CP29 – Biografia e Sociedade

Coordenação

Hermilio Santos (PUCRS)
Priscila Queirolo Susin (PUC-RS)

Desde as primeiras décadas do século XX, quando Thomas e Znaniecki analisaram a emigração de camponeses da Polônia para os EUA com base em relatos orais, sociólogos têm se valido desse tipo de dado para compreender aspectos variados da realidade social. Sociólogos têm utilizado, com objetivos e procedimentos os mais diversos, relatos produzidos por aqueles que vivenciaram a realidade que se quer pesquisar. Nas ciências sociais brasileiras, as variantes da pesquisa qualitativa centradas em histórias de vida, relatos orais e biografias vêm sendo discutidas e utilizadas pelo menos desde a década de 1970, embora, cabe destacar, que já na década de 1940 sociólogos brasileiros, como Florestan Fernandes, tinham realizado pesquisas utilizando relatos orais.

A pesquisa com material biográfico produzido diretamente a partir de relatos de entrevistados é, hoje, considerado um campo de pesquisa autônomo na sociologia, reconhecido pela Associação Internacional de Sociologia (ISA) desde 1984, através do Comitê de Pesquisa Biografia e Sociedade. Desde então, a abordagem se expandiu para diversos países, tendo sido utilizada em pesquisas empíricas sobre variados temas. A produção acadêmica alemã, particularmente, tem contribuído de maneira sistemática para o incremento do uso de material biográfico na pesquisa sociológica, explicitando a fundamentação epistemológica das escolhas metodológicas adotadas e desenvolvidas, tanto para a produção dos dados quanto para sua análise.

A análise sociológica de histórias de vida e biografias, apesar de ocupar uma posição relativamente marginal na produção sociológica brasileira, remonta à tradição de pesquisa iniciada por uma geração de cientistas sociais que utilizavam métodos de história oral. Desde então, esses métodos se tornaram cada vez mais diversificados, o que traz novos desafios para sua utilização e parece motivar uma profusão de textos metodológicos. Nos anos mais recentes observa-se um interesse crescente de pesquisadores brasileiros pela adoção de narrativas e de
material biográfico em pesquisas empíricas. Esse interesse tem sido evidenciado em pesquisas em andamento, publicações recentes, assim com em traduções para o português de diferentes abordagens com ênfase em pesquisa biográfica ou em narrativas biográficas. Destaca-se entre as publicações recentes, por exemplo, o dossiê “Narrativas – teorias e métodos”, publicado na revista Civitas (vol. 14, nr. 2), organizado por Hermílio Santos, Wivian Weller e Bettina Völter. O GT Biografia e Sociedade pretende institucionalizar, nas sociologia brasileira no âmbito da SBS, um espaço que conta com similar há décadas em outras associações de sociologia, como é o caso da Sociedade Europeia de Sociologia, a Sociedade Alemã de Sociologia, além da International Sociological Association – ISA, que desde 1982 conta com Comitê de Pesquisa 38 Biography and Society.

Como afirmado, a sociologia contemporânea tem desenvolvido diversas maneiras de se produzir dados biográficos e de analisá-los. Merecem destaque pelo menos duas abordagens, uma que propõe a análise da chamada “trajetória biográfica” ou curso de vida, proposta em especial por Daniel Bertaux, se debruça sobretudo sobre análise dos percursos biográficos realizados por sujeitos vinculados a atividades ou experiências específicas. Uma outra vertente igualmente influente parte da formulação proposta por Fritz Schütze e seus
colaboradores e que, posteriormente, foi desenvolvida em distintas direções, como aquelas propostas por Ralf Bohnsack, como também aquela proposta por Gabriele Rosenthal, ambas amparadas em grande medida nas formulações desenvolvidas por Fritz Schütze. Entretanto, a área de estudos biográficos na sociologia apresenta uma grande diversidade. E o objetivo do GT é promover o debate de todas as abordagens presentes no campo, tanto de seus fundamentos epistemológicos, os métodos propostos, assim como dos resultados obtidos em pesquisa empírica.

Pelo menos um aspecto é compartilhado entre as diferentes abordagens que adotam narrativas e biografias como “dado”: a necessidade de se obter diretamente dos sujeitos relatos sobre as experiências que vivenciaram ou vivenciam, tanto para reconstruir trajetórias de vida, quanto para obter acesso à interpretação dos próprios sujeitos sobre suas experiências com o objetivo de fornecer uma compreensão mais acurada da realidade pesquisada. Contudo, neste campo de pesquisa destaca-se a multiplicidade de procedimentos metodológicos, tanto em relação ao processo de produção das narrativas, quanto de sua análise. As escolhas metodológicas dependem, em boa medida, do ponto de partida teórico adotado pelos pesquisadores – ainda que nem sempre explicitados -, assim como dos problemas que motivam as investigações, bem como de fundamentações epistemológicas que embasam as diferentes escolhas metodológicas. O GT pretende ser exatamente o espaço para fomentar e discutir a produção recente que está vinculada de alguma maneira às experiências biográficas como forma de acesso e investigação de fenômenos sociais os mais variados.

Apoiadores

Breitner Luiz Tavares (UnB)
Celi Scalon (UFRJ)
Cornélia Eckert (UFRGS)
Débora Rinaldi (PUCRS)
Fernando Tavares Jr. (UFJF)
Hermílio Santos (PUCRS)
Jaime dos Santos Jr. (UFPR)
Kamila Almeida (PUCRS)
Karina Schuh Reif (PUCRS)
Lucas Cé Sangalli (Universität Göttingen)
Lucélia de Moraes Braga Bassalo (UEPA)
Maria Francisca Pinheiro Coelho (UnB)
Maria Sarah da Silva Telles (PUC Rio)
Marilda Menezes (UFABC)
Naida Menezes (PUCRS)
Priscila Susin (PUCRS)
Rodrigo Vieira de Assis (CIES-ISCTE)
Veridiana Domingos Cordeiro (USP)
Wivian Weller (UnB)

Comitês de Pesquisa