A Sociedade Brasileira de Sociologia manifesta profundo pesar pelo falecimento de Luiz Werneck Vianna. Nascido em 1938, no Rio de Janeiro, Werneck Vianna obteve graduação em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1962), graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1967) e Doutorado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (1976). Além da formação acadêmica, Werneck se formou política e intelectualmente na militância junto ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), atuando na resistência à ditadura de 1964 e nas lutas pela redemocratização do país, tendo sido candidato a deputado na Constituinte de 1986.
Werneck foi professor durante três décadas do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e atualmente era docente do Departamento de Sociologia e Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) durante o biênio 2003-2004 e recebeu, como reconhecimento da sua trajetória intelectual, o Prêmio Florestan Fernandes da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), em 2011, e o Prêmio ANPOCS de Excelência Acadêmica Antônio Flávio Pierucci em Sociologia, em 2014.
A obra de Luiz Werneck Vianna é ampla e diversificada, tendo sido fundamental para abrir campos de investigação em variadas áreas das ciências sociais, como o sindicalismo e o corporativismo, os intelectuais, o pensamento social brasileiro, a judicialização da política e das relações sociais, a modernização e a democracia. O diálogo sofisticado com os clássicos do pensamento social brasileiro e de outras geografias – em especial, Gramsci – possibilitou a produção de uma obra repleta de potência e criatividade, evidenciada em trabalhos como Liberalismo e Sindicato no Brasil (1976), A Revolução Passiva: iberismo e americanismo no Brasil (1997) e A judicialização da política e das relações sociais no Brasil (1999), com os colegas Maria Alice Rezende de Carvalho, Marcelo Burgos e Manuel Palácios, além da organização de coletâneas importantes como A democracia e os três poderes no Brasil (2002).
A esta produção somam-se seus artigos argutos sobre a conjuntura política do país, publicados em espaços dos quais foi colunista como a revista Presença, O Estado de São Paulo e Valor Econômico, e em blogs como o de Gilvan Cavalcanti de Melo –, muitos deles reunidos em livros como Travessia – da abertura à Constituinte (1986), A Transição. Da Constituinte à sucessão presencial (1989), De um Plano Collor a outro (1990), Esquerda brasileira e tradição republicana: estudos de conjuntura sobre a era FHC-Lula (2006), A modernização sem o moderno: análises de conjuntura na era Lula (2011).
A obra de Werneck Vianna só pode ser devidamente compreendida quando analisada em conexão com as transformações que ocorreram no Brasil ao longo das últimas décadas. A sofisticação acadêmica, a erudição, a disciplina intelectual, o rigor da investigação, a capacidade imaginativa, a potência da escrita e da exposição pausada dos argumentos em aulas e em palestras, todos os elementos que conformam um pesquisador de altíssima qualidade, estavam todos eles dedicados e orientados para a intervenção pública. Werneck soube como poucos articular uma produção acadêmica sofisticada com a vocação do intelectual público, disposto a intervir de modo corajoso na conjuntura, abrindo novos campos de investigação e de reflexão sobre o país.
Para além da produção acadêmica e da intervenção pública, Werneck Vianna se destacou na constituição de redes e espaços de produção acadêmica relevantes – como a revista Presença e o Centro de Estudos Direito e Sociedade (CEDES) – e teve papel fundamental, como professor e como orientador,na formação de alunos e de jovens pesquisadores. As coletâneas Uma sociologia indignada: diálogos com Luiz Werneck Vianna (Editora UFJF, 2012) e Uma difícil democracia: diálogos sobre a obra de Luiz Werneck Vianna (Editora UFJF, 2023) reúnem artigos de pesquisadores de diferentes gerações, que evidenciam a potência de sua reflexão acadêmica e política.
Luiz Werneck Vianna deixa um enorme legado para as ciências humanas no Brasil, além do compromisso com as pautas progressistas mais generosas e com a luta pela democracia.
Por Fernando Perlatto, Professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)