CP07 – Sociologia Ambiental e Ecologia Política

Coordenação

Sônia M. Santos (UFPA)
Lorena C. Fleury (UFRGS)

Presente na arena pública, com maior ou menor visibilidade, ao menos desde meados de 1970, o debate ambiental na Sociologia é envolto em controvérsias. Sendo a natureza vista como a antípoda da sociedade na cartografia disciplinar, por um longo período as interpretações sociológicas obliteraram o ambiente de suas análises, configurando o que Ayuero (2011), ao refletir sobre a omissão do lugar e do contexto ambiental nas etnografias da pobreza urbana e da marginalidade na América Latina, chamou de recusa etnográfica “em relatar o simples fato de que os pobres não respiram o mesmo ar, bebem a mesma água ou brincam nos mesmos parques que os outros”. Tal situação fez com que o sociólogo argentino afirmasse ser “crucial colocar a (in)justiça ambiental no centro das análises (…) juntamente com renda, emprego, educação e outras variáveis convencionais” (AYUERO, 2011, p.146), de modo a se romper o silêncio das análises sociológicas acerca dos fatores ambientais na vida social.

Contudo, na produção sociologia brasileira, já há algumas décadas o ambiente, em sua multiplicidade de vivências e representações, tem recebido lugar de destaque, de modo com que possa se afirmar que há um campo consolidado de estudos, envolvendo diversos autores, grupos de pesquisa e temáticas (FLEURY, BARBOSA, SANT’ANNA, 2017). Configurando-se inicialmente a partir dos debates sobre sustentabilidade (FERREIRA, 2005), pouco a pouco tem sido a análise de conflitos ambientais que tem orientado a discussão ambiental na sociologia brasileira.

Tal arena ambiental brasileira já foi discutida em distintas revisões sobre as linhas de pesquisa em ambiente e ciências sociais no Brasil (VIEIRA, 1992; ALONSO; COSTA, 2002; FERREIRA, 2005; FLEURY; ALMEIDA; PREMEBIDA, 2014; FLEURY, BARBOSA, SANT’ANNA, 2017). Grosso modo, a partir dessas revisões constata-se que podem ser identificados quatro grandes grupos de autores e abordagens que configuram o campo de investigação em sociologia ambiental no Brasil atualmente: a) aqueles que dialogam com a sociologia ambiental internacional, considerada de modo amplo, orientando suas pesquisas a partir dos debates sobre arenas públicas, sociedade de risco, modernização ecológica, sustentabilidade e sociologia rural e interdisciplinaridade (FUKS, 2001; FERREIRA, 1996; ALMEIDA, 1997; GUIVANT, 1998; BRANDENBURG, 2005; entre outros); b) autores que se apropriam do arcabouço teórico-metodológico da sociologia crítica, influenciados pelas pesquisas de Pierre Bourdieu, e discutem conflitos ambientais a partir de relações simbólicas e de poder/dominação (LOPES, 2004; ACSELRAD, 2004; ZHOURI; LASCHEFSKI, 2010; SANT’ANA JUNIOR, 2010; BARBOSA; CAMENIETZKI., 2012; entre outros); c) autores que discutem conflitos ambientais a partir de análises sobre povos tradicionais e grandes projetos de desenvolvimento (RIBEIRO, 1991; ALMEIDA, 1996; MAGALHÃES, 2007; CARNEIRO DA CUNHA, 2009; ESTERCI; SANT’ANA JÚNIOR, 2009; O’DWYER, 2009); e d) autores que vinculam os conflitos ambientais aos estudos de ciência e tecnologia – ESCT e à virada pragmática, incorporando nas análises de conflitos ambientais a proposição cosmopolítica de Isabelle Stengers (2003) e enfatizando o alargamento das noções de política e ambiente nas disputas e a possibilidade de coexistência de mundos distintos colocada em xeque no conflito (FLEURY, 2013; ALMEIDA, 2016; MEIRA, 2017; GONZAGA, 2017).

Como ponto crucial de encontro, de reflexão e de problematização a respeito dessas diferentes abordagens está o Grupo de Trabalho (GT) sobre conflitos ambientais nas distintas edições do Congresso Brasileiro de Sociologia. Atravessando diferentes momentos do debate, as persistências e transformações nas características do GT o tornam uma representação metonímica do campo, motivo pelo qual recuperamos aqui seu histórico.

Desde o VIII Congresso Brasileiro de Sociologia que, regularmente, vêm se constituindo Grupos de Trabalhos sobre a temática geral da relação entre Sociedade e Meio Ambiente. No VIII Congresso, o GT 11, denominado “Sociedade e Meio Ambiente” foi organizado por Laura Maria Goulart Duarte (UNB). No IX Congresso, o GT 06, denominava-se “Sociologia e Meio Ambiente” (não foi possível resgatar o nome de seus organizadores). Quando do X Congresso, o GT 14, denominado “Relações Sociais e Meio Ambiente”, foi organizado por Leila da Costa Ferreira (UNICAMP) e Maria José Jackson Costa (UFPA). No caso do XI Congresso, Sônia Barbosa (PUC-Campinas) e Leila da Costa Ferreira (UNICAMP) organizaram o GT 18: “Relações Sociais e Meio Ambiente”. Já durante o XII Congresso, as questões relacionadas aos conflitos ambientais e territorialidades aparecem explicitamente no título do GT, então designado “Conflitos Ambientais, Territorialidades e Estado”; neste ano, o GT foi organizado por Andréa Zhouri (UFMG), Eder Jurandir Carneiro (UFSJ) e Henri Acserald (UFRJ). Nos XIII e XIV Congressos, Horácio Antunes de Sant’Ana Júnior (UFMA), Neide Esterci (UFRJ) e Maria José da Silva Aquino (UFPA) organizaram o GT 23: “Sociedade e Ambiente”. Nos XV e XVI Congressos, Horácio Antunes de Sant’Ana Júnior (UFMA), Cleyton Henrique Gerhardt (UFRGS) coordenaram o GT “Conflitos Socioambientais”. No XVII Congresso, o GT “Conflitos Socioambientais” foi organizado por Cleyton Henrique Gerhardt (UFRGS) e Doralice Barros Pereira (UFMG). Por fim, em 2017, na XVIII edição do Congresso, e em 2019, na XIX edição do congresso o GT 26 “Conflitos Socioambientais” foi organizado por Lorena Fleury (UFRGS) e Rômulo Barbosa (UNIMONTES).

A permanente organização de GTs que discutem a relação entre sociedade e ambiente nos Congresso da SBS pode ser entendida como parte de um movimento acadêmico e político mais amplo de emergência de concepções e práticas voltadas à “questão ambiental”. Esse propósito garante a organicidade e a continuidade do GT como um instigante fórum de debate acadêmico, apesar das mudanças de nome e de enfoque ao longo do tempo.

De fato, tais variações apontam justamente o esforço de seus participantes em abordar uma mesma problemática a partir de ângulos distintos. Trata-se, enfim, de distintas ênfases e propostas, com maior ou menor continuidade, mas que têm assegurado um rico espaço de discussão continuada acerca de temas relevantes nas sociedades contemporâneas e, especialmente, no Brasil.

Além da sistemática organização dos GTs nos Congressos da SBS, um conjunto de pesquisadores neles envolvidos tem feito esforços para organizar, desde 2004, um GT sobre conflitos ambientais na ANPOCS, com edições anuais, além de várias mesas redondas; uma série de GTs nas Reuniões da Associação Brasileira de Antropologia (ABA); uma participação em GT em Mesas Redondas nos Encontros da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade (ANPPAS); e um GT no Encontro SBS Norte. Por iniciativa dos vários pesquisadores, individualmente ou em grupos, artigos em periódicos e livros têm sido publicados destacando as temáticas apresentadas no GT.

É dando continuidade a esse esforço coletivo e constante de pesquisadoras e pesquisadores de distintas instituições e regiões do Brasil que se vincula o presente Comitê de Pesquisa Sociologia Ambiental e Ecologia Política.

Apoiadores

Aline Radaelli (UFRGS)
Andréa Zhouri (UFMG)
Eder Carneiro (UFSJ)
Edna Castro (UFPA)
Eliana Creado (UFES)
Gabriela Dias Blanco (UFRGS)
Henri Acselrad (UFRJ)
Horácio Antunes de Sant’ana Junior (UFMA)
Júlia Guivant (UFSC)
Maria José Aquino Teisserenc (UFPA)
Maycom Nascimento (UFRGS)
Raquel Giffoni (IFRJ)
Rodrigo Corrêa Diniz Peixoto (Museu Paraense Emílio Goeldi)
Rômulo Barbosa (UNIMONTES)
Tânia Guimarães Ribeiro (UFPA)

Comitês de Pesquisa