CP09 – Sociologia da Arte
Coordenação
Em sua reflexão sobre a produção de bens de cultura, a Sociologia sempre dedicou relativo destaque à arte, a seus mecanismos de consagração e sua relação com processos mais amplos da sociedade. Weber dedicou importantes esforços à análise do processo de racionalização na música, Simmel publicou trabalhos tanto sobre Rembrandt quanto sobre a moda e o adorno, Marx discutiu em profundidade os efeito da economia na produção da ideologia. Mais tarde, sociólogos da Escola de Frankfurt dedicaram considerável tempo ao problema. Estudos mais contemporâneos inserem o tema na ordem do dia e, através de Bourdieu, Howard Becker e Norbert Elias, vemos o objeto se consolidar como tema canônico na Sociologia.
No entanto, se os sistemas de valor mudam no tempo e os campos e mundos são dotados de heteronomia, a arte desempenha ainda outro papel essencial. Ao julgar a produção de arte, conferindo-lhe legitimidade e definindo para o artista uma posição no campo (ou no mundo da arte), a sociologia foi capaz de estabelecer relação entre a sociedade envolvente e o mundo hermético da produção estética. Assim, mudanças na arte podem ser, tomadas como índices e conseqüências de mudanças mais amplas na sociedade contemporânea.
Este Grupo de Trabalho, discutindo especificamente as pesquisas sociológicas em Arte, se coloca em meio a uma série de iniciativas que vêm procurando debater a produção de bens de cultura no país. A proposta enfrenta a constatação de que, embora a importância da pesquisa e ensino em Sociologia da Arte venha crescendo hoje no Brasil, a produção acadêmica na área ainda é esparsa. O volume de cursos de graduação e pós-graduação que oferecem disciplinas de Sociologia da Arte atestam o interesse de estudantes e pesquisadores sobre a arte na vida social. Do mesmo modo, a recente publicação de livros de referência como os de Nathalie Heinich, Sociologia da Arte (2008), e de Vera Zolberg, Para uma Sociologia da Arte (2006), atesta que, ao menos no mercado editorial, há público para o tema. Também, como se verá a seguir, a crescente demanda pelo Grupo de Trabalho em Sociologia da Arte no Congresso Brasileiro de Sociologia é um indicador da expansão da produção.
De fato, a área de pesquisa em formação conta ainda com pequena divulgação no país. Se, desde a década de 1940, Roger Bastide já introduzira as primeiras reflexões sobre o campo, muito pouco se publicou sobre o tema depois da fortuna crítica da coletânia de Gilberto Velho de meados dos anos 1960, Arte e Sociedade – Ensaios de Sociologia da Arte.
O Grupo de Trabalho de Sociologia da Arte vem, desde 2007, contribuindo para a consolidação da pesquisa sociológica em Arte no Brasil. Nas duas primeiras edições em que esteve inscrito como parte da programação do Congresso Brasileiro de Sociologia, o grupo foi capaz de agregar sociólogos com relevante produção acadêmica, sob a coordenação de Lígia Dabul e Rogério Medeiros.
Em sua primeira edição (2007), o GT contou com 30 comunicações, das quais 16 foram proferidas por doutores e 14 se dividiram entre mestres e doutorandos. Todas as comunicações de altíssimo padrão, indicaram que o GT efetivamente correspondia a uma demanda dos participantes do Congresso Brasileiro de Sociologia que encontraram nas suas sessões a possibilidade de diálogo com seus pares. Esta primeira indicação de que poderia surgir uma rede de pesquisadores em torno da pesquisa sociológica em arte, levaram à inscrição do GT na segunda edição do Congresso, que aconteceria em 2009. Na ocasião, o êxito do GT foi confirmado pelo número crescente de comunicações. O volume de palestrantes, 42% maior, correspondia ao esforço de inclusão de trabalhos num universo de inscrições de nível cada vez mais alto. Na edição de 2009, foram proferidas 35 comunicações nas seções ordinárias e mais 8 comunicações nos Laboratórios de Pesquisa, chegando a um total de 43 comunicações, das quais 21 foram proferidas por doutores e 22 por doutorandos e mestres. Debatedores foram convidados a discutir os trabalhos, colaborando para o nítido adensamento das discussões. Do mesmo modo, a permanência de mais de 33% dos membros originais do GT, contribuiu para conformação de uma agenda compartilhada, sem prejuízo da renovação dos debates e incorporação de novos palestrantes. Em todos os sentidos, o GT de Sociologia da Arte do Congresso Brasileiro de Sociologia já vinha sendo bem sucedido.
Já depois do primeiro encontro do grupo, os resultados se puderam fazer sentir e tiveram como parte de seus desdobramentos a apresentação da Mesa Redonda Sociologia das Artes Plásticas: focos e enfoques de abordagens comparativas, na edição seguinte do congresso, em 2009. Do ponto de vista da produção bibliográfica, deve ser especialmente mencionada a publicação de Sociologia das Artes Visuais no Brasil. Organizado em 2012 por Maria Lucia Bueno, o livro conta com importantes contribuições de participantes do grupo. Também Manifestações Artísticas e Ciências Sociais, organizado por Patricia Reinheimer e Sabrina Parracho Sant’ Anna, apresenta trabalhos que são fruto da rede de pesquisadores iniciada no GT da SBS.
Devemos enfatizar também o esforço de internacionalização do grupo, destacando em particular o encaminhamento de um dossiê, em torno da sociologia da arte no Brasil, à revista Sociologie de L’art, reunindo em 2012 participantes do grupo e a recente publicação do livro Arte e Vida Social, organizado em 2016 por Glaucia Villas Bôas e Alain Quemin, com financiamento de edital Saint Hilaire (CAPES). O livro publicado em português e francês reuniu as principais contribuições da Sociologia da Arte nos dois países. Também o livro De Vidas Artes, organizado em 2019 por Lígia Dabul e Paula Guerra, da Universidade do Porto, desdobra para o campo internacional a produção em sociologia da arte de numerosos jovens pesquisadores cuja trajetória está vinculada à sua participação na rede de debates e pesquisadores em sociologia da arte referida e sempre renovada pelo GT Sociologia da Arte da SBS. Tais iniciativas têm servido de estímulo para que se invista na consolidação do Grupo de Trabalho em Sociologia da Arte no Congresso Brasileiro de Sociologia, tendo em vista sua contribuição para o fortalecimento de uma rede nacional e internacional de pesquisadores, que poderá derivar na consolidação de novos pólos de pesquisa e na criação de uma Revista lusófona de Sociologia da Arte.
Após as primeiras versões, o GT Sociologia da Arte da SBS também contou em sua coordenação com Maria Lucia Bueno (UFJF) e Sabrina Parracho Sant’Anna, e com diversos pesquisadores de diferentes regiões e instituições brasileiras. O GT de Sociologia da Arte completou em 2017 uma década. Foi fundado por Lígia Dabul, professora da Universidade Federal Fluminense, e por Rogério Medeiros, da Universidade Federal do Rio de Janeiro tendo contado com apoio, desde sua fundação, dentre outros cientistas sociais, de Glaucia Villas Bôas, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de Giralda Seiferth, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de Irlys Barreira, da Universidade Federal do Ceará, de Dorothea Voegeli Passeti, da Pontificia Universidade Católica de São Paulo, e Patricia Reinheimer, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Apoiadores
Ana Letícia Fialho (Unifesp)
Ana Paula Simioni (USP)
Anderson Costa (UFBA)
Antonio Câmara (UFBA)
Bruno Vilas Boas Bispo (UFBA)
Caroline de Araújo Lima (UNEB)
Claudia Oliveira (UFRJ)
Eliska Altmann (UFRJ)
Felipe Magaldi (UFRJ)
Glaucia Villas Bôas (UFRJ)
Gloria Diógenes (UFC)
Guilherme Marcondes (UECE)
Humberto Alves Silva Junior (UFBA)
Irlys Barreira (UFC)
Jorge de La Barre (UFF)
Kadma Marques (UECE)
Marcelo Ribeiro (UFJF)
Patricia Reinheimer (UFRRJ)
Paula Guerra (UP)
Paulo Keller (UFMA)
Rodrigo Lessa (IF Bahiano)
Tarcila Formiga (Cefet/RJ)