Ângela Maria Carneiro Araújo

Por Ângela Maria de Sousa Lima (UEL),
Carolina Cassia Batista (UFAM) e
Bruno José Rodrigues Durães (UFRJ)

Nascida em Belo Horizonte/MG, em 1952, Ângela Maria Carneiro Araújo tem uma vida dedicada à universidade pública, laica, gratuita, mais democrática e mais inclusiva. Logo após a conclusão de sua graduação em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília em 1975, nos tempos sombrios da ditadura, a professora Ângela Araújo atuou como pesquisadora auxiliar, prestando serviço por meio do Projeto: “Mercado de Trabalho no Brasil”, em um Convênio Unicamp/IFCH/IPEA [1978 – 1979].

Na década seguinte, especificamente entre 1980 e 1982, atuou como professora colaboradora, na área de Sociologia, na Universidade Federal do Maranhão, UFMA. Na mesma década, ao vincular-se ao Núcleo de Estudos em Políticas Públicas, sob a coordenação do Prof. Cláudio L. Salm, foi pesquisadora auxiliar em dois Projetos de Pesquisa: “Avaliação dos Programas de Alimentação e Nutrição do Governo do Estado de São Paulo” (1983-1984) no Convênio SEPLAN/NEPP/UNICAMP; e “Alterações em Curso nas Relações de Trabalho” (1984-1985), no Convênio FUNDAP/NEPP/UNICAMP.

A partir dessa última data, tornou-se professora colaboradora no IFCH/UNICAMP. Em 1999, vincula-se como professora doutora, pois cinco anos antes, na mesma instituição, defendeu a tese de Doutorado em Ciências Sociais com o título “Construindo o consentimento: corporativismo e trabalhadores no Brasil dos anos 30”, sob a orientação da Profa. Maria Hermínia Brandão Tavares de Almeida.

Profa. Angela fez dois estágios de Pós-Doutorado com bolsa, desenvolvidos nesta sequência: na University of Manchester, Manchester/Inglaterra (2001), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP); e no Centre de Recherches Sociologiques et Politiques de Paris, CRESPPA/França (2012), pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES-COFECUB. A vinculação como Livre-docente, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP data de 2019, quando defende a pesquisa “Relações de Gênero, Trabalho e Política”.

Suas principais preocupações de pesquisa envolvem temas como: relações de gênero e raça no trabalho, sindicalismo, informalidade, feminismo e política, cooperativismo e economia solidária, dentro das áreas de Ciência Política e Sociologia do Trabalho.

Seu empenho altruísta no aprofundamento desses temas de pesquisa fica registrado na liderança e na participação em dezenas de coletivos: coordenação do PIBID no Curso de Licenciatura em Ciências Sociais/Unicamp; na Diretoria da Associação Latino Americana de Estudos do Trabalho (ALAST); na vice-presidência da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) ao lado da Profa. Andréia Galvão; na presidência da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (ABET); no Conselho Executivo da Latin American Studies Association (LASA); na coordenação do Núcleo de Estudos de Gênero (PAGU); na vice coordenadoria do Projeto ALFA III – Medidas para la inclusión social y equidad em Instituciones de Educación Superior en América Latina (MISEAL), coordenado internacionalmente pela Freie Universität Berlin.

Além da dedicação em diversas ações de ensino/pesquisa/extensão, Profa. Ângela Araújo contribuiu, por anos a fio, nas atividades de gestão universitária, assumindo diferentes funções: diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas; coordenadora do Programa de Doutorado em Ciências Sociais; representante titular dos docentes MS-3 na Congregação do IFCH; chefa do Departamento de Ciência e Política; e diretora do Arquivo Edgard Leuenroth.

Seu zelo pela pesquisa, sempre desenvolvida de modo agregador com docentes e discentes de diferentes instituições, dentro e fora do Brasil, precisa ser lembrado pela atuação em vários Projetos de Pesquisa, coordenados por parceiros/as nas Ciências Sociais, na Educação, na Sociologia e na Ciência Política, além de diálogos interdisciplinares que marcam sua maneira compromissada de fazer ciência: “Trabalho no Brasil e na França. Sentido das Mudanças e Mudanças de Sentido” (Convênio CAPES/COFECUB) em parceria com a Profa. Aparecida Neri de Souza; “Contradições do Trabalho no Brasil Atual. Formalização, precariedade, terceirização e regulação”, em parceria com Profa. Márcia de Paula Leite, financiado pela FAPESP; “Projeto MISEAL”, em parceria com Profa. Martha Zapata Galindo, financiado pelo Projeto Alpha II da União Europeia, que incluiu quatro universidades europeias e universidades de oito países latino-americanos; “Organização e condições do trabalho moderno: emprego, desemprego e precarização do trabalho”, em parceria com Profa. Aparecida Neri de Souza (Brasil) e Profa. Daniele Linhart (França), por meio do Acordo de Cooperação Científica Internacional CAPES/COFECUB; “Trabalho, gênero e participação: identidade, associativismo e políticas de emprego e renda”, pelo Programa Nacional de Cooperação Acadêmica – Ação Novas Fronteiras (PROCAD), envolvendo Doutorado em Ciências Sociais da Unicamp e o PPG em Sociologia da UFG, em parceria com o Prof. Jordão Horta Nunes; “A crise do trabalho e as novas formas de geração de emprego e renda”, em parceria com Profa. Márcia de Paula Leite, financiado pelo CNPq e FAPESP; “Novas formas de inserção ocupacional de populações de baixa renda”, em parceria com Profa. Márcia de Paula Leite, financiado pelo Institut de Recherche pour le Développement e com o auxílio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Destacamos também o Projeto “Políticas públicas, reconversões produtivas e recomposições identitárias […]” com apoio do CNPq/FAPESP, na parceria Unicamp e Universidade Federal de Campina Grande/UFCG. Além de parcerias diversas com pesquisadores/as em várias atividades, como Helena Hirata, Selma Venco, Liliana Segnini, Ricardo Antunes, José Dari Krein, Magda Neves, Jacob Lima, Lorena Holzmann, Nádia Castro, Danièle Kergoat, Bárbara Castro, dentre outros/as.

Nessa caminhada político-pedagógica, centrada em eixos sociopolíticos cruciais, que orbitam em torno do trabalho como elemento fundante, há de se destacar, sobretudo, sua solicitude, carinho e cuidado na orientação de dezenas de graduandos/as, pós-graduandos/as strictu sensu e lato sensu, além de pós-doutorandos/as, quando esteve na coordenação de Projetos de Pesquisa, como: “Contradições do Trabalho no Brasil Atual: relações de gênero e raça no processo de formalização, na informalidade e nas novas formas de organização do trabalho”; “Novas configurações do trabalho no Brasil contemporâneo: trabalho associado, economia solidária e relações de gênero”; “Globalização, estratégias gerenciais e respostas operárias: um estudo comparativo da indústria de linha branca”, com financiamento do CNPq; “Reestruturação Produtiva: impacto sobre as condições de trabalho e saúde das trabalhadoras metalúrgicas”, financiado pela Unitrabalho e Federação dos Metalúrgicos de São Paulo/Central Única dos Trabalhadores (CUT); “Reestruturação Produtiva e negociação coletiva nos anos 90”, com financiamento da FAEP – Fundação de Apoio à Pesquisa e à Extensão da Unicamp; “Mudanças Econômicas e Culturais na Grande São Paulo e na Grande Manchester, com convênio financiado pela CAPES e BRITISH COUNCIL, entre a Área de Trabalho e Sindicalismo do IFCH – UNICAMP e o International Centre for Labour Studies da University of Manchester – Inglaterra; “Reprodução da documentação sobre o Brasil do Arquivo do Komintern, Moscou” , com financiamento do Fundo de Apoio ao Ensino e à Pesquisa – Unicamp.

Não é por menos que, desde 2015, Profa. Angela Araújo, vem atuando como bolsista Produtividade em Pesquisa CNPq, publicando em periódicos qualificados e eventos regionais, nacionais e internacionais, sobretudo os resultados de uma pesquisa mais abrangente intitulada “Contradições do Trabalho no Brasil Atual: relações de gênero e raça no processo de formalização, na informalidade e nas novas formas de organização do trabalho”, que envolve vários outros estudos no âmbito das linhas de pesquisa: Relações de Gênero e Trabalho; Feminismo e Política; Relações de Trabalho e Sindicalismo; Ciência Política.

A incansável professora-pesquisadora, com sua visão social crítica, persiste contribuindo decisivamente no processo de consolidação das Ciências Sociais, da Sociologia e da Ciência Política no Brasil, expandindo o alcance de seus estudos em instituições internacionais, sem deixar de atuar localmente em movimentos imprescindíveis para a valorização desses campos e para a formação/atuação de cientistas sociais, a exemplo da luta pela inserção/permanência dos conhecimentos dessas ciências nos currículos da Educação Básica no Brasil.

Duas ex-orientandas e um ex-orientando de doutorado de Ângela, que defenderam suas teses em anos diversos (2009, 2011 e 2013), juntaram-se para contar, sinteticamente, a trajetória brilhante de uma professora que encanta e contribui de forma basilar para as Ciências Sociais. Profa.Ângela é singular. Ela sabe conjugar afeto com rigor e resiste aos momentos turbulentos dentro e fora da Universidade e, principalmente, acredita no/a outro/a, respeita as diferenças, combate injustiças com envolvimento e sabe catalisar o melhor e o singelo de cada ser, mas sempre no sentido dialético, que se faz no caminhar, no aprender, no sentir, no estudar e na troca constante de saberes. Portanto, esse texto não destaca apenas a qualidade de seu trabalho, mas também expressa o respeito e o carinho pela nossa professora orientadora de doutorado que marcou e influenciou significativamente nossas histórias e carreiras acadêmicas.

Sugestões de obras da autora:

ARAÚJO, Angela. M. C.; LEITE, Márcia de Paula; LIMA, Jacob. C. O trabalho na Economia Solidária: entre precariedade e emancipação. São Paulo: FAPESP/Annablume, 2015.

ARAÚJO, Angela. M. C.; NUNES, Jordão Horta (org.). Trabalho, trajetórias e identidades: qualificação, deslocamentos e crises. São Paulo: Annablume, 2015. v.01.

ARAÚJO, Angela. M. C.; OLIVEIRA, R. V. (org.). Formas de Trabalho no Capitalismo Atual: condição precária e possibilidades de reinvenção. São Paulo: AnnaBlume, 2011.

LEITE, Márcia de Paula; ARAÚJO, A. M. C. (org.). O trabalho reconfigurado: Ensaios sobre Brasil e México. São Paulo: AnnaBlume/FAPESP, 2009.

ARAÚJO, Angela. M. C. Do Corporativismo ao Neoliberalismo: Estado e Trabalhadores no Brasil e na Inglaterra. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002.

ARAÚJO, Angela. M. C. A Construção do consentimento: corporativismo e trabalhadores nos anos trinta. São Paulo: Scritta/FAPESP, 1998.

ARAÚJO, Angela. M. C. Trabalho, Cultura e Cidadania: Um Balanço da História Social Brasileira. São Paulo: Scritta, 1997. v.01.

Sobre a autora:

Entrevista da Profa. Ângela Maria Carneiro Araújo cedida à Mara Régia, no dia 03/12/2015, no Programa Viva Maria, da Agência Brasil, no Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. https://agenciabrasil.ebc.com.br/de/node/1337662