CP30 – Sociologia da Juventude

Coordenação

Maria Carla Corrochano (UFSCar)
Ricardo Gonçalves Severo (FURG)

A perspectiva sociológica teve uma presença significativa desde os primeiros estudos sobre juventude no Brasil, especialmente nas décadas de 1960, evidenciada nos trabalhos de Marialice Foracchi. Com o tempo, houve um incremento nas investigações interdisciplinares, destacando uma variedade de temas e interesses que emergiram,
refletindo um fenômeno complexo.

Para além de sua importância no contexto da própria constituição da Sociologia no Brasil, pode-se dizer que nos últimos anos, as transformações sociais, econômicas, culturais e políticas tornaram ainda mais relevante a análise da juventude. Como já reconhecia o sociólogo Alberto Melucci (1997), os jovens constituem a “ponta do iceberg”, pois,
devido a sua localização biológica e cultural, interpretam e traduzem para o conjunto da sociedade seus principais dilemas e conflitos. No Brasil, as gerações jovens vivenciaram, em duas décadas, tanto a expansão das oportunidades de trabalho e escolaridade, em especial no acesso ao ensino superior para as camadas populares, quanto a reversão dessas tendências em períodos mais recentes, marcada pela elevação do desemprego e
precarização do trabalho, aprofundamento das desigualdades e redução de investimentos públicos. Adicionalmente, também experimentaram a ampliação no acesso a tecnologias de informação e comunicação, que se mostraram limitadas no contexto da pandemia de COVID-19. Mesmo em momentos de avanços, observaram-se a persistência de altos padrões de desigualdade com significativos impactos para jovens em relação a renda, gênero, cor/raça e local de moradia, acompanhados por índices elevados de violência.

Embora não se possa estabelecer relações lineares entre conjunturas econômicas e a capacidade de ação da sociedade, as mudanças observadas estão associadas à ampliação das formas de ação coletiva e de protesto político, especialmente a partir de junho de 2013. Os jovens participaram ativamente de manifestações contra a reforma educacional no estado de São Paulo e os cortes nos orçamentos da educação, saúde e assistência social.
Após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff em 2016, emerge um acirramento político e institucional que visibilizou diversas orientações ideológicas, em especial com um fortalecimento de movimentos conservadores, incluindo entre os jovens, que passaram a desafiar a produção do conhecimento na área.

As vozes dirigidas aos jovens têm sido permeadas por ambivalências, equilibrando as preocupações com problemas sociais e a formação das novas gerações, enquanto pautas moralizadoras começaram a ganhar centralidade em diferentes instituições, afetando relações familiares e vários segmentos sociais, em especial aqueles marcados por maior vulnerabilidade. Esse cenário se configura como um retrocesso em relação a avanços legais, como o Estatuto da Juventude (2013) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990).

A análise das especificidades, demandas e necessidades da juventude, considerando os critérios sociais e históricos que estabelecem seus limites, é essencial para a compreensão das trajetórias juvenis em um contexto marcado por desigualdades múltiplas. A pesquisa sociológica deve, portanto, aprofundar-se na diversidade de formas de ser e estar dos jovens em suas diversas condições sociais e identidades.

Apoiadores

Aline Suelen Pires (UFSCar)
Ana Luisa Fayet Sallas (UFPR)
Danilo Morais (FHO)
Dirce Zan (UNICAMP)
Flávio Munhoz Sofiati (UFG)
Frank Nilton Marcon (UFS)
Jamile Silva Guimarães (UFMG)
João Bittencourt (UFAL)
Kimi Aparecida Tomizaki (USP)
Leandro Pinheiro (UFRGS)
Liana de Paula (UNIFESP)
Luana Dias Motta (UFSCAR)
Lucélia de Moraes Braga Bassalo (UEPA)
Luiz Paulo Jesus de Oliveira (UFRB)
Maria Carla Corrochano (UFSCar)
Maurício Perondi (UFRGS)
Melissa de Mattos Pimenta (UFRGS)
Nilson Weisheimer (UFRB)
Régia Cristina Oliveira (USP)
Ricardo Gonçalves Severo (FURG)
Tom Dwyer (Unicamp)
Valéria Lopes (IFPA)
Wivian Weller (UnB)

Comitês de Pesquisa