Associações científicas defendem a legitimidade e o respeito às decisões da comunidade da FIOCRUZ

Publicado em 3 de janeiro de 2017

Manifestamos, por meio desta nota, preocupação quanto às notícias veiculadas na imprensa nacional dando conta de uma eventual não nomeação por parte das autoridades da República do nome da Dra. Nísia Trindade Lima para a presidência da Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ – pelos próximos 4 anos. A preocupação se justifica pelo fato de ter sido o nome de Nísia o mais sufragado (por significativa diferença de votos, da ordem de 20 pontos percentuais) em processo eleitoral caracterizado por ampla participação e debate, processo, portanto, dotado de forte legitimidade. Sem dúvida, por esta via, a FIOCRUZ teria alcançado o consenso mínimo necessário para a gestão que terá início em janeiro de 2017. A eventual nomeação da segunda colocada, neste sentido, teria como implicação inicial atingir frontalmente as condições de governabilidade interna da Fundação, com todas as consequências advindas de um cenário de conflito e instabilidade.

Pelo menos três motivos principais nos levam a vir a publico tendo em vista apelar para o bom senso e a responsabilidade das autoridades envolvidas no processo: a) a FIOCRUZ é uma instituição nacional e internacionalmente reconhecida por sua excelência nos âmbitos do ensino e pesquisa científica, básica e aplicada, com serviços essenciais prestados ao país nas áreas da saúde pública, ciências biológicas e políticas públicas. Sendo assim, trata-se de um patrimônio da sociedade brasileira cujo destino afeta a todos nós; b) a FIOCRUZ tem se caracterizado por possuir uma tradição de gestão transparente, democrática e competente, calcadas nos princípios da ética, do mérito e de sua função social precípua; c) a FIOCRUZ tem por principio trabalhar em paz, sendo distante de sua cultura interna o confronto, a instabilidade e a desconfiança mútua.
O país vive um quadro de grave crise econômica e de financiamento das atividades governamentais. O setor da ciência e tecnologia vive cenário particularmente desafiador, com ameaças de cortes em seus programas que significariam a extinção de projetos e programas da mais alta relevância para o desenvolvimento e a inclusão social. Fazer frente a este cenário deverá exigir maturidade de suas lideranças no sentido de se alcançar soluções cooperativas que nos permitam, na escassez, manter a excelência e a produtividade. O requisito básico de tais lideranças são os da legitimidade e do apoio interno de suas respectivas comunidades de origem, sendo esta a credencial decisiva de Nísia Trindade de Lima na FIOCRUZ neste momento.
Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) – José Ricardo Ramalho e Fabiano Santos
Associação Brasileira de Antropologia (ABA) – Antônio Carlos de Souza Lima
Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) – Renato Perissonoto
Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC) – João Cezar de Castro Rocha
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) – Ligia Bahia
Sociedade Brasileira de História da Ciência (SBHC) – Christina Helena da Motta Barboza
Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) – Carlos Benedito Martins

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