CP03 – Inovação social e economias alternativas

Coordenação

Marilia Veronese (UNISINOS)
Valmor Schiochet (FURB)

O GT enfoca realidades empíricas variadas, que compõem um cenário multiforme, ao Sul e ao Norte do mundo. Crises globais cíclicas têm sistematicamente reduzido a capacidade de regulação social e econômica das estruturas instituídas, gerando pauperização e desamparo, mantendo ou aumentando globalmente as brutais desigualdades que impedem uma redistribuição mais justa de recursos necessários à reprodução da vida. Portanto, iniciativas econômicas alternativas de várias origens formam o contexto multivariado a que fazemos referência, sobre o qual o GT se debruça para apreender-lhe os sentidos e as possiblidades.

Ao Norte, em especial no continente europeu, emergiram iniciativas que passaram a constituir o campo da “economia social”, que refere às atividades econômicas que buscam democracia econômica associada à promoção social, movidas pela hibridação de recursos mercantis, não mercantis e não-monetários. A economia social é formada principalmente por empresas sociais e organizações do terceiro setor, cuja finalidade não é o lucro, mas uma missão social. O conceito de “empresa social” não compete a todo o campo da economia social, mas ajuda a identificar a dinâmica empresarial que está no cerne de parte do terceiro setor.

Ao Sul, particularmente no Brasil, a economia solidária se constituiu como uma das formas de resistência dos trabalhadores ao desemprego, os quais passaram a associar-se para produzir de forma autônoma através de uma miríade de empreendimentos econômicos solidários (EES) no campo da produção, comercialização, consumo e financiamento. No caso da economia solidária, esse conjunto variado de iniciativas, por vezes, ainda está em busca de identidade institucional e de um arcabouço jurídico condizente, que não cabe no cooperativismo tradicional nem no terceiro setor. A dimensão política é o principal traço distintivo da economia solidária, que logo evidenciou seu caráter propositivo e não apenas reativo ao desemprego, sendo articuladora de instâncias políticas e de práticas em prol de um projeto societário mais justo e sustentável, articulando-se e desenvolvendo-se a partir do primeiro Fórum Social Mundial em Porto Alegre-RS, em janeiro de 2001.

Novas formas de ativismo social, político e econômico disseminaram-se sob distintas dinâmicas, diferenciando-se quanto à relação com o Estado, de articulação ou de negação, e quanto às causas sociais postas nas agendas, desde as tradicionais agendas do movimento operário e camponês até as novas pautas de gênero, étnicas, culturais e ambientais. Em comum, a valorização de processos democráticos e a experimentação ou recriação de dinâmicas e lógicas econômicas alternativas à mercantil, sejam pautadas pela cooperação e pela solidariedade que demarcaram lutas históricas dos trabalhadores e se renovaram na economia social e solidária, sejam por inovações sociais ligadas à economia criativa, colaborativa e compartilhada.
A dimensão epistemológica está presente no interesse pelas discussões que englobem o debate da colonialidade do poder e do saber, no sentido de compreender as violências estruturais com continuidade no tempo, originadas na conformação do sistema-mundo colonial/capitalista/moderno. Ou seja, estão em foco tanto experiências vinculadas às identidades culturais quanto às pautas socioeconômicas, abrangendo os debates do reconhecimento e da redistribuição. É importante ressaltar a amplitude temática do GT, pois nele também cabem estudos e relatos de experiências ligados às identidades culturais através das quais os sujeitos se reconhecem, se representam e são reconhecidos pela sociedade de entorno. Na economia solidária, a importância da cultura que marca cada experiência de associação com referências próprias é significativa, o que as faz desenvolver seus produtos, serviços e práticas dotados de singularidade e criatividade.

Cabe ressaltar ainda as inovadoras institucionalidades organizativas da economia solidária no campo do associativismo, do cooperativismo, das redes, dos fóruns e das articulações em múltiplas escalas territoriais. No campo das políticas públicas as iniciativas locais, regionais e nacionais de iniciativas governamentais e parlamentares na implementação de uma agenda de direitos relativos a estas novas formas de organização socioeconômica.
Sumariando, este GT discutirá o cooperativismo, a economia solidária e as formas emergentes de empreendedorismo individual e coletivo, além de práticas, movimentos, organizações e políticas que envolvem sua implementação em comunidades e territórios, considerando as respectivas epistemologias e saberes. Cabe também destacar o interesse nas inovações sociais geradoras de conhecimento e de soluções sustentáveis por via da participação cidadã, materializadas nas experiências em rede, substantivas e democráticas.

Apoiadores

Adriane Vieira Ferrarini
Aline Mendonça dos Santos
Ana Paula Aquino
Ari Rocha da Silva
Carlos Eduardo Arns
Carolina Andion
Caroline da Graça Jacques
Davidson Afonso de Ramos
Eugenia de Souza Mello Guimarães Motta
Fabio Bechara Sanchez
Leticia Barbosa
Luiz Inácio Gaiger
Maria Bárbara Figueira
Marilene Zazula Beatriz
Max Richard Coelho Verginio
Neli Almeida
Robinson Henrique Scholz
Sabrina Stieler
Silvia L. de Aquino
Victoria Zuniga

Comitês de Pesquisa