CP01 – Teoria Sociológica
Coordenação
A Teoria Sociológica apresenta-se como uma área de pesquisa reconhecida e legitimada no campo da Sociologia, sobretudo nas sociedades ditas centrais. Diversas organizações sociológicas dedicam ao menos um grupo de trabalho à teoria, a exemplo da Associação Internacional de Sociologia, Associação Sociológica Britânica, Associação Sociológica Europeia, Sociedade Alemã de Sociologia, Associação Francesa de Sociologia e Associação Sociológica Australiana. Diferentemente do que ocorre em outros países da periferia global como o México e a Índia, os grupos de Teoria Social já apresentam uma sólida história intelectual entre nós: existem na Anpocs desde 1985 e, na Sociedade Brasileira de Sociologia, desde 1990.
Se essa consolidação institucional é um indicativo do amplo reconhecimento que o tema recebe, inclusive entre nós, ela nada nos informa sobre a maneira como a teoria sociológica se constitui como objeto de pesquisa. Essa área não deve ser confundida com o uso da teoria no campo da pesquisa aplicada ou com o processo inverso de acúmulo de reflexão teórica a partir da investigação empírica. Que o saber sociológico é intrinsecamente teórico é um dado que reflete as propriedades da própria ciência social e, nessa medida, todo e qualquer sociólogo produz, a seu modo, teoria sociológica. No entanto, quando retiramos a teoria do campo da pesquisa empírica para torná-la, ela mesma, em si e por si, um objeto constante e especializado de exame, instaura-se uma nova situação: a teoria aparece como um saber reflexivo e de segunda ordem. Sua história assemelha-se mais à história da filosofia do que à história da ciência. Em lugar de uma série de “descobertas”, a história da pesquisa teórica consiste em um retorno constante a algumas questões consideradas centrais à vida social a fim de refiná-las, modificá-las, exercer a crítica epistemológica e oferecer novas perspectivas de análise. Certamente que esse movimento de retorno é, ele próprio, informado por mudanças concretas na vida social e, por esta razão, as questões empíricas importam, ainda que não como objetivo último da análise.
Essas características da pesquisa teórica podem ser melhor compreendidas a partir de uma distinção, já bem estabelecida na tradição anglo-saxã, entre Teoria Social e Teoria Sociológica. De acordo com esta tradição, o termo Teoria Social refere-se a uma área interdisciplinar que se ocupa de questões bastante amplas, relativas à existência e à natureza das entidades sociais, ao tipo de conhecimento possível nas ciências sociais e aos seus pressupostos e implicações prático-políticos. Ao ocupar-se das sociedades humanas, como um todo, pode incluir autores de áreas tão diversas como a filosofia, a história, a antropologia, a ciência política, os estudos pós-coloniais, feministas etc. A teoria sociológica, conforme concebida por essa tradição de pensamento, pode ser considerada um ramo da teoria social decorrente de uma divisão do trabalho intelectual. Seu foco incide sobre as sociedades “industriais”, “capitalistas” ou, de forma mais geral, relativas à “modernidade ocidental”, suas transformações e sua difusão. É neste sentido específico que ela se localiza na interface da teoria social e da sociologia empírica, incluindo uma série de temas e problemas como: questões metateóricas acerca de seus pressupostos ontológicos, epistemológicos, éticos e prático-políticos; distinções analíticas (micro-macro, indivíduo-sociedade, agência-estrutura) para dar conta de questões relativas a ordem, mudança e integração sociais; processos sociais associados à modernidade, como diferenciação social, reificação, racionalização, aumento da complexidade sistêmica, globalização etc; diagnósticos críticos das patologias do tempo presente.
Como sugerido anteriormente, todo esse corpo de temas e problemas já possui uma longa história e se encontra plenamente institucionalizado entre nós. Retomá-lo, nas mais diversas perspectivas, é tarefa válida, necessária, e responsabilidade de cada geração. O Comitê de Pesquisa Teoria Sociológica da SBS, em continuidade ao Grupo de Trabalho homônimo, busca valorizar essa variedade de orientações, problemas e temas, orientando-se pelos princípios do pluralismo, da qualidade e da inovação. Tem como objetivo não apenas proporcionar um espaço intelectual no qual as pesquisas feitas sobre a teoria encontrem expressão adequada, mas também um ambiente em que pesquisadoras e pesquisadores consigam articular-se em torno de uma agenda intelectual na diversidade de orientações metodológicas que estruturem um campo epistemológico. Essa agenda precisa estar em sintonia com a conjuntura intelectual e social global e com a realidade brasileira como lugar epistêmico e horizonte social. Acima de tudo, deve estar em sintonia como os desafios do nosso tempo.
Apoiadores
Adelia Miglievich Ribeiro
Alipio de Sousa Filho
André Ricardo do Passo Magnelli
Angela Randolfo Paiva
Carlos Alfredo Gadea
Carlos Eduardo Sell
Cinara Lerrer Rosenfield
Cynthia Hamlin (UFPE)
Elisa Reis
Emil Sobottka (PUCRS)
Fabrício Neves (UnB)
Fraya Frehse
Frédéric Vandenberghe
Gabriel Peters (UFPE)
Jordão Horta Nunes (UFG)
José Benevides Queriroz
Luiz Gustavo da Cunha de Souza
Márcio Sérgio Batista Silveira de Oliveira
Pâmela Marconatto Marques
Patrícia Mattos
Paulo César Alves (UFBA)
Paulo Henrique Martins
Raquel Andrade Weiss (UFRGS)
Rodrigo Cantu de Souza
Rodrigo da Rosa Bordignon
Sérgio Tavolaro (UnB)
Simone Magalhães Brito (UFPB)
Simone Meucci