Por Kauê Pessoa (UFPR)
Alfio Brandenburg nasceu em 1949 na cidade de Joinville, em Santa Catarina. Com o término dos estudos secundários, mudou-se para a capital do estado do Paraná, em 1970, para estudar agronomia na Universidade Federal do Paraná – UFPR. Embora esta não tenha sido a sua primeira escolha, era uma maneira de poder seguir estudando naquele momento, já que havia recebido uma bolsa para estudar agronomia. Foi durante aquele período, como estudante uni-versitário, que se deparou com novas perspectivas e seu interesse pela sociologia começou a ganhar protagonismo.
Formado em agronomia em 1973, passou a trabalhar como extensionista rural e pôde estar mais próximo dos camponeses e camponesas, bem como a notar os impactos sociais, econômi-cos e ambientais do processo da chamada modernização da agricultura, que o levava a colocar cada vez mais em questionamento o modelo de agricultura adotado no país e o papel que esta-va desempenhando.
Interessado em compreender as bases teóricas desse processo, passou a estudar os textos da sociologia rural publicados naquela época, que o incentivou a se candida-tar ao mestrado em sociologia rural, com o objetivo de entender melhor a dinâmica dos proces-sos sociais rurais. Em 1976 iniciou seus estudos de mestrado em sociologia rural na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ-USP, em que pôde se conduzir por novos caminhos de conhecimentos e aprendizados. Durante aquele período direcionou suas pesquisas ao progresso tecnológico na agricultura. No entanto, ao invés de seguir a perspectiva clássica de inovação tecnológica na agricultura, se interessou por analisar as alternativas tecnológicas para os agricultores e agricultoras denominados “tradicionais”.
Após o término do mestrado em 1980, voltou a trabalhar como extensionista rural, na Secreta-ria da Agricultura do Estado do Paraná. Porém, cada vez mais inquieto com a proposta hege-mônica dessa disciplina, com Elizabeth Henderick, elaborou uma proposta de atuação com uma perspectiva questionadora, que estava baseada na obra de Paulo Freire. Um momento determinante em sua vida que o direcionou por novos caminhos, uma vez que esta proposta não teve a aceitação que se esperava.
Procurando evitar aquele ambiente de trabalho, pediu licença não remunerada e começou a lecionar em duas faculdades de Curitiba, até que em 1990 foi admitido como professor na Universidade Federal do Paraná – UFPR. A década de 1990 estabelece uma nova etapa na sua vida, dedicada plenamente para o ensino e pesquisa na área da sociologia.
Em 1993, deu início ao doutorado na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, orien-tado por Maria de Nazareth Baudel Wanderley. Durante o doutorado realizou um giro ambi-ental em seus estudos, associando temas rurais e ambientais, e que passou a orientar a sua vida acadêmica e pessoal. Em 1994 e 1995, esteve na Universidade de Paris X – Nanterre, como discente, onde pôde realizar seu doutorado sanduíche, orientado por Nicole Eizner. Quanto ao tema ambiental, foi motivado naquele período pelos trabalhos de Marcel Jovillet. Também naquela época teve contato com Alain Touraine durante as suas disciplinas e com a teoria de novos atores, que começou a caracterizar os seus estudos. Em 1997, terminou o doutorado e publicou a sua tese, na qual analisou o papel de uma reconhecida ONG, localizada no Centro-Oeste do Paraná, na promoção de um projeto de vida e ecológico para a agricultura junto aos agricultores e agricultoras familiares. Em 2001 retornou à Universidade de Paris X – Nanterre, onde realizou o estágio pós-doutoral com Hugues Lamarche, tendo como tema de pesquisa o movimento ecológico na agricultura.
É docente titular da Universidade Federal do Paraná, onde leciona na pós-graduação em soci-ologia e em meio ambiente e desenvolvimento, assim como, orienta discentes dos cursos de mestrado e doutorado desses respectivos programas. Cabe ressaltar que foi um dos fundadores do programa de pós-graduação em meio ambiente, que possui uma perspectiva interdisciplinar. Foi um dos idealizadores e coordenador do Centro de Estudos Rurais e Ambientais do Paraná – CERU, que é composto por estudantes, pesquisadoras e pesquisadores, um espaço de debate e pesquisa sobre temas rurais e ambientais, que cumpre um papel essencial na formação discen-te. Como pesquisador é comprometido acadêmica e socialmente, dialogando durante a sua trajetória com pesquisadores e pesquisadoras das demais áreas do conhecimento e com atores sociais para além da academia. Manteve durante esses anos o seu interesse pelos temas rurais e ambientais, com uma atenção especial em analisar e compreender as mudanças que ocorrem nesses espaços; as ruralidades e resistências de camponeses e camponesas e suas relações com a natureza. a promoção de agriculturas de base ecológica por esses atores sociais e a emergên-cia dos chamados “novos atores”. No decorrer desses anos, publicou inúmeros textos como resultado de seus estudos e pesquisas, realizadas no estado do Paraná. Uma trajetória que traz uma enorme contribuição para a sociologia e para sociedade paranaense e brasileira.
Sugestões de obras do autor:
BRANDENBURG, A. Agricultura familiar, ONGs e desenvolvimento sustentável. Curitiba: Editora da UFPR, 1999.
BRANDENBURG, A. Movimento agroecológico: trajetória, contradições e perspectivas. Desenvolvimento e Meio Ambiente, v.6, p.11-28, 2003.
BRANDENBURG, A. Ciências sociais e ambiente rural: principais temas e perspectivas analí-ticas. Ambiente e Sociedade, v.3, n.1, p. 51-63, 2005.
BRANDENBURG, A. A colonização do mundo rural e a emergência de novos atores. Ruris, v.4, p.167-194, 2012.
BRANDENBURG, A. Mundo rural e ruralidades. Curitiba, Editora da UFPR, 2018