidenses Samuel Lowrie (1894-1975) e Horace Davis (1898-1999), respectivamente; entre outros.
Uma vez concluído o bacharelado, em 1935, Müller tornou-se uma espécie de secretário direto de Cyro Berlinck, vinculando-se gradativamente ao cotidiano administrativo e acadêmico da ELSP.
Em 1939, recém-contratado formalmente como docente e secretário na ELSP, conquista uma bolsa de estudos concedida pelo Conselho Britânico para que brasileiros fossem estudar nas tradicionais universidades inglesas. Rubbo Müller, escolheu o curso de pós-graduação em Antropologia Social da Universidade de Oxford, onde foi aluno de Alfred Reginald Radcliffe-Brown (1881-1955). No mesmo ano, entretanto, a eclosão da Segunda Guerra Mundial impediu o ano letivo na maior parte das universidades inglesas e, impossibilitado de voltar pela ausência de navios, será transferido para a London School of Economics e depois para Cambridge. Por esses motivos, o título de Pós-Graduação em Ciências só seria emitido por Oxford em 1951.
No retorno ao Brasil, em fins de 1940, Müller reassume as funções administrativas e de docência na ELSP, lecionando Antropologia Social até fins da década de 1970. Entre os estudantes, era conhecido por ministrar aulas austeras, repletas de modelos e diagramas classificatórios e farto material bibliográfico. Fora da sala de aula, entretanto, tinha personalidade espirituosa e bem-humorada e promovia, nos anos 1960, as “arcas de Nóe”: jantares que organizava em restaurantes do centro de São Paulo para reunir intelectuais, tais como Melanie Farkas (1929-2021), Manoel Berlinck (1937-2016), Juarez Brandão Lopes (1925-2011), Maurício Segall (1926-2017), entre outros.
Em fins de 1940, pouco após seu retorno da Inglaterra, participou do diálogo entre a Escola de Sociologia e Política e a Universidade de Oxford, ensejando a vinda de Radcliff-Brown para o quadro docente da instituição o qual este integrará de 1942 a 1944. A vinda do professor britânico, que coincide com a chegada do estadunidense Donald Pierson (1900-1995) na ELSP, vai proporcionar as condições objetivas para a criação do departamento de pós-graduação da escola, bem como de sua instituição mantenedora, a Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP.
Em termos de sua produção teórica, vale ressaltar o grande efetivo que o funcionalismo estruturalista inglês ganhou em seus três livros voltados a temas relacionados às organizações coletivas e individuais, tanto em sociedades complexas, quanto tradicionais: Elementos basilares da organização humana de 1957; Teoria da organização humana de 1958 e; Componentes da estrutura da personalidade de 1964. Para a divulgação de suas teorias funcionalistas sobre a organização humana, Müller desenvolveu um método de ensino o qual denominou de ‘Seminário panto-isocrático polivalente multidisciplinar’, misto de sessões expositivas, leituras guiadas e interações com técnicas de grupo.
Além de farta participação em congressos e seminários nacionais e internacionais, Rubbo Müller exerceu, na FESPSP, os cargos de secretário (1940 – 1948); Vice-Diretor Geral (1958-1974); Diretor da Escola Pós-Graduada de Ciências Sociais (1966-1979) e membro do Conselho Superior. Foi, também, membro da União Brasileira de Escritores; Membro da Delegação brasileira no Congresso Internacional de Planejamento em 1960 e Delegado do Governo Federal a convite da ONU para o Seminário Latino-Americano sobre participação popular na aceleração do desenvolvimento econômico e social em 1964. Na Sociedade Brasileira de Sociologia – SBS, exerceu o cargo de primeiro secretário durante a presidência de Fernando Azevedo, entre 1950 e 1954.
Antonio Rubbo Müller (1911-1987), pode-se afirmar, foi um intelectual orgânico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e permaneceu na instituição até dezembro de 1983, quatro anos antes de sua morte, na cidade de São Paulo, em 6 de agosto de 1987. Em todo caso, seu legado vai além daquele logrado nesta instituição, posto que sua trajetória pessoal e profissional se entrelaça à da institucionalização da sociologia no Brasil.
Sugestão de obras do autor:
MÜLLER, Antonio Rubbo. Elementos basilares da organização humana. São Paulo: Ed. Sociologia Política da FESP, 1957.
MÜLLER, Antonio Rubbo. Teoria da Organização Humana. São Paulo: Ed. Sociologia Política da FESP, 1958.
MÜLLER, Antonio Rubbo. Componentes da Estrutura da Personalidade. São Paulo: edição do autor, 1964.
sobre o autor:
KANTOR, I.; MACIEL, D.; SIMÕES, J. A Escola Livre de Sociologia e Política: anos de formação – 1933-1953 / depoimentos. São Paulo: Editora Sociologia e Política, 2009.