Camila Pierobon (IPP/CEBRAP),
Paula Lacerda (UERJ) e
Taniele Rui (Unicamp)
Neste post, as autoras Camila Pierobon, Paula Lacerda e Taniele Rui trazem os primeiros resultados da pesquisa que tem acompanhado de modo sistemático o cotidiano de famílias urbanas de baixa renda para compreender que tipos de efeitos sociais a pandemia de COVID-19 vem produzindo em suas vidas e quais decisões domésticas estão sendo tomadas para enfrentar os problemas que surgem no cotidiano.
Com a interrupção das aulas presenciais em escolas públicas há mais de 15 meses, na maioria das cidades brasileiras, as famílias organizam as crianças para estudo em casa, por meio de aplicativos de celular e/ou papéis impressos. O registro foi feito pela mãe das crianças, interlocutora da pesquisa, em Altamira, em outubro de 2020.
O advento da pandemia de COVID-19, em janeiro de 2020, pôs em xeque o principal instrumento de pesquisa que conhecíamos: o trabalho de campo in loco. Conforme a pandemia se tornava um fenômeno cada vez mais concreto, cresciam as dúvidas sobre o que faríamos neste contexto. Estávamos perdidas! Por um lado, desconhecíamos o que significava uma pandemia, quanto tempo ela duraria e como ela impactaria nossas vidas, por outro lado, nos parecia que tudo o que aprendemos sobre trabalho de campo estava em suspenso.
Vivíamos um sentimento de perplexidade quando, em maio de 2020, recebemos o convite das antropólogas Clara Han e Veena Das (Johns Hopkins University) para integrarmos a pesquisa “Implementation of COVID-19 related policies: Implications for household inequalities across five countries”. O convite, aceito com entusiasmo, além de acalentar nossas angústias, nos permitiu – pela primeira vez – uma experiência de pesquisa coletiva e articulada em nível nacional e internacional. Por isso, antes de tudo, agradecemos a confiança e generosidade de ambas, que tão bem vêm coordenando esta rede de pesquisa e nos ensinando sobre organização e trabalho em equipe.
A pesquisa consiste no acompanhamento sistemático do cotidiano de famílias urbanas de baixa renda, com a realização intercalada de entrevistas estruturadas e conversas informais via telefone e/ou por aplicativo de mensagens. Nosso objetivo é compreender que tipos de efeitos sociais a pandemia de COVID-19 vem produzindo na vida dessas famílias e quais decisões domésticas estão sendo tomadas para enfrentar os variados problemas que surgem no cotidiano. O trabalho vem sendo realizado no Brasil, Chile, Haiti, Coreia do Sul e Índia. No Brasil, acompanhamos 17 famílias que vivem nas cidades de Campinas, São Paulo, Rio de Janeiro, Belém, Altamira e Ariquemes. A equipe brasileira conta com pesquisadoras e pesquisadores da UERJ, UFRJ, UFRR, UNICAMP e CEBRAP[1].
A primeira fase da pesquisa foi financiada pela National Science Foundation e ocorreu entre agosto e dezembro de 2020. Através das entrevistas estruturadas, abordamos os seguintes temas: o trânsito de pessoas entre casas e cidades; a entrada e saída de dinheiro nas residências; a compra e circulação de alimentos e remédios; as doenças agudas e crônicas relacionadas ou não à COVID-19; as possibilidades ou dificuldades de acessar os sistemas público e privado de saúde; os contatos sociais realizados; como as pessoas se informam sobre a pandemia e, por fim, qual o nível de confiança nas informações recebidas.
Nas conversas informais, seguimos o fluxo dos acontecimentos na vida das nossas interlocutoras, em sua grande maioria mulheres negras, acompanhando suas preocupações diárias, bem como suas buscas para solucionar os problemas que surgem neste momento. Em geral, essas famílias provêm de relações estabelecidas em pesquisas prévias, mas também há casos de famílias contactadas pela primeira vez durante a pandemia. Nossas questões se direcionam à unidade doméstica, ou seja, às pessoas que residem na mesma casa, quase sempre relacionadas pelo parentesco. O acompanhamento semanal, a repetição das mesmas perguntas e a atenção às preocupações do dia a dia nos permitiu observar o que muda e o que permanece em suas vidas cotidianas.
Durante o primeiro semestre da pesquisa, a maioria das famílias passou a receber o Auxílio Emergencial[2], que se tornou a principal – quando não a única – fonte de renda das famílias analisadas. Uma das perguntas que fazíamos para nossas interlocutoras era se nos últimos quinze dias o status econômico da família havia melhorado, piorado ou permanecido o mesmo. Embora, por um lado, algumas famílias tenham reportado melhora imediata com o recebimento de parcelas do Auxílio Emergencial, por outro lado, a alta de preços, a impossibilidade de realizar “bicos” (especialmente para mulheres que trabalham como diaristas em outras residências) e o aumento nas despesas com água, gás e eletricidade decorrente da permanência na casa, tornou a vida ainda mais difícil para muitas famílias, especialmente aquelas mais numerosas e com crianças pequenas. Refazer as mesmas questões quinzenalmente também permitiu observar como a percepção do status econômico varia ao longo de um mês, sendo que, normalmente, a segunda quinzena implica em diminuição das despesas e contenção de gastos, como também maior acionamento das redes de ajuda.
Além das dificuldades em manter a vida cotidiana em termos econômicos, mas também sociais e sanitários, nossas interlocutoras enfrentaram alguns “momentos” (Han, 2012) e “eventos” críticos (Das, 1995). Nos primeiros meses da pandemia, quando a recomendação máxima era ficar em casa, algumas delas se viram impossibilitadas de dar continuidade aos tratamentos de doenças crônicas, outras estiveram submetidas a situações conflituosas dentro de casa que, em alguns casos, resultaram em violência doméstica e separação. Um caso extremo foi o assassinato de uma interlocutora, sendo seu companheiro o principal suspeito. Contudo, muitas delas não necessariamente conectavam estes eventos à “crise nacional”, embora soubessem que a pandemia agravava seus efeitos. Assim, nossas primeiras preocupações consistiram em compreender os sentidos abstratos e concretos de crise: o que é vivido como normal, o que é mais um problema cotidiano ou o que promove rupturas a ponto de ser vivido como um evento crítico.
No início, tínhamos alguma dificuldade em compreender qual o intuito de fazer as mesmas perguntas semana a semana, especialmente quando, no início da pandemia, poucas coisas pareciam mudar na vida diária. Contudo, o acompanhamento quinzenal das famílias e a repetição sistemática se mostraram um excelente modo de apreender o cotidiano. A cada aplicação do questionário, as dificuldades de realizá-lo foram diminuindo e fomos compreendendo a importância do acompanhamento de longa duração dessas famílias e o quão inovadora é essa metodologia de trabalho. Fazer as mesmas questões têm nos permitido comparar as respostas dentro das mesmas unidades domésticas, mas também com as outras famílias brasileiras e ainda com as respostas das famílias dos outros países envolvidos na pesquisa.
Ao mesmo tempo, essa metodologia inaugurou uma forma de acompanhamento do cotidiano à distância e tem permitido um seguimento longitudinal mediado pela tecnologia. O aplicativo WhatsApp, ao mesmo tempo que funciona como arquivo de conversas e fotos, tem mudado a natureza dos dados, na medida em que passamos a fazer parte do dia a dia das pessoas. Nossas interlocutoras começaram a nos procurar para conversar sobre temas variados, nos relataram sobre o estado de saúde dos familiares, sobre as brigas e discussões entre parentes e vizinhos, também nos pediram diversos tipos de ajuda. Em alguns casos, nossas interlocutoras nos incluíram nos grupos de WhatsApp que participam. O compartilhamento de experiências cotidianas mediada pela tecnologia é algo que pretendemos aprofundar em nossas reflexões.
A pandemia, porém, nos surpreendeu em sua duração. Quando percebemos que a pesquisa terminaria no momento em que o Auxílio Emergencial se encerrava, decidimos estender a aplicação das entrevistas e das conversas informais, mesmo sem financiamento. Com a suspensão e o posterior retorno do Auxílio Emergencial, dessa vez com valor reduzido, as famílias tiveram que adaptar suas vidas para enfrentar situações que pareciam provisórias e improvisadas, mas que se estenderam no tempo. Com o intuito de compreender os efeitos de longo prazo que a pandemia coloca na vida diária das famílias, estamos dando continuidade à realização da pesquisa durante todo o ano de 2021. Dessa vez, com a aplicação mensal das entrevistas estruturadas e mantendo conversas informais durante o período.
Embora a equipe que integra a pesquisa, por meio de estudos prévios e acúmulo teórico, já tivesse reflexões sobre a instabilidade do cotidiano como uma constante na vida das famílias de classes populares, o acompanhamento propiciado por essa investigação nos permitiu lançar um olhar ainda mais aprofundado e nuançado sobre o tema. De fato, acompanhar em profundidade e em perspectiva comparada o cotidiano de 17 famílias vem nos surpreendendo. A realização da pesquisa em diferentes contextos urbanos de distintas cidades do país, demonstra as formas múltiplas com que as determinações legais impactam o cotidiano das famílias e, especialmente, como se articulam com redes de relações e de poder. A decretação de bloqueio total (lockdown) em Altamira, uma cidade de médio porte no Pará, propiciou um fluxo de informações instantâneas no WhatsApp sobre quais itinerários eram possíveis de serem feitos para desviar da abordagem policial. O trânsito entre o contexto urbano e o rural foi intenso no cotidiano de famílias dessa cidade, seja como forma de ocupar as crianças, seja para garantir a alimentação. No Rio de Janeiro, as famílias que vivem do trabalho informal correram o risco de perder suas casas para os grupos armados presentes nos territórios, caso não conseguissem pagar as taxas por eles impostas. Em Campinas, moradores de uma ocupação urbana tiveram maior acesso a testes de COVID-19, devido à parceria entre a Unidade Básica de Saúde e a Unicamp.
Se a pesquisa propiciou surpresas sobre a compreensão de tendências locais, é preciso dizer também que o cotidiano das famílias de baixa renda, em todas as cidades e contextos pesquisados, é impactado pelos serviços públicos disponíveis, principalmente de saúde, educação e de assistência social. Assim, a suspensão das aulas presenciais nas escolas, a interrupção da visita domiciliar dos Agentes Comunitários de Saúde, o cancelamento de consultas médicas e a interrupção de tratamentos de saúde em andamento, impactou severamente o cotidiano das famílias. Como resultado, acompanhamos o agravamento de doenças crônicas e do estado de saúde de maneira geral, o que ampliou de forma dramática a ocupação de mulheres, especialmente aquelas implicadas em relações de cuidado em seus ambientes familiares e domésticos.
Em relação às políticas de assistência social, especificamente o Auxílio Emergencial, a pesquisa mapeou o fluxo de ações e relações que se fizeram necessárias diante da opção do Governo Federal de não utilizar os Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), que são estruturas públicas com centralidade nos bairros de baixa renda no país. Foram as mulheres, mais uma vez, que tiveram que aprender a manejar tais aplicativos, realizar cadastros seus e dos familiares, reunir documentação, algumas vezes recorrendo à ajuda de amigas e parentes com mais expertise em questões burocráticas e tecnológicas. Pretendemos refletir sobre os efeitos de curta e longa duração que a substituição de mediadores de acesso a direitos sociais como agentes comunitários de saúde e de assistência social por aplicativos eletrônicos provocará na subjetividade das pessoas, e na própria conformação dos serviços. O que já detectamos é que a dificuldade de acesso a aparelhos celulares, sinal de internet e até mesmo a contas bancárias, motivou o trânsito dessas mulheres entre casas, bairros e também cidades. Assim, quando a determinação máxima era o isolamento social, uma política pública da maior importância foi feita de forma que exigiu intenso contato e trocas de objetos entre pessoas.
No mesmo momento em que as mulheres buscavam meios para receber o Auxílio Emergencial, não havia campanhas públicas coordenadas que distribuíssem para a população itens de prevenção – como máscaras e álcool em gel – e mesmo informação. Notamos, em todos os contextos pesquisados, que foram os governos locais, mas sobretudo as associações comunitárias, as organizações não-governamentais, as igrejas e ainda as empresas privadas que realizaram ações públicas e campanhas de informação e de distribuição de insumos como cestas básicas e kit higiene. Contudo, com o prolongamento da pandemia, essas ajudas diminuíram drasticamente e o cenário de piora econômica tem sido duramente experienciado. Empréstimos e dívidas, gastos inesperados com medicamentos, aumento dos valores dos alimentos, bem como dos serviços de água, energia elétrica e do gás, além da diminuição de oferta e possibilidade de trabalho estão sendo vividos neste momento.
Esses fatores, analisados em conjunto, indicam a transferência da responsabilidade pública da gestão social e política de uma crise sanitária de escala global para os sujeitos. Nossa pesquisa revela como desigualdades estruturais na sociedade brasileira vêm sendo ativadas e agravadas por decisões políticas que afetam, sobremaneira, a vida da população mais pobre. Da mesma forma, nos interessa observar novos efeitos de longa duração, como é o caso das sequelas de pessoas acometidas pela COVID-19. Uma de nossas interlocutoras, por exemplo, desde que fora contaminada, necessita de medicação intravenosa mensal para conter as crises asmáticas. Com a pesquisa, esperamos demonstrar com detalhes os impactos da pandemia sobre a vida e o corpo da população mais pobre e como as pessoas elaboram formas de contornar as adversidades.
Para além das questões teóricas, metodológicas e políticas observadas, pesquisar o cotidiano de famílias que vivem em situação de pobreza e precariedade nos coloca uma série de dilemas éticos. Alguns pesquisadores estão com dificuldades de fazer certas perguntas previstas no survey pelo caráter delicado que as questões levantam. Dentre elas, está a pergunta sobre a entrada e saída de dinheiro na família que implica ao pesquisador saber que essa família está passando necessidades. Como agir ao sabermos que as pessoas com quem nos relacionamos estão passando por privações e, por vezes, fome? Em face às medidas de isolamento social, como nos comportar quando nossas interlocutoras perdem um ente querido e precisam de consolo? Que atitude devemos tomar quando as mulheres com quem conversamos são agredidas em casa? Qual deve ser nossa reação quando as entrevistadas nos enviam fakenews sobre a COVID-19 ou quando elas receitam remédios umas às outras que podem ter efeitos colaterais graves?
Longe de refletir apenas sobre dilemas éticos enfrentados por nós, nossas interlocutoras também vivem e deliberam, ordinariamente, sobre uma série de questões que envolvem escolhas difíceis. Como escolher entre fazer um “bico” para conseguir dinheiro e deixar os filhos sozinhos em casa? Quando há escassez de dinheiro, o que se torna prioritário, pagar o aluguel, a conta de telefone ou comprar o botijão de gás? Quem deve receber melhor alimentação, as crianças, os doentes ou os idosos da família? Qual dos filhos acompanhará a aula online quando só há um telefone celular na casa? Como escolher entre dar continuidade ao tratamento de saúde e arriscar-se a se infectar em transportes interurbanos e nos próprios serviços públicos?
Traçamos aqui alguns dos primeiros resultados e dilemas de pesquisa que estamos enfrentando ao estudar o impacto da pandemia na vida cotidiana de famílias de baixa renda no Brasil. O acompanhamento contínuo dessas unidades domésticas tem tornado concreto o que, num nível teórico, estamos aprendendo com Veena Das (2015): que o cotidiano não é mero pano de fundo para os ritmos básicos da vida, mas é o lugar onde a vida é tecida, política e eticamente.
Bibliografia
Das, Veena. (1995). Critical Events: An Anthropological Perspective on Contemporary India. Oxford: Oxford University Press.
Das, Veena. (2015). What does ordinary ethics look like? In: Lambek, Michael & Veena Das, Veena & Fassin, Didier & Keane, Webb. Four lectures on ethics: anthropological perspectives, Chicago: HAU Books, p. 53-125.
Han, Clara. (2012). Life in debt: times of care and violence in neoliberal Chile. Berkeley: University of California Press.
[1] A primeira fase da pesquisa contou com as pesquisadoras e pesquisadores: Camila Pierobon, Daniela Petti, Lis Blanco, Manuela Cordeiro, Marcella Araujo, Marcos Campos, Mariah Francisco, Paula Lacerda, Raquel Alonso, Silvio Rogério Santos, Taniele Rui e Thamires Baptista. Na segunda fase, passaram a integrar a pesquisa: Carolina Branco de Castro Ferreira, Isadora Lins França, Jaciane Milanezi e Letícia Ferreira.
[2] O “Auxílio Emergencial” trata-se uma política social que altera a Lei Orgânica da Assistência Social para implementar o tipo de benefício considerado como “medida excepcional de proteção social a ser adotada durante o período de enfrentamento da Covid-19”. Após embates nas câmaras legislativas a respeito do valor a ser concedido, o benefício foi aprovado em três parcelas de R$ 600,00 e esteve voltado a pessoas com as seguintes características: maiores de idade, desempregados/as (ou trabalhadores/as informais, microempreendedores individuais e autônomos), que não recebessem qualquer benefício social exceto Bolsa Família, com renda familiar mensal de no máximo meio salário mínimo e sem recebimentos superiores a R$ 28.559,70 em 2018. Para as mulheres desempregadas, chefes de família e com filhos o benefício foi de R$ 1.200,00.
Sobre as autoras:
Camila Pierobon
Pós-Doutoranda no Programa Internacional de Pós-Doutorado do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (IPP/CEBRAP). Bolsista FAPESP, processo: 2018/15928-2, a quem agradeço pelo financiamento que permitiu a pesquisa. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPCIS/UERJ). Suas áreas de interesse são: vida cotidiana, pobreza, gênero e habitação popular. Email: camilapierobon@cebrap.org.br
Paula Lacerda
Professora do Departamento de Antropologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Doutora em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS/MN/UFRJ). Suas áreas de interesse são: direitos humanos, estado, movimentos sociais, gênero e Amazônia. Email: lacerdapaula@gmail.com
Taniele Rui
Professora do Departamento de Antropologia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), pesquisadora do Núcleo de Etnografias Urbanas do CEBRAP e integrante da Comissão de Direitos Humanos da Associação Brasileira de Antropologia. Suas áreas de interesse são: pobreza urbana, política de drogas, antropologia do Estado e antropologia da saúde. Email: tanielerui@gmail.com
Pandemic effects in urban low-income family lives: preliminary notes
Camila Pierobon (IPP/CEBRAP),
Paula Lacerda (UERJ) e
Taniele Rui (Unicamp)
With the interruption of in-person public school attendance for more than 15 months in most Brazilian cities, families had to reorganize the dynamics of studying from home for their children, via phone apps and/or printed materials. The above photo is from one of the mothers, a research interlocutor, in Altamira. Dated October 2020.
The emergence of the global COVID-19 pandemic in January 2020 put on hold the main research methodologies we were familiar with: the in loco fieldwork. As the pandemic grew as a phenomenon ever more concrete, with it grew the doubts about what would we do in this context. We were lost! On the one hand, we didn’t know what a pandemic would mean, how long would it last and how would it impact our lives, while on the other, it seemed to us that all we knew about fieldwork was suspended.
We were living with a feeling of perplexity when, in May 2020, we received an invitation from anthropologists Clara Han and Veena Das (Johns Hopkins University) to join the research project, “Implementation of COVID-19 related policies: Implications for household inequalities across five countries”. The invitation, promptly and enthusiastically accepted, helped to ease our anguish and allowed us – for the first time – to experience a collective research project enacted and engaged at national and international levels. Thus, and before all else, we must state that we are immensely grateful for their trust and generosity. Being a part of such a wonderful opportunity has been incredibly rewarding, not only in the ways it serves to support our researchers project and greater interests, but also in its collective nature, excellent coordination, and space of community and comradery.
The research method itself was carried out through the engagement and systematic accompaniment of low-income urban families, specifically using structured interviews and informal conversations over the phone or through messaging applications. Our objective is to understand what kind of social effects the COVID-19 pandemic has been producing in the lives of these families and what domestic decisions are been undertaken in order to face the various problems arising daily as a result. The research sites include Brazil, Chile, South Korea and India. In Brazil, we work with 17 families living in the cities of Campinas and São Paulo in the state of São Paulo; Rio de Janeiro in Rio de Janeiro, Belém and Altamira in Pará; and Ariquemes in Rondônia. The Brazilian team includes researchers from the State University of Rio de Janeiro (UERJ), the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ), the Federal University of Roraima (UFRR), the University of Campinas (UNICAMP) and the Brazilian Center for Analysis and Planning (CEBRAP).[1]
The first phase (from August to December 2020) was funded by the National Science Foundation. Through structured interviews, we focused on the following themes: mobilities of people between households and cities; money income and expenses from the households; the acquisition and circulation of food and medications; the presence of acute and/or chronic diseases, either related or unrelated to COVID-19; the possibilities or resulting hardships related to access to public and/or private healthcare systems; any social contacts that occurred; and finally, how people kept informed about the pandemic, as well as the level of confidence they had in each source of information.
Through informal conversations, we followed the flow of day-to-day events in the lives of our interlocutors – most of them black women – accompanying their daily concerns, as well as their search for solutions to the problems that arose within this context. In general, we had previous contact with each family, established through earlier research projects, but the research also included some families engaged with for the very first time during the pandemic. Our questions focused on the domestic sphere, meaning they concentrated on those living in the same household, often connected by kinship. Weekly contact, the repetition of the same questions and an attention to day-to-day concerns allowed us to observe what changed and what remained the same throughout this time in the everyday activities, occurrences and concerns of the households.
During this first phase, most of the families begun to receive aid through the public program called, “Emergency Help,”[2] which became the main – if not only – source of income for many of the families included. One of the questions asked to our interlocutors included if in the last 15 days, the economic status of the household had got better, worse, or if it had stayed the same. On the one hand, some families reported an immediate increase in household income as a result of involvement in the Emergency Help program; however, resulting inflation, the impossibilities of informal work (especially women who worked in the domestic industry as cleaners in other households), and an increase in expenses for water, gas, and electricity due to longer periods in the home, many of the families’ lives were more difficult, especially those that included more people and those with small children. Asking the same questions biweekly also allowed us to observe how the perception of economic status varied during the same month, meaning that, usually the last two weeks implied a cost containment and recurrence to traditional assistance networks.
Besides the usual difficulties in day-to-day economic, social and sanitary needs, our interlocutors also faced some critical ‘moments’ (Han, 2012) and ‘events’ (Das, 1995). During the first months of the pandemic, when the main recommendation was to stay at home, some of them saw themselves facing the impossibility of attending to chronic diseases or involved in quarrelsome situations inside the home, while some even recounted of instances of domestic violence and divorce. An extreme case was the murder of one of the project’s interlocutors; her partner remains the main suspect. However, many of them didn’t connect these events to the “national crisis,” although they knew that the pandemic made things worse. Thus, our first concerns were about understanding the abstract and the concrete meaning of the term, crisis: what is lived as normal, what is another quotidian problem or what causes ruptures to the point of being lived as a critical event.
At the beginning, we encountered difficulties in understanding the purpose of doing the same questions repeatedly every two weeks, especially when, in the first weeks of research, few things seemed to change in daily life. However, the periodic questionnaire and its systematic repetition revealed an excellent way comprehend the everyday. Every time we offered the questionnaire, the difficulties of doing so diminished and we started to understand the importance of the long-term accompaniment with these families, as well as how innovative this methodology could serve to be. By asking the same questions, this allowed us to compare answers not only inside within the same households during time, but also across other Brazilian families, in addition to the families from other countries involved in the research.
At the same time, this methodology inaugurated a form of following the everyday from a distance and has allowed for a longitudinal study mediated by technology. WhatsApp, a direct message application, works both as an archive of pictures and conversations, while at the same time, is changing the nature of the data, insofar as we began to make it a part of the daily lives of our interlocutors. They started to look to us to chat about various issues, reporting about family and friends’ health conditions, quarrels and discussions amongst relatives and neighbors, and serving as a place of confidence in asking for all kinds of help. In some cases, our interlocutors included us in Whatsapp groups in which they participated. The sharing of these day-to-day experiences mediated by technology is something that we can focus on and deepen within our discussions.
The length of the pandemic, however, surprised us. When we realized that the research would come to an end in the exact moment when the Emergency Help program would be ending as well, we decided to extend the period of application of the questionnaires and the informal conversations, even without any funding. With the suspension and later reinstatement of Emergency Help, although with a reduced budget and financial allocations, the families had to adapt their lives again to face situations that seemed provisional and improvised at first, but that were ultimately very long-lasting. Attempting to understand the long-term effects that the pandemic has brought to the daily lives of these families, we have continued the research project throughout 2021. This time, the questionnaires are being applied monthly, with the informal conversations continuing as well.
Although the team integrating the research, through previous studies and theoretical repertoire, already had consolidated reflections about the instability of the everyday as a constant part of low-income familial life, the experiences of this research allowed us to look at these issues in even deeper and more nuanced ways. In fact, accompanying the day-to-day activities of 17 families in deep and in compared perspective has been surprising for us. The research occurs in different urban contexts and in different cities all over the country, and demonstrates the multiple ways through which legal determinations impact the families’ everyday lives, especially as they navigate networks of relationships and power. For example, the lockdown decree in Altamira, a mid-size city in Pará, resulted in an instantaneous flow of information through Whatsapp about how and where people could circulate in the city without been seen by the police. Transit between the rural and the urban was most intense for families from Altamira, either as a form of keeping children occupied or as a way of securing food supplies. In Rio de Janeiro, families that make a living from informal work were at risk of losing their homes to armed groups in occupied neighborhoods, in cases where they could not pay extortion demands imposed upon them. In Campinas, residents of an urban occupation had higher access to COVID-19 tests due to a partnership with the local Basic Health Unity and the University of Campinas.
If the research uncovered surprises in regards to understanding local tendencies, it is also important to say that the day-to-day of lower income families was impacted by the availability of public services – especially those related to health, education and social services – in every city and context researched. Thus, the suspension of in-person schooling and interruptions to visits from local community health agents greatly impacted families’ day-to-day lives and routines. As a result, we noticed the worsening of chronic diseases, and of health conditions in general. This dramatically increased the work of women, especially those implicated in care taking in their domestic spheres and familial environments.
Regarding the policies of social services, more specifically the Emergency Help, the government opted to register the population through mobile phone apps, instead of using the already established local Centers of Reference for Social Services (CRAS, as it is known in Portuguese), which are public structures prevalent in low-income neighborhoods. The burden of learning how to manage and use these apps fell again on women. They had to learn how to register themselves and their family, as well as gather and digitize documentation. To do so, it was often necessary to rely on other relatives and/or friends who were more experienced in bureaucratic and technological issues. We intend to reflect on the short- and long-term effects that this (technological) substitution of mediators for access to social rights – from community agents to mobile apps – will have in both peoples’ subjectivities and in the conformation of the services themselves. We have already noticed the difficulties in accessing mobile phones, internet, and even bank accounts, which has motivated the transit of these women between houses, neighborhoods, and even cities. Thus, when the maximum determination was to maintain isolation and social distancing, one of the most important public policies resulted in intense contact, exchange of objects among people, and the very movement of these people themselves.
While women were looking for ways to gain access to the Emergency Help program, there was no coordinated public information campaigns or distribution campaigns of prevention items, such as hand sanitizer, alcohol or masks. We noticed, in all contexts researched, that local governments played a relatively small role, while community associations, NGOs, churches and private businesses undertook responsibilities for the public actions and campaigns of these kind. However, with the pandemic lasting longer that initially expected, this external aid diminished drastically, and with it came the worsening of the economic situations amongst the families involved in the research. The scenario now is composed by loans, debt, unexpected expenses for medicine, and rising inflation on the prices of food, fuel, electricity and water services, together with a shortage of work opportunities.
All of these factors, analyzed together, indicate the transfer of the responsibility of the social and political management of a sanitary crisis in global scale from the public to the individual subjects themselves. Our research reveals how the structural inequalities in Brazilian society have been activated and aggravated by political decisions affecting mainly the lives of the low-income population. Furthermore, we are interested in observing the new long-term effects, as the case of people with COVID-19 sequelae. One of our interlocutors, for instance, needs monthly applications of intravenous medicine as a result of asthmatic crises, ever since she was contaminated. With this research, we expect to demonstrate in detail the impacts of the pandemic on the lives and bodies of poor people, and how people find ways to overcome such adversities.
Beyond theoretical, methodological and political questions, to research the everyday lives of families in situations of poverty and precariousness puts us in a series of ethical dilemmas. Some researchers are facing difficulties in making some of the questions of the survey questionnaire due to some delicate issues they raise. Among them, there is the question about income and household expenses. This means the researcher will know if the family is going through extreme situations including hunger and deprivations of all kinds. How do we behave and act when we know people with whom we are relating to are experiencing these kinds of problems? How does one behave when we know our interlocutors lose a beloved relative and need support in time of social distancing? What attitude should we take when the women we speak with are attacked at home? How we should react when our interviewee sends us fake news about COVID-19, or when they prescribe (unapproved) medications to one another that can cause severe side effects?
Far from just reflections on the ethical dilemmas we face, our interlocutors also live and deliberate, ordinarily, about a series of questions involving difficult choices. How does one decided whether to take an informal job to make money and leave their children alone at home? When there is a shortage of money, what is the highest priority: pay the rent or the gas bill to be able to cook? How should food be rationed inside the home and for whom does it go: children, elderly, or diseased? Which of the children will attend online classes when there is only one phone at home? How does one choose between continuing the treatment of someone with a chronic disease, risking themselves on public transports and in facilities, or to stay home without it?
We present here some of the first results of our research and the subsequent dilemmas we are facing while studying the impacts of the pandemic the daily lives of low-income families in Brazil. The continuous accompaniment with these households has made concrete what, on a theoretical level, we are learning with Veena Das (2005): the quotidian is not a mere background to the basic rhythms of life, but rather, it is the place where life is woven, ethically and politically.
Bibliography
Das, Veena. (1995). Critical Events: An Anthropological Perspective on Contemporary India. Oxford: Oxford University Press.
Das, Veena. (2015). What does ordinary ethics look like? In: Lambek, Michael & Veena Das, Veena & Fassin, Didier & Keane, Webb. Four lectures on ethics: anthropological perspectives, Chicago: HAU Books, p. 53-125.
Han, Clara. (2012). Life in debt: times of care and violence in neoliberal Chile. Berkeley: University of California Press.
* We are grateful to the generosity of Alexsander Gebara for translating this text and to Carlyn Rodgers for proofreading.
[1] The first phase of the research included: Camila Pierobon, Daniela Petti, Lis Blanco, Manuela Cordeiro, Marcella Araujo, Marcos Campos, Mariah Francisco, Paula Lacerda, Raquel Alonso, Silvio Rogério Santos, Taniele Rui and Thamires Baptista. In the second phase, Carolina Branco de Castro Ferreira, Isadora Lins França, Jaciane Milanezi and Letícia Ferreira joined the research team.
[2] “Emergency Help” is the name of a social policy that altered the law of social services to implement certain kinds of benefits which included “exceptional measures of social protection to be adopted during the period of COVID-19.” After difficult debate in the parliament regarding the monetary amount to be offered, approval was granted for beneficiaries to receive three installments of R$600 along the following guidelines: must be over the age of 18; must be unemployed or working informally and thus, not receiving any social benefit as from Bolsa Família; and must have a total household income of less than R$28,559.70 in the year of 2018 and household members receiving less than half the minimum wage. For unemployed women who are heads of households with children (and fulfilling all of the aforementioned conditions), the total could reached R$1200.00 per month.
About the authors:
Camila Pierobon
Post-Doctoral researcher at the International Post-Doctoral Program of the Brazilian Center for Analysis and Planning (IPP/CEBRAP). FAPESP grantee, process: 2018/15928-2, to whom I thank for the funding that allowed this research. PhD from the Postgraduate Program in Social Sciences at the State University of Rio de Janeiro (PPCIS/UERJ). Her areas of interest include: everyday life, poverty, gender and low-income housing. Email: camilapierobon@cebrap.org.br
Paula Lacerda
Professor in the Department of Anthropology at the State University of Rio de Janeiro (UERJ). PhD in Social Anthropology from the Postgraduate Program in Social Anthropology, National Museum, Federal University of Rio de Janeiro (PPGAS/MN/UFRJ). Her areas of interest include: human rights, the state, social movements, gender and the Amazon. Email: lacerdapaula@gmail.com
Taniele Rui
Professor in the Department of Anthropology at the State University of Campinas (UNICAMP), researcher at the Center for Urban Ethnographies at CEBRAP and member of the Human Rights Commission of the Brazilian Association of Anthropology. Her areas of interest include: urban poverty, drug policy, state anthropology and health anthropology. Email: tanielerui@gmail.com