Por Cimone Rozendo (UFRN)
Em 10/08/1954, nascia em Curitiba a filha do casal Glower Duarte e Dorothéa Monassa Duarte. Apaixonada por História, ingressou no curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná em 1972, por influência de seu pai, bancário e fervoroso leitor das obras de Gilberto Freyre e Caio Prado Júnior. Já no primeiro ano de graduação, suas expectativas em relação às Ciências Sociais seriam frustradas. Em plena ditadura militar, o curso possuía um quadro docente pouco qualificado na área e um perfil extremamente conservador com professores ligados à Seita Moon e alinhados politicamente ao regime. Era um misto de Estudos Sociais e Comunicação e a pesquisa era praticamente inexistente.
Em 1973, seu pai foi transferido para Belo Horizonte, o que a obrigou a transferir sua formação para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Esse episódio foi fundamental, pois encontrou docentes qualificados na área específica e com uma produção intelectual relevante e reconhecida. Embora esta época marque seu encontro com as Ciências Sociais, foi também o período em que conheceu os horrores da repressão do regime militar às universidades com a perseguição de seus professores e o desaparecimento de colegas.
Formou-se em 1975 e, em 1976, retornou à Curitiba, ocasião em que iniciou seu primeiro trabalho como socióloga no âmbito do Inocoop – Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais, na área de planejamento urbano, onde permaneceu até o ano de 1980. Em 1977 é selecionada para o mestrado em História na UFPR, desenvolvendo a dissertação com o tema: Agricultura Capitalista e Campesinato no Norte do Paraná, sob a orientação de Brasil Pinheiro Machado e, posteriormente, com a aposentadoria deste, de Carlos Antunes. Ainda em 1977, casou-se com o advogado Paulo Alfredo Damasceno Ferreira com quem teve dois filhos, Carolina e Rodrigo, nascidos em 1978 e 1980 respectivamente.
No ano de 1981, é contratada como socióloga pela Secretaria da Agricultura do Estado do Paraná. As tensões geradas no espaço rural pela construção da hidrelétrica de Itaipu, com a expulsão de centenas de camponeses e a organização dos movimentos de resistência desafiavam a administração governamental. Sua função era compreender a complexidade desse contexto, apontando caminhos possíveis para a gestão. Apesar de um ambiente majoritariamente masculino e marcado pelo autoritarismo, a jovem socióloga com seu perfil sempre conciliador, mas obstinadamente contundente e perseverante não se rendeu à ideia de uma sociologia à serviço da “engenharia social”, realizando pesquisas que lançavam luz sobre as reais condições dos trabalhadores rurais e desvelavam as fragilidades dos empreendimentos governamentais. Os grupos que acompanhou constituíram o berço da organização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Brasil. Parte desse trabalho foi ilustrado na obra “Movimentos sociais no campo” realizada em parceria com colegas da antropologia e sociologia, publicada em 1987, pela editora da UFPR, com prefácio de Octavio Ianni.
Em 1982 ingressou como docente permanente do curso de Ciências Sociais da UFPR e em 1985 defendeu sua dissertação. A chegada à universidade é marcada por tensões constantes entre o grupo ligado à extrema direita que havia ingressado sem concurso público e o grupo de docentes recém-concursados. Em 1986, foi eleita coordenadora do curso de graduação em Ciências Sociais e continuou um processo recém iniciado de estruturação de um novo perfil para o curso, com ampla participação de docentes e discentes.
Em 1987 assumiu a presidência da Sociedade Paranaense de Sociologia cuja principal pauta era o reconhecimento da profissão do sociólogo, como mostra a matéria do Jornal O Estado do Paraná de 1º de setembro de 1987. De 1991 a 1994 realizou seu doutorado na Universidade de Paris III (Sorbonne Nouvelle) sobre agricultura contratualizada à agroindústria. Neste período, participou, com professores franceses e brasileiros, de discussões para formação de um doutorado interdisciplinar no Brasil que seria implantado em 1993: o Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento (MADE) ao qual esteve vinculada até 2010, mesmo depois de sua aposentadoria, em 2005. Paralelamente, integrou o corpo docente do primeiro curso de mestrado em Sociologia da UFPR, criado em 1995. A essa época assumiu os estudos rurais na graduação e na pós-graduação, contribuindo para fortalecer a área, por meio da orientação de inúmeros trabalhos de dissertação, teses, da elaboração de livros e artigos. Em 1996, foi responsável, na UFPR, pelo I Censo da Reforma Agrária, capacitando uma legião de estudantes de diversos cursos para a pesquisa, um marcador importante na trajetória daqueles que se formaram sob sua orientação. Até o ano de 2021 foi editora-chefe da revista Desenvolvimento e Meio Ambiente (DMA).
De uma personalidade profundamente humana, gentil e de grande rigor acadêmico foi responsável pela formação de profissionais de diversas áreas. Sua trajetória é uma mostra contundente de um trabalho dedicado, engajado, pioneiro e competente na consolidação do campo das Ciências Sociais no Paraná, com repercussão nacional e internacional.
Sugestões de obras da autora:
FERREIRA, Angela Duarte D.; BRANDENBURG, A. (Org.) ; CORONA, Hieda M. P.. (Org.) Do rural invisível ao rural que se reconhece: dilemas socioambientais na agricultura familiar. 1. ed. Curitiba: Editora Kairós e Editora da UFPR, 2012. v. 1. 367p .
FERREIRA, Angela Duarte D.; BRANDENBURG, A. (Org.) . Para pensar outra agricultura 2 edição. 2. ed. Curitiba: Editora da UFPR, 2008. v. 1. 311p .
ZANONI, M. ; MENDONÇA, Francisco ; Floriani, Dimas ; FERREIRA, Angela Duarte D. . Une expérience pionnière> La création du doctorat en Environnement et Développement de l’Université Fédéral du Paraná, Brésil. In: Bourdier, Frédéric ; Grenier-Torres, Chrystelle. (Org.). L’interdisciplinarité: un enjeu pour le développement. 1ed.Paris: Éditions Karthala, 2017, v. , p. 281-293.
FERREIRA, Angela Duarte D.. Movimentos Sociais Rurais No Paraná. Movimentos sociais no campo. Curitiba: Criar/Scientia et Labor, 1987.