Nota da Sociedade Brasileira de Sociologia sobre a supressão do ensino de questões de gênero e orientação sexual nas escolas

Publicado em 23 de junho de 2015

A Sociedade Brasileira de Sociologia considera preocupante a supressão dos temas das relações de gênero e orientação sexual dos planos de educação nacional, estaduais e municipais. Sem formação sobre eles, os estudantes não terão acesso a conceitos e vocabulário fundamentais para a vida na sociedade contemporânea, marcada pela luta por igualdade entre homens e mulheres e o enriquecedor contato com as diferenças sexuais e de gênero. As discussões sobre gênero e orientação sexual favorecem a compreensão de direitos fundamentais e oferecem embasamento para que pessoas recusem e se protejam do preconceito e da discriminação, contribuindo assim para a construção de uma sociedade mais justa. A exclusão de conteúdos educacionais sobre gênero e sexualidade fere valores republicanos como direito à informação e livre expressão do pensamento, impedindo que que os jovens reflitam sobre desigualdades históricas e possam participar de modo qualificado do aprimoramento da democracia brasileira.

A oposição sistemática e autoritária de alguns ao que chamam de “ideologia de gênero” revela desconhecimento da consolidada produção científica nacional e internacional na área dos estudos de gênero e sexualidade. Gênero é uma categoria analítica que permite compreender e criticar desigualdades históricas entre homens e mulheres, assim como os processos discriminatórios que impedem a livre transitividade de gênero legando pessoas ‘trans’ a uma injusta e inaceitável subcidadania. As investigações sociológicas sobre sexualidade permitiram a compreensão de formas institucionais e cotidianas de discriminação e violência contra homossexuais, o que tem contribuído para a formulação de políticas públicas que visem garantir a esses sujeitos seus direitos humanos.

Impedir o acesso de alunas e alunos às teorias e pesquisas contemporâneas sobre gênero e orientação sexual e a propalada defesa da família proposta por segmentos de grupos de religiosos constitui indisfarçável ato obscurantista de censura ao acesso a informações de indiscutível validade científica. Cabe ressaltar que religiosos, das mais variadas crenças, tem se revoltado contra discriminações e desigualdades baseadas no gênero e na orientação sexual e não apoiam a restrição à propagação de conhecimentos sobre a temática.

Vedar a possibilidade de aprendizado sobre conhecimentos largamente comprovados na ciência contemporânea é uma medida obscurantista, incompatível com objetivos educacionais do país estabelecidos no próprio Plano Nacional de Educação (PNE), projeto de lei que define diretrizes e metas para a educação até 2020, dentre os quais destacamos: superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do país; promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental. Por essas razões, a Sociedade Brasileira de Sociologia vem a público expressar seu repúdio à supressão da menção às questões de gênero e orientação sexual no referido Plano, bem como a outras iniciativas similares que vem sendo tomadas em unidades da federação brasileira.

Sociedade Brasileira de Sociologia

Porto Alegre, 19 de junho de 2015.

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"É certo que as consequências, ao longo da história, têm atingido primeiro os grupos sociais mais vulnerabilizados pelo processo de construção da sociedade nacional, populações periféricas, negras e etnicamente diferenciadas. Mas a conta chega para todos. É hora de dizer basta ao negacionismo e às políticas econômicas míopes e submissas à lógica da acumulação primitiva."No artigo "Na contramão da Ciência", publicado pelo Jornal da Ciência, Andréa Zhouri, presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), e Edna Castro, presidente da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), questionam “Até quando a política e a economia estarão de costas para a sociedade e o meio ambiente?”#SociedadeBrasileiraDeSociologia #AssociacaoBrasileiraDeAntropologia #JornalDaCiencia #SBPC ... Ver maisVer menos
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"As enchentes catastróficas no Rio Grande do Sul chocam o Brasil. A crise instalada, cuja magnitude destrutiva não encontra precedentes na história, não é, contudo, um incidente inesperado. Ao contrário, os desastres ambientais deflagrados por eventos climáticos extremos já são uma realidade recorrente no país e revelam sua dimensão estrutural. Desde os anos 70, pelo menos, cientistas no mundo todo têm advertido sobre as mudanças climáticas, agora tratadas como emergências ou urgências."No artigo "Na contramão da Ciência", Andréa Zhouri, presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), e Edna Castro, presidente da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), questionam “Até quando a política e a economia estarão de costas para a sociedade e o meio ambiente?”.📌 Leia na íntegra em: www.jornaldaciencia.org.br/na-contramao-da-ciencia/#SociedadeBrasleiraDeSociologia #AssociacaoBrasileiraDeAntropologia #JornalDaCiencia #SBPC ... Ver maisVer menos
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Recém publicado no Jornal da Ciência, o artigo "Na contramão da Ciência", traz questionamentos de Andréa Zhouri (presidente da Associação Brasileira de Antropologia - ABA) e Edna Castro (presidente da Sociedade Brasileira de Sociologia - SBS), onde destacam a desconexão entre a retórica política e a realidade das mudanças climáticas, enquanto o país enfrenta consequências devastadoras.📌 Confira o artigo na íntegra em: www.jornaldaciencia.org.br/na-contramao-da-ciencia/#SociedadeBrasileiraDeSociologia #AssociaçãoBrasileiraDeAntropologia #JornalDaCiência #SBPC ... Ver maisVer menos
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